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11/11/2016

Pesquisadores discutem infecção por zika em adultos

Mônica Mourão (Agência Fiocruz de Notícias)


A mesa Zika Infection in Adults (Infecção por Zika em Adultos, em tradução livre), realizada nesta quinta-feira (10/11) na Academia Nacional de Medicina, como parte do evento internacional Zika, reuniu pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para abordar a infecção pelo patógeno em adultos, em especial sua relação com alterações neurológicas.

O pesquisador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ Rodrigo Delvecchio mostrou os resultados da cloroquina. A droga, que é hoje utilizada com segurança contra malária, inclusive em gestantes, conseguiu recuperar células semelhantes às do cérebro em formação infectadas pelo zika sem causar efeitos tóxicos, nos estudos em laboratório. Como ela é capaz de atravessar a placenta, poderia ser utilizada em gestantes para prevenir malformações no cérebro dos fetos. O trabalho utilizou a substância em diferentes modelos celulares com sucesso. “Sabemos que, no mundo, há várias implicações associadas ao vírus zika, inclusive os casos graves de microcefalia. Mas, até o momento, a gente não tem nenhuma terapia nem vacina. Então, como é uma situação bastante grave, que requer o desenvolvimento de uma terapia o mais rápido possível, uma abordagem é testar compostos que já são aprovados e utilizados com segurança”, explicou Rodrigo.

Já o professor de neurologia da UFF Osvaldo Nascimento compartilhou os achados relacionados às manifestações neurológicas associadas ao vírus zika. Ele destacou a necessidade de o médico estar atento ao diagnóstico da SGB associada ao zika, uma vez que somente 10% dos pacientes infectados pelo vírus apresenta o quadro exantemático agudo, além de os exames só detectarem alterações neurológicas relacionadas à síndrome após uma semana. Além disso, o professor ressaltou a importância em diferenciar Guillain- Barré e a polineuropatia infecciosa aguda. “A Síndrome de Guillain-Barré é um espectro de apresentações clínicas pós-infecciosa que causa, principalmente, alterações motoras, mas que também pode apresentar outros sinais e é uma resposta do sistema imunológico. Já a polineuropatia é um quadro durante a fase aguda da infecção que, em geral, evolui benignamente”, esclareceu ele.

Encerrando a mesa, o professor de microbiologia da UFRJ Alexandre Morrot, compartilhou o estudo, iniciado há poucos meses, sobre os auto-anticorpos anti-GD3 nos pacientes infectados por zika. Essas estruturas, funcionam como marcadores característicos do agravo  e podem levar a neuropatias em adultos, como a SGB, e em fetos. “ Tendo em vista que o gangliosídeo GD3 é expresso abundantemente em células-tronco neurais, é possível que reações autoimunitárias contra esse componente possam afetar a formação do tecido nervoso durante os primeiros meses da gestação”, explica ele. Segundo Alexandre, os auto-anticorpos representam um novo dano a células, que já sofrem com os efeitos da infecção pelo vírus zika: “ existe uma ação direta da infecção e uma ação indireta via sistema imunitário, agravando essa patologia. A presença de auto-anticorpos contra esses gangliosídeos, em última instância, vai agir sobre as mesmas células sobre as quais o vírus tem o potencial citopático (de alteração)”. 

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