Pesquisadores defendem prática Ubuntu no controle da pandemia

Publicado em - Atualizado em
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
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Uma palavra africana, Ubuntu, deveria guiar os líderes mundiais como um princípio para enfrentar a pandemia de Covid-19. A afirmação está no artigo Covid-19 pandemic, R&D, vaccines, and the urgent need of UBUNTU practice, publicada pela revista The Lancet Regional Health – Americas, em sua primeira edição. Esta palavra africana derivada da língua Bantu reflete a humanidade e a interconexão entre os seres humanos. Como exemplo, o texto destaca a urgência em estabelecer modelos alternativos para pesquisa, desenvolvimento (R&D) e produção de vacinas, garantindo seu acesso equitativo. Embora tenha ocorrido um rápido desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, o acesso a elas no mundo continua desigual em termos de distribuição econômica e geográfica. 

O artigo aborda outras recomendações para o enfrentamento da Covid-19, como programas de cooperação internacional na região com o objetivo de expandir sua capacidade científica e tecnológica em saúde, incluindo a produção de medicamentos, ingredientes farmacêuticos ativos, materiais essenciais para a saúde, kits de diagnóstico, equipamentos, juntamente com tecnologias sofisticadas de comunicação e informação; a incorporação de tecnologias para a produção de novas vacinas em acordos regionais, assim como integrar ciência básica, tecnologia e inovação para apoiar capacidades tecnológicas independentes. Isso tudo simultaneamente ao investimento em um Complexo Econômico-Industrial de Saúde regional. 

Assinado por dez pesquisadores brasileiros da Fiocruz, UFRJ, UFG e USP, o artigo cita duas instituições no Brasil, a própria Fundação e o Butantã, que estão envolvidas em acordos de transferência tecnológica para garantir o acesso imediato e a produção nacional autossuficiente e sustentável de vacinas anti-Covid-19, usadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). 

Nesse sentido, o artigo destaca a necessidade de uma ação coletiva, que deveria envolver o fortalecimento da vigilância, do monitoramento, da genômica e o aumento maciço dos investimentos em R&D. “Isso deve ser uma política de Estado em todos os países, e não oscilar em função dos diferentes governos”, diz o texto. 

O artigo também critica o estabelecimento de barreiras de exportação, mecanismos de proteção de patentes no contexto da pandemia, assim como a restrição da transferência de tecnologia para produtores em países menos desenvolvidos. “O mundo todo precisa ter acesso igualitário às vacinas e se beneficiar da tríade transformadora: educação, ciência e saúde, colocando as pessoas em primeiro lugar e não deixando ninguém para trás. Eu sou porque nós somos”, lembra o texto.  

Autores 

Sete dos autores do artigo são integrantes da Fiocruz, incluindo a presidente Nísia Trindade Lima. O texto é assinado também por Akira Homma, assessor científico sênior do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos); Carlos Augusto Grabois Gadelha, coordenador do Centro de Estudos Estratégicos Antonio Ivo de Carvalho (CEE); Marco Aurélio Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação; Beatriz de Castro Fialho, assessora-executiva da diretoria de Bio-Manguinhos; Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC); e Wilson Savino, pesquisador do IOC e coordenador de Estratégias de Integração Regional e Nacional.  

O artigo tem ainda entre seus autores Antônio Carlos Campos de Carvalho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Academia Brasileira de Ciências; Cristiana Maria Toscano, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e membro do comitê de especialistas em vacinas da Organização Mundial da Saúde (OMS); e Moisés Goldbaum, doutor em Saúde Coletiva pela Universidade de São Paulo (USP), na qual é orientador no Programa de Pós‐Graduação em Medicina Preventiva.  

Confira o artigo Covid-19 pandemic, R&D, vaccines, and the urgent need of UBUNTU practice