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25/07/2016

Pesquisa da Fiocruz investiga consumo de crack por mulheres

Ensp/Fiocruz


Analisar os significados desenvolvidos por profissionais de Consultórios na Rua da cidade do Rio de Janeiro sobre o consumo de crack por mulheres foi o objetivo da dissertação do aluno de mestrado em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Gilney Costa Santos. Ele explicou que, para os profissionais das equipes de Consultórios na Rua sobre o crack, essas definições são atravessadas por mitos, crenças e estereótipos, por vezes, ancorados na percepção empírica.

“O uso de crack mobiliza o imaginário social e, em torno dele, discursos, práticas e políticas são socialmente produzidos e compartilhados. Embora, nem sempre consensuais, tais produções conformam identidades e lugares sociais aos sujeitos.” Em relação à rede de atenção psicossocial, a pesquisa aponta que os serviços mostram-se insuficientes frente à complexidade que demanda o cuidado à saúde de usuários de álcool e outras drogas. No caso das mulheres que consomem o crack, quando não ficam invisíveis diante das políticas públicas de enfrentamento ao uso de crack, são reduzidas à esfera reprodutiva.

A pesquisa indica que amplo esforço deve ser empreendido no sentido de incorporar o referencial de gênero nas práticas de cuidado e na política de atenção à saúde desse/a usuário/a; expandir a rede de serviços de atendimento aos usuários; qualificar as práticas dos profissionais para lidar com a complexidade da prevenção e do tratamento dos usuários de crack, álcool e outras drogas; articular os serviços que compõem a rede da saúde e da assistência social para esse público. Por fim, é importante reorientar o modelo de atenção à saúde dessa população, segundo os princípios da redução de danos, destaca Gilney.

Orientado pelas pesquisadoras da Ensp/Fiocruz Patricia Constantino e Miriam Schenker, o estudo levantou dados produzidos a partir da realização de três grupos focais em três territórios onde atuam quatro equipes de Consultórios na Rua: um sob comando da milícia e do tráfico; outro marcado por projetos de reorganização do espaço urbano, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP); e o último se configura como território importante para o escoamento de produtos e serviços para economia da cidade.

Participaram da pesquisa 27 profissionais de saúde inseridos em equipes de Consultórios na Rua de nível médio, técnico e superior. No que se refere às relações de gênero, os dados apontam para a reprodução dos valores culturais e ideológicos, presentes no circuito “formal” da sociedade, nos espaços de uso do crack, e no setor saúde, explica Gilney. Nesse contexto, acrescenta o aluno, a rua é referida como um espaço que favorece a expressão do masculino, compelindo as mulheres a se masculinizar para lidar com as adversidades que o viver na rua impõe.

Saiba mais sobre o projeto Consultório na Rua.

Sobre o autor

Gilney Costa Santos é especialista em Saúde Pública pela Ensp/Fiocruz, com graduação em Psicologia com ênfase em Processos Clínicos e Saúde Coletiva.  Possui experiências em prevenção ao uso abusivo de substâncias psicoativas, atenção psicossocial, saúde da família, tendo integrado a equipe do Programa de Educação Pelo Trabalho em Saúde (Pet-Saúde). Dedica-se à pesquisa sobre HIV/Aids, maternidade e gênero. Sua dissertação, intitulada Os sentidos construídos por profissionais de saúde inseridos em equipes de Consultórios de Rua sobre o consumo de crack por mulheres, foi apresentada na ENSP em maio de 2016.

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