30/09/2013
Com o objetivo de conhecer as crenças, atitudes, práticas e percepção da mulher agricultora sobre os riscos à saúde e ambiente decorrentes do processo de cultivo do tabaco, bem como sua vulnerabilidade social em relação a essa atividade econômica, o Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde (Cetab) da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) desenvolveu a pesquisa Crenças, atitudes e práticas da mulher agricultora de tabaco em Palmeira - Paraná. O estudo evidenciou a complexidade dos problemas originados pelas inter-relações entre trabalho, saúde e ambiente no contexto da fumicultura. Os resultados da pesquisa apontaram aspectos como a elevada carga de trabalho do processo de cultivo de fumo, os agravos à saúde decorrentes da fumicultura, a violação dos direitos humanos, entre outros, como problemas decorrentes da inter-relação trabalho, saúde e ambiente.
Os resultados da pesquisa apontaram aspectos como a elevada carga de trabalho do processo de cultivo de fumo, agravos à saúde decorrentes da fumicultura e ausência de mecanismos que viabilizem a permanência das gerações futuras no campo e evitem o êxodo rural
Inserida na linha de pesquisa Saúde, trabalho e aspectos sociais e ambientais na produção do fumo, do Cetab, a pesquisa foi desenvolvida no município de Palmeira (PR). A escolha da região foi em virtude da predominância do modelo de agricultura familiar com expressiva produção de fumo. O município de Palmeira foi o maior produtor de folhas do estado em 2011. Outros fatores que contribuíram para a escolha da região foram a mobilização social dos trabalhadores rurais e a vontade política expressada pelo poder público local para conhecer e enfrentar os problemas relacionados à fumicultura.
Para Marcelo Moreno, pesquisador do Cetab que apresentou a pesquisa em um grande seminário realizado em Palmeira, em19 de setembro, direcionado à população, ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município e ao poder público municipal e estadual, “o envolvimento da mulher na fumicultura em todas as suas etapas representa uma fonte de informação relevante para o conhecimento das consequências para a saúde da família, sociais e ambientais desse cultivo e na obtenção de respostas para confrontar danos específicos dessa produção”.
A pesquisa contou com um grupo de 71 mulheres agricultoras do fumo e de lideranças comunitárias. De acordo com Marcelo Moreno, seis grupos foram formados com o intuito de entender a compreensão subjetiva das mulheres produtoras de fumo quanto à sua rotina diária. Os dados foram analisados a partir do desenvolvimento das categorias que mais descreveram e explicaram os fenômenos sociais relacionados ao tema e ao grupo participante. O estudo evidenciou a complexidade dos problemas originados pelas inter-relações entre trabalho, saúde e ambiente no contexto da fumicultura. Os resultados da pesquisa apontaram aspectos como a elevada carga de trabalho do processo de cultivo de fumo, agravos à saúde decorrentes da fumicultura, ausência de mecanismos que viabilizem a permanência das gerações futuras no campo e evitem o êxodo rural, a provável violação aos direitos humanos, principalmente em função das condições de trabalho injustas, como alguns dos problemas decorrentes da inter-relação trabalho, saúde e ambiente.
Segundo Moreno, as limitações de área nas propriedades para o cultivo de outros produtos ou a promoção de outras atividades laborais associadas à falta de garantia de mercado para o seu escoamento e a presença hegemônica da indústria fumageira, demostrando um nítido desequilíbrio de forças no processo de produção e relações de trabalho e renda com o agricultor, também foram apontadas como problemas da tríade trabalho – saúde – ambiente. “Com base nos resultados, foi possível destacar a necessidade de uma abordagem integrada e singularizada para o enfrentamento dos problemas do plantador de fumo, articulando os diversos saberes e experiências, principalmente dos trabalhadores, e distintos setores (como saúde, ambiente, trabalho e renda, agricultura, entre outros) por meio da proposição de políticas e do fortalecimento de ações públicas orientadas para a promoção e assistência à saúde dessa população específica”, apontou Moreno.
A pesquisa Crenças, atitudes e práticas da mulher agricultora de tabaco em Palmeira – Paraná foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Ensp, financiada pela Coordenadoria de Cooperação Social da Fiocruz e apoiada pela Prefeitura Municipal de Palmeira, Secretaria de Estado de Saúde do Paraná e o Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais e Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Palmeira (Deser).
Agricultoras do tabaco expõem seus problemas
Durante o seminário em Palmeira, a coordenadora do Cetab, Vera Luiza da Costa e Silva, fez uma apresentação sobre os mitos e verdades do tratado de controle do tabaco após a mesa de abertura do evento. A apresentação dos resultados da pesquisa foi feita pelo pesquisador Marcelo Moreno. Em seguida, houve o depoimento de duas agricultoras e uma agente comunitária de saúde que participaram da pesquisa. O seminário teve fim com a mesa-redonda "Possíveis ações e políticas para a melhoria das condições de saúde dos trabalhadores plantadores de fumo de Palmeira”, que contou com a participação da coordenadora do Cetab, Vera Luiza.
Dentre os encaminhamentos da mesa-redonda, a Secretaria Municipal de Saúde de Palmeira se comprometeu a estruturar a rede de saúde para a assistência aos trabalhadores do cultivo de fumo de acordo com suas peculiaridades, como intoxicação por agrotóxicos e doença da folha verde do tabaco. Também foi apontada a necessidade do desenvolvimento de ações para a diversificação da cultura do fumo. O seminário foi realizado em conjunto pelo Cetab, Prefeitura de Palmeira e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Palmeira. Por fim, Moreno comentou que Cetab foi convidado pela Comissão Nacional para a implementação da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco (Conicq) para apresentar os resultados dessa pesquisa na Reunião do Grupo de Trabalho Internacional sobre os artigos 17 e 18 da Convenção-Quadro de Controle do Tabaco, que será realizada em Pelotas (RS), entre 30 de setembro e 3 de outubro.
Além da apresentação no seminário em Palmeira, a pesquisa Crenças, atitudes e práticas da mulher agricultora de tabaco em Palmeira foi apresentada no evento Diálogos em Tecnologias Sociais, promovido pela Coordenadoria de Cooperação Social no campus da Fiocruz, na Mata Atlântica, também em 19 de setembro. A pesquisa foi financiada no âmbito do projeto Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologias Sociais em Saúde.