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07/05/2018

Política de drogas e violência são temas de encontro na Maré

Daniela Rangel (Agência Fiocruz de Notícias)


A Comunidade do Complexo do Alemão foi atingida por tiros em 72% dos dias de 2017. Thainã de Medeiros, do Coletivo Papo Reto, que atua no local, apresentou alguns dados da violência no Alemão na manhã do Encontro Territorial sobre Política de Drogas, Violência e Saúde, realizado no Complexo da Maré, nos dias 4 e 5 de maio. A abertura do evento, que aconteceu no Observatório de Favelas, contou com a presença da presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Nísia Trindade Lima, da coordenadora de Relações Institucionais e Articulações com a Sociedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Vanessa Berner, e de Kátia Nascimento, do Movimento Popular de Favelas.

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, abordou a necessidade da articulação de forças entre as instituições para enfrentar o problema da segurança pública (foto: Peter Ilicciev)

 

Nísia abordou a necessidade da articulação de forças entre as instituições para enfrentar o problema da segurança pública, especialmente no Rio de Janeiro, com o agravamento da violência causado pela intervenção militar. “Não se pode abordar a questão com a visão da guerra, que reforça a situação em que vivemos. O Estado atua, mas não na defesa de todos os moradores e, por isso, é importante agir onde há mais fragilidade, nas favelas”, afirmou. A representante do Movimento Popular de Favelas defendeu seu ponto de vista de quem vive em área de risco e contou que a dificuldade de qualquer trabalho é justamente como dialogar com o morador: “As mulheres se veem como sofridas e trabalhadoras, o desafio é trabalhar o diálogo, como chegar aos moradores e discutir os problemas, já que o Estado chega por meio da polícia, com violência e violação”.

Outros moradores de favelas participaram da primeira mesa do evento. Thainã de Medeiros, além do número de dias com disparo de tiros no Complexo do Alemão, divulgou que em fevereiro de 2017 houve tiros todos os dias do mês, enquanto janeiro e dezembro foram os meses que apresentaram a menor quantidade de disparos, com menos de 50% de dias dos dias com tiros. “O morador de favela sempre fala: quando chega o período escolar, começam os tiroteios, mas ninguém ouve. Os números que levantamos ao longo do ano passado mostram claramente isso”, explicou Medeiros. O ativista ressaltou que o Coletivo atua no sentido de fortalecer os moradores do Complexo para que consigam enfrentar a violência: “Nossa ferramenta é dar visibilidade às situações de violência, já houve casos em que fornecemos fotos e filmagens para que a Defensoria Pública montasse uma ação contra policiais”.

Além de Thainá Medeiros, participaram da discussão inicial do Encontro Eliana Sousa Silva, do Redes da Maré, e Elivanda de Sousa Silva, do Centro de Atenção Psicossocial (CAPSad) Miriam Makeba (em Ramos), que contaram suas vivências como moradoras e representantes de trabalhos importantes nas favelas. “A escola e o posto de saúde não significam necessariamente direito à educação e saúde nas favelas. E, mais importante, não se refletem em melhoria da qualidade de vida dos moradores dos locais pobres”, disse Eliana. Já Elivanda afirmou que a o problema das drogas ainda é pouco discutido: “A gente na favela está no meio das drogas, mas não se fala sobre isso por tabu, vergonha ou medo. Falta aqui uma instituição que fale com o adolescente, a família, o morador mesmo, sobre o assunto, porque em casa não vai haver diálogo sobre isso”.

O Encontro Territorial sobre Política de Drogas, Violência e Saúde foi o primeiro de outros que estão previstos para discutir a interconexão entre saúde, violência e política de drogas. Segundo o coordenador-executivo do Programa Institucional Álcool, Crack e Outras Drogas da Fiocruz, Francisco Netto, “é preciso incluir neste debate o uso abusivo das drogas legais, para as quais só há estímulo e o impacto negativo destas drogas muitas vezes é maior pela proibição do que pelo efeito da droga em si”.

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