09/08/2006
Fernanda Buarque
Na última terça-feira (05/07), a professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), uma unidade da Fiocruz, Adriana de Holanda Cavalcanti, foi contemplada com o Prêmio Sergio Arouca, por sua monografia Humanização do Sistema Único de Saúde. Provocações para a análise do processo de trabalho em saúde. A premiação foi entregue durante o 6° Congresso Nacional da Rede Unida, realizado no período de 2 a 5 de julho, na UFMG, em Belo Horizonte. Foi da capital mineira que a coordenadora do projeto As linguagens da arte e as práticas da humanização da assistência hospitalar, que integra o Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde Pública (PDTSP), desenvolvido pela Fiocruz, e inspirou-a na monografia premiada, concedeu esta breve entrevista. Adriana falou sobre seu estudo e questionou a aplicação de recursos humanos no trabalho hospitalar da saúde pública.
Fernanda Buarque/Fiocruz
Adriana de Holanda Cavalcanti |
Agência Fiocruz de Notícias: Qual a importância da realização de um prêmio como este para o Sistema Único de Saúde?
Adriana de Holanda Cavalcanti: Entendo que o prêmio é importante para destacar e compartilhar reflexões e questionamentos em relação ao sistema de saúde brasileiro. Reflete a busca por mudanças e propostas tanto para o processo de formação dos profissionais como para os trabalhadores que já estão envolvidos com os fazeres cotidianos da saúde.
AFN: Em que medida, acredita que sua monografia pode contribuir para a melhoria do SUS?
Cavalcanti: A monografia tem como centro de discussão e questionamento o distanciamento entre a Política Nacional de Humanização (PNH) e a Política de Recursos Humanos em Saúde. E tem como seu desdobramento o atravessamento das questões do cotidiano do trabalho hospitalar na saúde pública. Os questionamentos apontados acima interpelam e provocam o pensamento a colocar em análise os sentidos de uma política que tem em seu mote a produção da necessidade de humanizar um trabalho que é feito por homens. Por isso, apontando para esse isolamento entre humanização e as condições de trabalho na saúde, podemos abrir a possibilidade de desnaturalizar a proposta humanística que vem sendo produzida para o SUS, que vem desarmando os trabalhadores de se apropriarem dessa política como ferramenta de busca por melhores condições de trabalho e qualificação da assistência. Enfim, acredito que a monografia pode ser uma dessas ferramentas que se acionadas podem colocar em análise a concepção política de sociedade, de homem e trabalho que vem sendo produzida na história do SUS.
AFN: Como você vê a relação entre a prática da humanização e o trabalho do profissional de saúde público do sistema público?
Cavalcanti: No projeto que coordeno, que faz parte do Programa de Desenvolvimento Tecnológico da Fiocruz, temos nos perguntado o que é uma prática da humanização. O próprio projeto tem como objetivo implementar espaços de análise coletiva sobre a PNH. Espaços estes que serão construídos por trabalhadores, gestores e usuários de hospital. Acredito que o desenvolvimento do projeto pode apontar para a discussão do Trabalho em saúde no Brasil, pois sairemos das considerações gerais e distanciadas dos fazeres cotidianos. Com certeza a equipe do projeto será atravessada por esses sentidos do que seria humanizar o trabalho e principalmente os trabalhadores da saúde. E é assim que tenho visto a relação entre trabalho e humanização: com inquietações, com investigação, observação, questionamentos, tanto teórico quanto práticos do sentido unilateral de que humanizar significa apenas ser bom, solidário, evitar grandes filas, dar bom dia, saber ouvir respeitar o outro, significados que são tão recorrentemente produzidos pelo Ministério da Saúde. Me pergunto como e para quê. E o trabalhador que é o primeiro a ser desrespeitado nas condições em que trabalha? Por que as questões da área de recursos humanos não dialogam com as questões que produzem a demanda para que os humanos (trabalhadores) humanizem-se, assim como seu linguajar e seus espaços?
AFN: E no caso do sistema privado?
Cavalcanti: Não tenho muita possibilidade de tecer considerações sobre o sistema privado de saúde, principalmente hospitalar, em relação às práticas de humanização. Ainda não fiz investigações sobre o processo de trabalho por dentro desse sistema. Mas como uma provocação, penso no sistema hospitalar cubano, por exemplo, onde não existe essa temática, onde os profissionais da saúde, em seu processo formativo, antes de estagiarem em um hospital, começam seus estudos nos módulos de medicina da família, conhecendo a realidade do outro, o modo de viver, de dizer, de cuidar-se da população daquele país.
AFN: Pretende continuar trabalhando esse tema dentro da pesquisa acadêmica? Por quê?
Cavalcanti: Sim. O tema é centro de análise do projeto "As linguagens da arte e as práticas de humanização da assistência Hospitalar que faz parte do PDTSP-Fiocruz, que já citei anteriormente e que possibilitou que me debruçasse por tecer considerações na realização da monografia premiada.