19/04/2023
A Fiocruz Pernambuco vem concentrando esforços no desenvolvimento de novos testes diagnósticos para tuberculose (TB) que sejam eficientes, práticos, rápidos e acessíveis a toda população, sobretudo aos grupos mais vulneráveis e aos serviços de saúde do SUS. Essas ações fazem parte do Estudo de avaliação clínica e laboratorial de testes diagnósticos rápidos, point of care, de fácil uso e acessível em regiões com altos índices de tuberculose no Brasil e Índia. O projeto foi um dos seis, em todo o Brasil, aprovado e financiado na Chamada do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq (MS-SCTIE-Decit/CNPq Nº 33/2019) para pesquisas em tuberculose no âmbito dos Brics. Coordenado por Haiana Schindler, tem na vice-coordenação a pesquisadora Lílian Montenegro, que atua no mesmo departamento da Fiocruz Pernambuco.
Com os primeiros resultados animadores obtidos com o desempenho dos dois testes, a próxima etapa será a produção em escala dessas tecnologias (Foto: Barcelona Institute for Global Health/ISGlobal)
Haiana explica que os testes diagnósticos para TB devem ser preferencialmente point of care (ponto de atendimento, em inglês), por ser uma doença altamente contagiosa, com o potencial de se espalhar rapidamente se não for diagnosticada e tratada precocemente. Os testes point of care agregam vantagens, como o fato de serem realizados no local de atendimento do paciente, que nem sempre precisa ser um serviço de saúde, permitindo que o diagnóstico seja feito rapidamente e o tratamento iniciado imediatamente. Além de serem mais simples e rápidos, exigindo menos recursos do que os testes tradicionais de laboratório.
A construção de uma plataforma de avaliação de testes diagnósticos point of care, com amostras não invasivas (urina e escarro) capaz de detectar de forma rápida a infecção, poderá gerar uma economia significativa para o Ministério da Saúde, uma vez que sua aplicação dispensaria estrutura laboratorial, podendo alcançar brasileiros que residem em regiões mais remotas. Ampliará o acesso ao diagnóstico precoce e eficiente, além de oferecer benefícios como fácil execução em campo e resultados de simples interpretação.
Um dos testes para o diagnóstico da tuberculose está sendo desenvolvido na Índia para ser validado no Brasil. “É um teste rápido, fácil e só precisa da urina do paciente com suspeita de tuberculose. Funciona da mesma maneira que um teste de gravidez, ou seja, em poucos minutos se obtém o resultado a olho nu”, comemora a cientista. Durante sua visita a Mumbai (Índia), em junho de 2022, a convite do colaborador indiano da pesquisa, Vinay Saini, diretor da Fundação TUMAAS & Startup e pesquisador sênior do Laboratório Nanobios, o protótipo foi testado e comprovada a sua eficiência.
Em contrapartida, uma equipe de cientistas brasileiros da Fiocruz Pernambuco e do Instituto Keizo Asami (Lika/UFPE), coordenada pelos professores José Luiz de Lima Filho e Emanuel Eusébio de Lima, está desenvolvendo um biossensor para o diagnóstico da tuberculose que será também validado na Índia e Brasil. Resultados preliminares já foram obtidos em um estudo piloto onde o dispositivo biossensor demonstrou alta sensibilidade em detectar DNA extraído de amostras clínicas de escarro de pacientes com TB.
Apesar da pandemia do Covid-19 ter dificultado ou impedido o cumprimento de várias etapas do projeto levando a um atraso considerável do seu cronograma, os protótipos do biossensor e do teste rápido de urina-TB estão praticamente prontos e provavelmente sua avaliação será iniciada a partir de agosto deste ano, em alguns estados (Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais) e nas cidades de Mumbai, Agra, Sewri e Surat, na Índia.
Com os primeiros resultados animadores obtidos com o desempenho dos dois testes, a próxima etapa será a produção em escala dessas tecnologias. Para isso devem ser estabelecidas parcerias com empresas brasileiras e/ou indianas para dar continuidade a validação multicêntricas dos testes, nos dois países. “Ao final da execução do projeto, pretende-se que sejam obtidos dispositivos tecnológicos validados no Brasil e Índia, para serem utilizados na detecção precoce da TB, em qualquer local que o paciente estiver, coletando amostras não invasivas (urina, escarro) e que possam ser incorporados ao SUS e ao sistema público de saúde da Índia e que sirva de modelo para outros países com situação epidemiológica e socioeconômica semelhantes”, conclui Haiana.
“O Brasil ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis por 82% do total de casos de tuberculose no mundo. Embora seja uma doença passível de ser prevenida, tratada e curada, cerca de 4,7 mil brasileiros morrem de TB todos os anos”, lembra. Pernambuco ocupa o quarto lugar em incidência de casos de tuberculose no país e o Recife está entre as capitais que têm o coeficiente de mortalidade maior do que o coeficiente do país. “É considerado o estado do Nordeste mais preocupante em relação ao controle da doença”, complementa.
A melhor forma de prevenção é fazer o diagnóstico precoce e iniciar o tratamento adequado o mais rápido possível. “Após 15 dias desse tratamento, o indivíduo já não transmite mais a doença”, informa Haiana. A pesquisadora lembra que a tuberculose é responsável por aumentar as condições precárias de saúde, sociais e econômicas, sobretudo nos países em desenvolvimento e nos grupos populacionais em situação de maior vulnerabilidade, que inclui crianças, populações indígenas, portadores de HIV/Aids, indivíduos privados de liberdade e pessoas em situação de rua.
A tuberculose é a segunda doença infecciosa mais mortal do mundo, atrás apenas da Covid-19. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), um terço da população mundial está infectada pelo seu agente causador, o Mycobacterium tuberculosis; portanto, em risco de desenvolver a doença. A OMS estima em dez milhões o número de doentes, dos quais um milhão morrem anualmente.