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12/05/2016

Pesquisadores investigam a "normalização" da operação cesariana no Brasil

Blog da revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos


Mais de a metade dos partos hoje no Brasil é feita por cesariana, o que se deve, em grande parte, à “normalização” dessa prática principalmente a partir dos anos 1970, com a difusão de um estilo de pensamento sistematizado pelo médico Jorge de Rezende no seu livro Obstetrícia – um clássico da obstetrícia brasileira muito usado na formação de profissionais.

No artigo Cesárea, aperfeiçoando a técnica e normatizando a prática: uma análise do livro Obstetrícia, de Jorge de Rezende, Andreza Rodrigues Nakano, Claudia Bonan e Luiz Antônio Teixeira analisam o capítulo Operação cesariana de três edições do livro e discutem a apropriação e o desenvolvimento das técnicas de cesariana pelos médicos no Brasil no século 20. O artigo está publicado no número de História, Ciência, Saúde - Manguinhos, que trata de biomedicalização.

Ao longo de suas edições, o livro amplia o escopo da cesárea e apresenta-a como uma técnica potencialmente universalizável, não somente um recurso para as emergências obstétricas, como uma prática mais vantajosa do que o parto vaginal em inúmeras situações. Segundo os autores, a escola de Rezende vem moldando a formação e as práticas dos obstetras brasileiros, assim como percepções e aspirações coletivas mais gerais em torno do parto e do nascimento, parecendo se impor como norma.

“A cesárea, como um parto ‘normal’, manifesta normas que excluem a imprevisibilidade, o descontrole, o caos e os perigos associados à fisiologia do parto e atende a exigência de controle, disciplinamento e segurança, atributos associados às práticas técnicas e tecnológicas da biomedicina”, afirmam.

Para os autores, os textos de Rezende podem ser lidos como uma narrativa sobre as transformações do cenário do parto: seus ambientes, atores, objetos, tempos, rituais e modos de proceder. “O parto vaginal parece estar deslocado nesse cenário, representando uma antítese dos novos atributos da forma adequada de parir”, observam.

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