Uma delegação de congressistas americanos e representantes do governo dos EUA em Brasília visitou a Fiocruz para conhecer e acompanhar o andamento de projetos que receberam financiamento daquele país. Entre eles estudos sobre tuberculose, HIV/Aids e Covid-19. Ao longo da visita, nos dias 3 e 4 de abril, o grupo percorreu unidades, fábrica e laboratórios da Fundação, participou de reuniões e levantou informações sobre o que foi feito e o que ainda pode ser construído com o financiamento vindo do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e do National Institute of Health (NIH). Alguns projetos, por exemplo, seguem em fase de renovação de financiamento. A vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, Patricia Canto, fez uma apresentação institucional da Fiocruz.
Durante dois dias, a delegação dos EUA conheceu laboratórios e participou de reuniões na Fiocruz(Foto: Peter Ilicciev)
A delegação americana foi composta por funcionários do Congresso, representantes do Departamento de Saúde e Serviços Humanos e do CDC. O grupo tinha como objetivo destacar as parcerias na colaboração em saúde com instituições brasileiras e as conquistas que melhoraram os resultados de saúde no país e na região.
“A Fiocruz é um parceiro incrivelmente importante para o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, incluindo o CDC, onde trabalho, mas também para o NIH. Conseguimos grandes coisas juntos e esses dois dias de visita nos permitiram compartilhar com a equipe do Congresso o impacto das conquistas. Essa parceria com certeza gerou um impacto muito positivo no Brasil, na região e no mundo”, disse Alison Kelly, do Escritório Regional América do Sul do CDC em Brasília.
Nos Estados Unidos, as principais alianças da Fiocruz se concentram no NIH, que oferece apoio financeiro a diversos projetos de pesquisa por meio de seus institutos. O CDC também mantém parceria com unidades da Fiocruz, além de várias universidades americanas. Atualmente, há dois convênios com o NIH vigentes: um estabelecido em uma carta de intenções em maio de 2014 com término em maio deste ano, e outro de colaboração com o Instituto René Rachou (IRR/Fiocruz Minas), iniciado em dezembro de 2018 até dezembro de 2023.
Projetos que receberam financiamento
Os congressistas visitaram primeiro as instalações do Instituto Nacional de Infectologia (INI/ Fiocruz), que reúne uma série de projetos beneficiados pelo financiamento do NIH. Um deles é voltado para a rede de pesquisa em tuberculose no Brasil e o outro para a rede de estudos em HIV/Aids no Caribe, América Central e América do Sul. A delegação também se reuniu brevemente com pesquisadores da Fundação que fazem parte do projeto de pesquisa colaborativo entre cientistas do Rio de Janeiro e de São Francisco, nos Estados Unidos, sobre HIV com foco em uma intervenção baseada em tecnologia para homens jovens que fazem sexo com homens [1].
Ainda no âmbito da pesquisa em HIV, eles visitaram o Laboratório de Pesquisa Clínica em IST e Aids e o de micobactérias e Tuberculose. Na sequência, foram ao Centro Hospitalar.
A delegação foi apresentada ao Vacina Maré, projeto que recebe financiamento do CDC desde o início e é uma iniciativa da Fiocruz em parceria com a Redes da Maré e a Prefeitura do Rio de Janeiro com o principal objetivo de estimar a efetividade da vacina contra a Covid-19 e o impacto da pandemia no território. Na ocasião, foram informados resultados do trabalho e perspectivas de futuro, visando a continuidade do financiamento [2].
O pesquisador da Fiocruz que liderou os estudos na comunidade, Fernando Bozza, explica que o CDC já apoiava um projeto que ele coordenava e, quando veio a pandemia, aplicou o Vacina Maré para o financiamento e, assim, recebeu uma uma suplementação de verba. “Tive a oportunidade de apresentar para eles o projeto e eles ficaram interessados especialmente na parte das coortes. Hoje o CDC apoia integralmente a coorte sobre longa Covid-19”, diz ele. “O CDC tem sido um super parceiro e a nossa ideia agora é transformar o que é o projeto hoje numa plataforma de pesquisa voltada para questões de vigilância, comunicação e informação".
Outro projeto apresentado aos congressistas foi o da Rede Genômica Fiocruz, que reúne especialistas de todas as unidades da Fundação e de institutos parceiros que se empenham em gerar dados sobre o comportamento do Sars-CoV-2 por meio da decodificação do genoma viral. A iniciativa recebeu financiamento do CDC de 2021 até o início de 2022, em um período determinante de entrada da variante Gama no país.
Como explica a chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Marilda Siqueira, a verba do CDC foi uma “verdadeira resposta à emergência”. Ela explica que a verba visava, principalmente, ampliar a capacidade genômica da iniciativa, de análise dos vírus circulantes no país e da introdução e distribuição das novas linhagens no país. “Foi um financiamento muito importante para o estabelecimento de metodologias em vários laboratórios da Rede Genômica Fiocruz”, afirma Siqueira. “Nós estamos agora em discussão para a renovação e submetemos um novo projeto ao CDC”.
Outra área visitada pelo grupo foi o Laboratório de Hepatites Virais e o Ambulatório de Hepatites Virais do IOC/Fiocruz, que recebem financiamento do NIH. Como explicou a pesquisadora do ambulatório Lia Lewis-Ximenes, o NIH vem financiando o projeto há alguns anos e essa verba foi importante para auxiliar no pagamento das bolsas de estudo, na contratação de equipe técnica, para a compra de insumos, como testes rápidos, auxílio do transporte para os pacientes, entre outros benefícios. O grupo fez ainda uma breve visita ao Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz).
A delegação também esteve no Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), onde se reuniu com o pesquisador Pritesh Lalwani para conhecerem mais sobre o andamento do projeto que ele coordena sobre Covid-19. O projeto, voltado para o estudo da durabilidade da resposta imune após doses de reforço da vacina, é um estudo longitudinal prospectivo iniciado em agosto de 2022 com o apoio do CDC por um ano.