A Fiocruz Pernambuco vem concentrando esforços no desenvolvimento de novos testes diagnósticos para tuberculose (TB) que sejam eficientes, práticos, rápidos e acessíveis a toda população, sobretudo aos grupos mais vulneráveis e aos serviços de saúde do SUS. Essas ações fazem parte do Estudo de avaliação clínica e laboratorial de testes diagnósticos rápidos, point of care, de fácil uso e acessível em regiões com altos índices de tuberculose no Brasil e Índia. O projeto foi um dos seis, em todo o Brasil, aprovado e financiado na Chamada do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq (MS-SCTIE-Decit/CNPq Nº 33/2019) para pesquisas em tuberculose no âmbito dos Brics. Coordenado por Haiana Schindler, tem na vice-coordenação a pesquisadora Lílian Montenegro, que atua no mesmo departamento da Fiocruz Pernambuco.
Haiana explica que os testes diagnósticos para TB devem ser preferencialmente point of care (ponto de atendimento, em inglês), por ser uma doença altamente contagiosa, com o potencial de se espalhar rapidamente se não for diagnosticada e tratada precocemente. Os testes point of care agregam vantagens, como o fato de serem realizados no local de atendimento do paciente, que nem sempre precisa ser um serviço de saúde, permitindo que o diagnóstico seja feito rapidamente e o tratamento iniciado imediatamente. Além de serem mais simples e rápidos, exigindo menos recursos do que os testes tradicionais de laboratório.
A construção de uma plataforma de avaliação de testes diagnósticos point of care, com amostras não invasivas (urina e escarro) capaz de detectar de forma rápida a infecção, poderá gerar uma economia significativa para o Ministério da Saúde, uma vez que sua aplicação dispensaria estrutura laboratorial, podendo alcançar brasileiros que residem em regiões mais remotas. Ampliará o acesso ao diagnóstico precoce e eficiente, além de oferecer benefícios como fácil execução em campo e resultados de simples interpretação.
Um dos testes para o diagnóstico da tuberculose está sendo desenvolvido na Índia para ser validado no Brasil. “É um teste rápido, fácil e só precisa da urina do paciente com suspeita de tuberculose. Funciona da mesma maneira que um teste de gravidez, ou seja, em poucos minutos se obtém o resultado a olho nu”, comemora a cientista. Durante sua visita a Mumbai (Índia), em junho de 2022, a convite do colaborador indiano da pesquisa, Vinay Saini, diretor da Fundação TUMAAS & Startup e pesquisador sênior do Laboratório Nanobios, o protótipo foi testado e comprovada a sua eficiência.
Em contrapartida, uma equipe de cientistas brasileiros da Fiocruz Pernambuco e do Instituto Keizo Asami (Lika/UFPE), coordenada pelos professores José Luiz de Lima Filho e Emanuel Eusébio de Lima, está desenvolvendo um biossensor para o diagnóstico da tuberculose que será também validado na Índia e Brasil. Resultados preliminares já foram obtidos em um estudo piloto onde o dispositivo biossensor demonstrou alta sensibilidade em detectar DNA extraído de amostras clínicas de escarro de pacientes com TB.
Apesar da pandemia do Covid-19 ter dificultado ou impedido o cumprimento de várias etapas do projeto levando a um atraso considerável do seu cronograma, os protótipos do biossensor e do teste rápido de urina-TB estão praticamente prontos e provavelmente sua avaliação será iniciada a partir de agosto deste ano, em alguns estados (Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais) e nas cidades de Mumbai, Agra, Sewri e Surat, na Índia.
Com os primeiros resultados animadores obtidos com o desempenho dos dois testes, a próxima etapa será a produção em escala dessas tecnologias. Para isso devem ser estabelecidas parcerias com empresas brasileiras e/ou indianas para dar continuidade a validação multicêntricas dos testes, nos dois países. “Ao final da execução do projeto, pretende-se que sejam obtidos dispositivos tecnológicos validados no Brasil e Índia, para serem utilizados na detecção precoce da TB, em qualquer local que o paciente estiver, coletando amostras não invasivas (urina, escarro) e que possam ser incorporados ao SUS e ao sistema público de saúde da Índia e que sirva de modelo para outros países com situação epidemiológica e socioeconômica semelhantes”, conclui Haiana.
“O Brasil ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis por 82% do total de casos de tuberculose no mundo. Embora seja uma doença passível de ser prevenida, tratada e curada, cerca de 4,7 mil brasileiros morrem de TB todos os anos”, lembra. Pernambuco ocupa o quarto lugar em incidência de casos de tuberculose no país e o Recife está entre as capitais que têm o coeficiente de mortalidade maior do que o coeficiente do país. “É considerado o estado do Nordeste mais preocupante em relação ao controle da doença”, complementa.
A melhor forma de prevenção é fazer o diagnóstico precoce e iniciar o tratamento adequado o mais rápido possível. “Após 15 dias desse tratamento, o indivíduo já não transmite mais a doença”, informa Haiana. A pesquisadora lembra que a tuberculose é responsável por aumentar as condições precárias de saúde, sociais e econômicas, sobretudo nos países em desenvolvimento e nos grupos populacionais em situação de maior vulnerabilidade, que inclui crianças, populações indígenas, portadores de HIV/Aids, indivíduos privados de liberdade e pessoas em situação de rua.
A tuberculose é a segunda doença infecciosa mais mortal do mundo, atrás apenas da Covid-19. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), um terço da população mundial está infectada pelo seu agente causador, o Mycobacterium tuberculosis; portanto, em risco de desenvolver a doença. A OMS estima em dez milhões o número de doentes, dos quais um milhão morrem anualmente.