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29/03/2022

Pesquisadora da Fiocruz fala sobre a PrEP injetável no Brasil

Juana Portugal (INI/Fiocruz)


Considerada a mais recente inovação para prevenção do HIV, a PrEP Injetável se mostrou altamente eficaz na redução de risco de infecção pelo vírus. O estudo de implementação do método é uma iniciativa pioneira no mundo. No Brasil, a iniciativa será coordenada pela médica infectologista da Fiocruz Beatriz Grinsztejn, chefe do laboratório de Pesquisa Clínica em DST e HIV do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).

Iniciativa será coordenada pela médica infectologista da Fiocruz Beatriz Grinsztejn (foto: INI/Fiocruz)

 

A pesquisadora conduzirá a implementação da Profilaxia Pré-exposição Injetável utilizando o Cabotegravir de ação prolongada. Beatriz coordenou a nível global o ensaio clínico HPTN 083 em parceria com Raphael Landovitz, professor associado da Divisão de Doenças Infecciosas da David Geffen School of Medicine, na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). O ensaio foi um dos estudos que serviu de base para o registro no FDA do Cabotegravir injetável para prevenção.

Em entrevista para o site do INI/Fiocruz, Beatriz comenta sobre o estudo de implantação que será financiado pela Unitaid, agência global de saúde ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS).

INI/Fiocruz: Como funciona a PrEP injetável?

Beatriz Grinsztejn: A PrEP injetável utiliza um medicamento chamado Cabotegravir de ação prolongada (CAB LA), um antirretroviral para a profilaxia pré-exposição que se mostrou altamente eficaz em prevenir a aquisição da infecção pelo HIV nas populações em que foi testado.

O indivíduo toma uma primeira injeção e, após quatro semanas, recebe uma segunda dose. A partir daí, utiliza uma injeção a cada oito semanas para prevenção da infecção pelo HIV.

INI/Fiocruz: Como foi confirmada a sua eficácia?

Beatriz Grinsztejn: O Cabotegravir foi avaliado em dois ensaios clínicos de fase III. O primeiro foi o HPTN 083, que aconteceu em 43 centros de pesquisa em sete países. No Brasil tivemos centros no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. O outro estudo foi o HPTN 084 que foi realizado em países na África subsaariana. Em ambos os estudos para diferentes populações vulneráveis o Cabotegravir se mostrou altamente eficaz na prevenção do HIV. As pesquisas foram realizadas no âmbito da rede de pesquisa HIV Prevention Trials Network (HPTN) com financiamento do National Institute of Allergy and Infectious Diseases/National Institutes of Health (NIAID/NIH) dos Estados Unidos.

INI/Fiocruz: Como será o novo estudo?

Beatriz Grinsztejn: Vamos testar o Cabotegravir de ação prolongada num estudo de implementação. O que isso quer dizer? O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas vai coordenar seis centros de pesquisa que são parte da rede de serviços de PrEP no [Sistema Único de Saúde] SUS e já participam de estudos do INI de implementação da PrEP oral em colaboração com a Unitaid no projeto ImPrEP. Nesse estudo de implementação será avaliada a viabilidade do uso da PrEP injetável no contexto do nosso Sistema Único de Saúde. O estudo será realizado no âmbito da colaboração da Unitaid com a Fiocruz e o Ministério da Saúde, e o Cabotegravir será doado pela GSK-ViiV.

INI/Fiocruz: Os locais estão definidos?

Beatriz Grinsztejn: O estudo será realizado em centros de pesquisa do Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Florianópolis, Salvador e Manaus.

INI/Fiocruz: Quando deve começar o estudo?

Beatriz Grinsztejn: Estamos em fase de preparação ainda. Dependemos de aprovações dos comitês de ética na pesquisa, do processo de registro, já em andamento na Anvisa, e do processo de importação do Cabotegravir.

INI/Fiocruz: Quanto tempo deve durar o projeto?

Beatriz Grinsztejn: A duração estimada é de dois anos.

INI/Fiocruz: Qual é o diferencial da nova estratégia?

Beatriz Grinsztejn: O Brasil já implementa no SUS a PrEP com a medicação oral, de uso diário, com Tenofovir e Entricitabina. O Cabotegravir injetável chega como uma opção que será muito útil para pessoas com dificuldade em aderir ao uso da PrEP oral diária.

INI/Fiocruz: Qual é a sua expectativa?

Beatriz Grinsztejn: A melhor possível. A prevenção do HIV ganhou uma nova estratégia que realmente pode fazer a diferença na luta contra a epidemia de HIV/aids. A PrEP injetável com Cabotegravir de ação prolongada é uma conquista sem precedentes e vai atender a necessidade de uma população vulnerável ao HIV com dificuldade de adesão à PrEP oral.  

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