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27/10/2016

'Prevenção' marcou encerramento de seminário sobre álcool

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


Na tarde de terça-feira (25/10), a última mesa-redonda do Seminário Internacional Álcool, Saúde e Sociedade teve como tema Promoção da saúde, prevenção e cuidado, e contou com as participações da coordenadora do Departamento de Prevenção da Junta Nacional de Drogas do Uruguai, Victoria González, do assessor para Álcool e Outras Drogas da Superintendência de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Rodrigo Simas, e do professor Marcelo Cruz, do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ipub/UFRJ). O moderador foi o consultor nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS) Daniel Elia. Cruz iniciou as intervenções do painel convidando a plateia a debater o conceito de dependência e as ações de redução de danos.

Ele começou fazendo uma análise histórica do uso de drogas. Até o século 18 a utilização dessas substâncias era considerada uma questão moral e, portanto, sua repressão ficava a cargo da Igreja e do aparato policial. A partir do final do século 18 e início do 19 passa a ser encarada como doença. “O que não foi necessariamente um avanço, já que a teoria da degenerescência explicava o adoecer pela biologia. O problema é que usar apenas esse modelo biológico não dá conta da complexidade da questão”, afirmou Cruz. A interpretação contemporânea, lembrou o professor, não pode abrir mão da multidisciplinaridade para entender, abordar e enfrentar o problema, com o auxílio da psicologia, da psicanálise e da sociologia.

De acordo com Cruz, atualmente há diversos modelos sendo aproveitados, como o jurídico-moral, o médico (que justifica intervenções com medicamentos), o psicológico (que alivia conflitos e mal-estar), o sócio-cultural. “É preciso que integremos os modelos para entender melhor a questão e saber como apresentar melhores resultados no tocante à redução de danos. Posturas extremas, de um lado ou outro, não resolvem satisfatoriamente o problema. Ainda existe muita confusão a respeito do tema redução de danos”.

Para o professor do Ipub, “a complexidade e gravidade dos problemas envolvidos convocam ações da sociedade que incluem amplo espectro de atividades, indo da prevenção à repressão, passando pela definição de práticas de assistência e a atuação dos sistemas jurídico e educacional. Esta diversidade de práticas e problemas exige a ação de atores sociais de formação diversificada, como é o caso dos profissionais responsáveis pelo cumprimento das leis, profissionais de saúde, educadores, religiosos, familiares de usuários de drogas, ex-usuários, usuários atuais etc. As questões discutidas envolvem aspectos técnicos, éticos, políticos, sociais e culturais. E dentro de cada área de conhecimento pode haver enorme diversidade de formação, como é o caso das diferenças de formação entre profissionais de saúde como médicos, psicólogos e assistentes sociais”. Cruz lembrou ainda que “a redução de danos constitui uma estratégia de abordagem das questões relativas ao uso de drogas que não pressupõe a extinção delas, seja no âmbito do coletivo seja no de cada indivíduo, mas que formule práticas que diminuam os danos para aqueles que as usam e para aqueles com quem convivem”.

Prevenção contra drogas no Uruguai

A coordenadora do Departamento de Prevenção da Junta Nacional de Drogas do Uruguai, Victoria González, fez um balanço da atuação do órgão, que é vinculado à Presidência daquele país. Além de tecer considerações sobre a política pública de drogas uruguaia, considerada uma das mais arrojadas do mundo, ela também pontuou o funcionamento da Junta e as ações de prevenção feitas no Uruguai. “A Junta é um organismo interministerial. Todos os ministérios atuam de maneira integrada no colegiado. No entanto, é evidente que existem divergências na sociedade. Nem todos são favoráveis, por exemplo, à regulação e ao controle da maconha. Não apenas das pessoas que são contrárias a essa política mais liberal quanto até mesmo alguns usuários, que não admitem ser registrados pelo Estado, por julgarem que serão controlados em algum momento. Não existe consenso total. A luta política continua. Mas acredito que o Uruguai deu um passo significativo na questão e está na vanguarda mundial do tema”.

Victoria lembrou ainda que a legislação uruguaia assegura acesso à saúde integral, como direito fundamental dos usuários de drogas, entre elas o álcool. O governo desenvolve ações no sistema educativo e mantém um grupo multisetorial que coordena ações a respeito de bebidas alcoólicas, entre jovens, no trabalho e nas famílias.

Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas

Rodrigo Simas, assessor para Álcool e Outras Drogas da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS/RJ), disse que a cidade tem apenas 7 Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPSad), quando deveria ter 30. Os CAPSad atendem aos usuários de todas as idades, oferecendo cuidado clínico contínuo e acolhimento noturno. Contam com equipe interdisciplinar que trabalha na perspectiva de portas abertas (sem necessidade de encaminhamento anterior) e oferece diversas atividades individuais e coletivas, promovendo a autonomia do sujeito e sua reinserção social.

“Os governos do Rio de Janeiro têm demonstrado pouco interesse no tema e mantêm diálogo quase nulo com os profissionais da área”. Simas elogiou o trabalho consistente que vem sendo feito pelo RAP da Saúde, uma iniciativa da Coordenação de Políticas e Ações Intersetoriais da Superintendência de Promoção da Saúde da SMS/RJ. O grupo, constituído por jovens e adolescentes, é responsável por disseminar o conhecimento sobre questões ligadas à saúde e mobilizar as comunidades, organizando encontros e oficinas para a troca de informações, o que inclui questões relativas ao uso de álcool.

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