03/10/2023
Agentes comunitários de saúde (ACS) do Recife foram os convidados especiais do encontro realizado na Fiocruz Pernambuco na última sexta-feira (29/9). Recebidos com um café da manhã, música e poesia, eles puderam conhecer os resultados da pesquisa que avaliou os impactos da violência e da Covid-19 tanto em seus processos de trabalho como na saúde mental. Foi uma devolutiva do estudo realizado em quatro capitais (Fortaleza, Recife, João Pessoa e Teresina) e quatro cidades nordestinas (Crato, Barbalha, Juazeiro do Norte e Sobral), por mais de vinte pesquisadores de diferentes instituições. A coordenação geral é da pesquisadora da Fiocruz Ceará Anya Vieira Meyer, enquanto o pesquisador da Fiocruz Pernambuco Sidney Farias é o coordenador local.
O encontro foi prestigiado pela secretária executiva de Atenção Básica do Recife, Juliana Martins, que destacou a atualidade e pertinência da pesquisa. A gestora, que é egressa do doutorado em Saúde Pública da Fiocruz Pernambuco, declarou que o evento marcou o início de uma grande parceria, que inclui os ACS do Recife como protagonistas, no desenvolvimento de estratégias para fazer frente às dificuldades identificadas no estudo.
O diretor da Fiocruz Pernambuco, Pedro Miguel Neto, em sua fala na mesa de abertura, fez um pequeno histórico sobre o surgimento dos Agentes Comunitários de Saúde e do fortalecimento dessa atividade no Brasil. “Essa construção faz com que vocês (ACS) tenham uma importância fantástica para a força de trabalho do sistema de saúde como um todo. É aqui nesse espaço do município que é necessária a articulação da comunidade, do agente e dos serviços de média e alta complexidade. Vocês têm que ser porta de entrada do sistema, mas o sistema tem que entender que vocês são porta de entrada. E essa tem sido a grande dificuldade do SUS no Brasil”, declarou.
Em sua apresentação, a coordenadora geral da pesquisa trouxe os dados obtidos no Recife, onde foram entrevistados 320 agentes comunitários de saúde: 73% relataram já ter presenciado violência durante seu trabalho e mais de 50% já sofreram algum tipo de violência ao exercer sua atividade. Entre as maiores dificuldades para que os ACS desenvolvessem suas atividades, três se sobressaíram: o grande número de famílias a serem atendidas (49%); violência urbana (41%) e a pandemia (87%). “Esse resultado mostra que nosso objeto de pesquisa, aquilo que nós investigamos, faz sentido e é importante na prática, no sistema de saúde”, destacou Anya.
Em relação à Covid-19, mais de 60% atuaram na linha de frente, mas a grande maioria (90%), disse não ter recebido treinamento. 45% tiveram Covid-19 (dados de 2021) e 58% ficaram com sequelas da Covid-19 (covid longa). Os que consideraram que a Covid-19 modificou seus processos de trabalho foram 89%.
A partir do grande volume de dados coletados, a equipe da pesquisa sinalizou que a violência é uma realidade na vida diária das comunidades e dos ACS de Recife, que - assim como a Covid-19 - afeta o processo de trabalho e a saúde mental dos agentes de saúde. Os achados demonstraram que o efeito da Covid-19 no processo de trabalho dos ACS e equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) não ocorreu de maneira uniforme, intensificando-se nas áreas mais vulneráveis. Outra conclusão é que a prevalência de transtornos mentais e do uso de medicamentos para controle emocional aumentaram significativamente entre os ACS com a Covid-19. Para saber mais, acesse o site Rede Nós APS Brasil.
O fechamento do encontro foi realizado com a atividade em grupo Olhares Retratados: do individual ao coletivo, que teve o objetivo de fazer uma escuta dos agentes de saúde sobre os resultados da pesquisa. Nesse momento, os ACS compartilharam a importância em fazer parte de um estudo específico sobre a saúde, que vai além da não doença, e o impacto que a violência cotidiana causa na saúde mental dos mesmos. Também relataram se sentirem contemplados e valorizados com esse momento de escuta e partilha.