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06/02/2023

Pesquisadora da Fiocruz analisa o quadro de desnutrição das crianças yanomami

Gustavo Mendelsohn de Carvalho (Agência Fiocruz de Notícias)


Em meio às denúncias da trágica situação dos yanomami, as imagens de crianças desnutridas e doentes causam indignação e revolta. Artigos científicos recentes revelam que a desnutrição entre os yanomami é uma das mais graves do mundo, indicando déficits de peso para idade em torno de 50% e déficits de estatura para a idade em torno de 80%.

A nutricionista Fernanda Simões trabalha na área de Atenção Clínica à Criança e ao Adolescente do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), atualmente atua também na gestão da Coordenação Diagnóstica e Terapêutica de Nutrição. Nessa entrevista, ela analisa o quadro de desnutrição das crianças yanomami e aponta medidas emergenciais e estratégias de intervenção que podem contar com a colaboração da Fiocruz.

Como descreve o quadro de desnutrição infantil entre os yanomami?

Fernanda Simões: É visivelmente grave. As crianças têm sinais clássicos de subnutrição, como a diminuição de massa muscular e da camada de gordura corporal, pele ressecada e pálida, cabelos ralos, apatia, fraqueza, entre outros. A baixa estatura para a idade dessas crianças sugere um problema nutricional já crônico, que tem relação com o retardo de crescimento intrauterino, decorrente de uma possível assistência pré-natal insuficiente.
 
Quais as causas desse estado?

Fernanda Simões: A desnutrição de causa primária é devida basicamente à falta de alimentos em quantidade e qualidade suficientes para atender à demanda nutricional (em energia e nutrientes) da criança. Está evidente que na região temos essa questão de escassez de alimentos e água potável, resultado da destruição das florestas e contaminação dos rios.
Os quadros parasitários e infecciosos constantes, provenientes também das epidemias, podem agudizar a desnutrição, acentuando a perda de peso, tornando o quadro ainda mais grave (nos casos de diarreia, por exemplo).

Quais as medidas precisam ser tomadas emergencialmente? 

Fernanda Simões: No quadro de desnutrição severa, as crianças precisam de cuidados intensivos, preferencialmente em ambiente hospitalar, para que a melhor forma de alimentação seja ofertada, de forma lenta e gradual, evitando a síndrome de realimentação, distúrbio metabólico que pode ocorrer com a oferta muita rápida dos nutrientes.

Nos casos mais graves, estes pacientes devem receber alimentação por via parenteral (intravenosa) ou enteral (por sonda nasoentérica), com nutrientes adequados de forma a facilitar a sua digestão e absorção.

Quando a criança sair da situação de risco de vida e puder alimentar-se normalmente, deve-se garantir a oferta adequada e constante de alimentos saudáveis habitualmente consumidos. O IFF/Fiocruz pode ajudar por ser um Instituto de referência na produção de conhecimento e na atenção integral para a saúde da mulher, da criança e do adolescente, com profissionais capacitados no cuidado dessas crianças.
 
Que sugestões teria para prevenir e evitar que esta situação se repita? 

Fernanda Simões: O conhecimento ampliado do perfil alimentar e nutricional e seus determinantes, entre as crianças yanomami, é fundamental para o planejamento de estratégias de intervenção adaptadas à realidade local. Também deve ocorrer a estruturação dos serviços de saúde e de assistência para que o monitoramento e vigilância das condições nutricionais e a garantia do acesso pleno à alimentação adequada e saudável seja garantido, sendo a dificuldade de acesso à região um desafio para os gestores para esse monitoramento contínuo.

Além das questões já mencionadas, o Estado e organismos internacionais devem fortalecer as ações e políticas públicas já existentes no país, como a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) e a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, garantindo o Direito Humano à Alimentação Adequada, além de combater qualquer organização que venha desestabilizar esse processo.

Saude Indigena

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