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30/10/2013

Pesquisador esclarece dúvidas sobre a catapora, doença que agora tem vacina disponível no SUS

Irene Kalil


Desde setembro, por meio do Programa Nacional de Imunização (PNI), o Ministério da Saúde (MS) passou a oferecer para o Sistema Único de Saúde (SUS) a vacina varicela (catapora) incluída na tetra viral, que também protege contra sarampo, caxumba e rubéola. A nova vacina compõe o Calendário Nacional de Vacinação e é oferecida exclusivamente para crianças de 15 meses de idade que já tenham recebido a primeira dose da vacina tríplice viral. Com a inclusão da vacina no programa, o MS estima uma redução de 80% das hospitalizações por varicela.

A doença, mais conhecida como catapora, é causada pelo vírus herpes zoster que acomete principalmente crianças. A forma mais comum de contágio é pelo contato dessa partícula viral – presente na saliva, espirro, tosse ou mesmo na fala – com a via inalatória ou a mucosa oral do indivíduo. A transmissão também pode acontecer por meio da inoculação direta, ou seja, quando as mãos têm contato com vesículas contaminadas de alguma pessoa doente e infectam a via aérea ou mucosa oral, ou indireta, pelo contato com roupas ou superfícies que foram utilizadas pela pessoa doente. Em entrevista para a Agência Fiocruz de Notícias, o pediatra e especialista em doenças infecciosas pediátricas do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) Leonardo Menezes esclarece dúvidas sobre sintomas, tratamento e prevenção da doença.

Pesquisador do IFF, Leonardo Menezes, esclarece dúvidas sobre sintomas, tratamento e prevenção da catapora (foto: Suely Amarante)

 

AFN: Quais os principais sintomas da catapora e como é feito o diagnóstico?

Leonardo Menezes: Normalmente, o paciente desenvolver vesículas ou bolhas, em geral, de conteúdo claro e com as bordas avermelhadas. Essas bolhas, que surgem na pele de todo o corpo, inclusive no couro cabeludo, boca e outras mucosas, aparecem em surtos, ou seja, várias ao mesmo tempo, vêm acompanhadas de febre baixa a moderada com duração média de quatro dias. Outra característica da doença é que ela é polimórfica, ou seja, o paciente tem lesões de pele em vários estágios diferentes ao mesmo tempo: vesículas com conteúdo claro, às vezes um pouco mais turvo e já com crostas secas. O diagnóstico da doença é, basicamente, clínico, embora exista a possibilidade de confirmação sorológica.

AFN: Qual o tratamento adequado?

Leonardo Menezes: Nas crianças pequenas, não é indicado qualquer tratamento, nem mesmo os conhecidos banhos de permanganato, que, quando mal diluído, pode causar queimaduras na pele e acrescentar morbidade à doença. O ideal é fazer a higiene adequada da pele, com água e sabão, durante o banho habitual, e cortar bem as unhas da criança para que ela não coce as vesículas e corra o risco de infeccioná-las. O tratamento específico com a medicação, que é o aciclovir, só é indicado em adultos ou pacientes acima dos 12 anos, pois a taxa de complicação da doença costuma ser maior. Em casos específicos, quando o paciente tem HIV, algum grau de imunossupressão ou outra comorbidade que faz com que ele manifeste uma varicela mais grave, é indicado o tratamento com aciclovir também em menores de 12 anos. Antitérmicos são indicados e deve-se lembrar de evitar ácido acetilsalicílico e ibuprofeno. Em algumas situações, pode-se lançar mão de medicações anti-histamínicas visando conter o prurido que acompanha as lesões de pele.

AFN: Quais são as principais complicações que podem acontecer em decorrência da catapora?

Leonardo Menezes: As infecções secundárias da pele são as complicações mais comuns associadas à catapora. A doença cria na pele uma porta de entrada para bactérias, que poderão causar infecções na mesma e também nas partes moles, podendo até atingir a corrente sanguínea, provocando infecções sistêmicas e invasivas. A pneumonite viral causada diretamente pela catapora também é temida. Crianças acima de 12 anos e adultos apresentam maior potencial para desenvolvimento dessa complicação grave. Além disso, pacientes imunossuprimidos podem apresentar doença disseminada, ter acometimento do sistema nervoso central, encefalite por varicela, entre outras complicações.

AFN: Como se prevenir?

Leonardo Menezes: Já existe vacina para a doença. Ela é relativamente nova, mas acaba de entrar no Calendário Nacional de Vacinação do SUS compondo a tetra viral, que também protege contra sarampo, caxumba e rubéola. Segundo o Ministério da Saúde (MS), na rede pública ela está disponível somente para crianças de 15 meses de idade que já tenham recebido a primeira dose da tríplice viral e deve reduzir cerca de 80% das hospitalizações por varicela. Além da dose que deve ser dada ainda no primeiro ano de vida, a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam o reforço da vacina entre os 4 e 6 anos de idade. Ele é importante para prevenir completamente a doença, pois a dose única gera, em alguns casos, uma imunidade que não impede que a pessoa manifeste a doença, ainda que numa forma mais branda.

AFN: Quem já está infectado pode tomar a vacina?

Leonardo Menezes: A vacina não tem qualquer efeito se dada em um paciente já infectado pelo vírus, pois não há risco de ter catapora mais de uma vez, salvo em raríssimas situações. O que pode acontecer é que, após a manifestação da catapora, o vírus fica em estágio de latência, não mais sendo eliminado do organismo. Em razão disso, algumas pessoas, por diversos motivos, podem desenvolver, geralmente numa etapa mais avançada da vida, o herpes zoster, que é uma reativação do vírus numa outra manifestação clínica.

AFN: Existem contraindicações para a vacina? Quem pode tomar?

Leonardo Menezes: Não existem contraindicações para a vacina, a não ser em casos específicos, como em alguns pacientes com HIV ou outros déficits de imunidade e em mulheres grávidas. Mas cabe ressaltar que, se a mulher não contraiu doença na infância ou não tem certeza de sua situação imunológica, é recomendável a vacinação antes de engravidar. Lembramos que, além de a infecção em adultos ser mais severa, existe a possibilidade de transmissão materno-fetal do vírus, que pode levar a defeitos congênitos no bebê, especialmente no primeiro trimestre de gestação. A literatura especializada também relata casos graves de varicela em neonatos quando a mãe desenvolveu a doença cinco dias antes ou até dois dias depois do parto. Então, se a mulher adoece no final da gravidez, isso pode ser um problema grave para a criança que vai nascer.

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