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09/09/2020

Presidente da Fiocruz recebe título honoris causa da UFRJ

Claudia Lima (CCS/Fiocruz)


No encerramento das comemorações do centenário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a presidente da Fiocruz Nísia Trindade Lima e o compositor Noca da Portela foram homenageados em cerimônia virtual realizada na noite desta terça-feira (8/9). A presidente recebeu o título de professora honoris causa e o compositor, de doutor honoris causa, por decisão unânime e por aclamação do órgão máximo da instituição, o Conselho Universitário (Consuni) da UFRJ.

Saiba mais sobre a trajetória da presidente Nísia Trindade Lima.

Assista a cerimônia completa de outorga do título de professora honoris causa para a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
 
 

A titulação foi proposta pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. “Em nome deles, queremos homenagear todos os cientistas e todos os combatentes da cultura, que hoje tanto representam para o nosso país, nosso oxigênio e nossa alegria”, afirmou o professor titular do Museu Nacional José Sérgio Leite Lopes, na abertura da cerimônia. A reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, expressou sua emoção ao falar sobre a homenagem à presidente da Fiocruz. 

“É uma defensora da ciência e da democracia no nosso país, à frente dessa importante instituição de 120 anos, uma guerreira pela ciência e no enfrentamento à pandemia”, parabenizou a reitora. Servidora da Fiocruz desde 1987, Nísia Trindade Lima iniciou seu mandato como presidente da Fundação em 2017 e é a primeira mulher a ocupar o posto em 120 anos de história da instituição. Doutora em Sociologia, participa de programas e redes internacionais nas áreas de história da ciência e história da saúde. 

Reconhecimento

A conselheira e professora Maria Cristina Miranda leu o parecer elaborado para outorga do título à Nísia “por suas relevantes contribuições à ciência, à defesa da vida e de aportes originais em ciência e cultura”. O texto ressalta a importância da homenagem “no contexto em que, diante do negacionismo, dos cortes de verba para a ciência e a tecnologia, das agressões aos cientistas e das ações sistemáticas para inviabilizar as medidas de prevenção e de enfrentamento à Covid-19, a professora Nísia Trindade, em nome da Fiocruz, assumiu a liderança e o protagonismo em prol da ciência e da saúde pública e assim, o lugar de voz pública que referencia a tomada de decisões em tempos em que o medo do exercício da liberdade de expressão recai sobre as instituições”.

O parecer destaca a trajetória acadêmica de Nísia e sua liderança “serena e firme” como presidente da Fiocruz neste momento de pandemia, empenhada em promover ação integrada na Fundação e alianças com outras instituições nacionais e internacionais. “Sua atuação tem como marco a divulgação científica e o diálogo entre ciência e sociedade. Ao aceitar o desafio de ser presidente da Fiocruz, Nísia assumiu o compromisso (...) de promover educação e divulgação científica para a ciência, a saúde e a cidadania, valores fundamentais compartilhados pela UFRJ". 

“Sob a presidência de Nísia Trindade, a Fiocruz tem sido um bastião em defesa da ciência, com posições firmes contra tentativas de descrédito da ciência e da reputação de pesquisadores. Outorgar à Nísia Trindade Lima o título de professora honoris causa traduz o reconhecimento da UFRJ do seu trabalho acadêmico e o acolhimento de sua liderança científica. É também um ato político de ciência e de amor a todos os cientistas”, concluiu Maria Cristina Miranda, antes do pronunciamento da homenageada.

História

A presidente da Fiocruz cumprimentou todos, agradeceu e se declarou honrada com a homenagem. “Quanta emoção receber o título de professora honoris causa nessa casa de Minerva, a deusa grega da ciência, das artes e dos ofícios - uma representação feminina para a ventura do conhecimento, e que hoje se expressa também na sua representação maior, com a primeira reitora e, aqui, com a primeira presidente da Fiocruz”, iniciou. 

Ao acompanhar a abertura das comemorações do centenário da universidade, Nísia contou ter se emocionado muitas vezes. “Fiz um percurso pelos muitos laços que me unem a essa casa tão importante, de saber e de cultura. Em meu trabalho no campo do pensamento social no Brasil, pude avaliar, em pesquisa, a importância da UFRJ ao longo de sua história em diferentes campos do conhecimento, e sobretudo na construção de projetos para um país com mais equidade, justiça e cidadania”.

O pronunciamento de Nísia percorreu sua trajetória profissional, destacou as diversas intercessões com a universidade. “Acredito que sobretudo pela condição de ser presidente da Fiocruz, instituição que completou 120 anos em maio de 2020, me fez merecer essa honraria tão especial”, afirmou, para em seguida se lembrar da colaboração entre a Fundação e a UFRJ. “Destaco aqui o papel de Carlos Chagas na criação da cátedra de Medicina Tropical, em 1926, e os laços que unem a nossa instituição a Carlos Chagas Filho, que criou o Instituto de Biofísica e defendeu a ciência e tecnologia em muitas das ações da Fiocruz no contexto da luta pela redemocratização”.

Desafios

Algumas das atividades e atuações em comum foram citadas por Nísia Trindade Lima, destacou o pioneirismo da UFRJ na criação do parque tecnológico no Fundão. “Estamos juntos nas pesquisas relacionadas a testes moleculares; em diferentes áreas do conhecimento; e em cursos compartilhados – desde a área biomédica ao campo da saúde da família, saúde coletiva, humanidades e economia da inovação. A universidade é absolutamente indispensável para pensar a complexidade da saúde e, a partir dessa complexidade, se dá a nossa colaboração”, afirmou.

A presidente da Fiocruz enumerou os desafios no enfrentamento da Covid-19 para as duas instituições parceiras – ambiental, demográfico, persistência das desigualdades, biotecnologia; do campo do trabalho; e do complexo econômico e social da saúde. Destacou também o desafio da informação e da comunicação, “que nos colocam questões éticas e para a nossa sociabilidade que terão que ser parte da agenda de pesquisa”. 

Para a presidente da Fiocruz, um dos pontos ressaltados no parecer de outorga do título foi especialmente importante. “Gostei de ver que a questão democrática, tão cara à minha vida, à minha experiência, foi acentuada, porque é o enfrentamento da questão democrática que permitirá que pensemos melhor os caminhos da ciência, da educação e do desenvolvimento sustentável em nossa sociedade”, discursou. 

Esperançar

Nísia falou da necessidade de investimentos em saúde, educação, ciência e tecnologia e reafirmou o papel fundamental das instituições em momentos de crise. “Não podemos deixar de comemorar, mesmo em momentos de pandemia, e é por isso que comemoramos o centenário da UFRJ. Agradeço à casa de Minerva por me conceder um dos títulos mais significativos na minha trajetória. Dedico àqueles que lutam pela liberdade de pensamento e de educação, pela excelência da pesquisa socialmente relevante”, disse. 

A presidente leu em seguida uma estrofe do samba Recordar é viver, de Noca da Portela em parceria com J. Rocha, Edir e Poly: “A Portela vem/ tão bela, oi, tão bela/ Colorindo a passarela/ Com pedaços de alegria/ Traz na mente a saudade/ No peito, a esperança/ Voa águia em sua liberdade/ Abre as asas da esperança”.

“Para mim, a águia sempre lembra o condor de Castro Alves, poeta preferido do meu pai. E as asas da lembrança são também as asas da esperança”, afirmou. “Quero concluir a minha saudação e meu profundo agradecimento à universidade dizendo que hoje essa é a nossa tarefa maior, daqueles que defendem a ciência, a educação, a cidadania, a democracia: a nossa principal tarefa é o esperançar, é o agir com esperança. Transformar a esperança em uma ação transformadora”.

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