O papel da ciência, da tecnologia e da inovação sobre as políticas de saúde de países em desenvolvimento foi o tema da última conferência do Simpósio Internacional Comemorativo do Centenário da Descoberta da Doença de Chagas, que terminou nesta sexta-feira (10/7), no Hotel Sofitel, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Após introdução do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, a conferência foi proferida pelo diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz) e ex-diretor de Programa de Doenças Tropicais (TDR/OMS), Carlos Morel. "Desenvolvimento traz saúde. Ninguém duvida. Mas investir em saúde é importante inclusive de um ponto de vista estritamente econômico: saúde também traz desenvolvimento", disse o conferencista.
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Morel: foco na inovação em saúde (Fotos: Gutemberg Brito/IOC) |
Morel destacou como a doença de Chagas é um problema que atinge as Américas, especialmente o Brasil. Ressaltou, também, a importância da inovação em saúde para combater esse problema, sublinhando o papel que a articulação em rede e as parcerias público-privadas desempenham nesse sentido. Em relação ao trabalho da Fiocruz, citou algumas iniciativas de sucesso, tais como a parceria com a Genzyme, empresa privada com a qual a Fundação firmou um acordo de pesquisa e desenvolvimento para doenças negligenciadas. Em doença de Chagas, as ações do acordo incluem a identificação de possíveis alvos contra o Trypanosoma cruzi por meio de ferramentas de genômica e bioinformática e a síntese de pequenas moléculas com potencial terapêutico. "As duas instituições estão se fortalecendo com esse intercâmbio", garantiu Morel.
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Cerca de 750 participantes acompanham as atividades do simpósio (Foto: Gutemberg Brito/IOC) |
Após a conferência, houve a cerimônia de encerramento do simpósio, marcada pela entrega de medalhas aos autores dos melhores pôsteres apresentados durante o evento, em 11 categorias: História, Ecoepidemiologia, Vetor, Parasitos, Saúde, Patogênese, Resposta imunológica, Vacina, Terapia, Diagnóstico e Educação. Os trabalhos foram julgados pelo comitê científico do simpósio e por especialistas convidados das respectivas áreas temáticas. Pesquisadores da Fiocruz foram contemplados em 14 dos 23 trabalhos premiados, em nove das 11 categorias. Para conhecer os trabalhos premiados, clique aqui [1].
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Dos cerca de 300 pôsteres apresentados durante o simpósio, 23 foram premiados em 11 categorias |
Durante a cerimônia de encerramento, também houve homenagem ao comitê científico do simpósio e entrega de certificados aos vencedores do prêmio Centenário da descoberta da doença de Chagas: um toque de arte, promovido pela Fiocruz. A imagem vencedora, intitulada Montanhas vivas, é de autoria de Helene Santos Barbosa e Rubem Menna-Barreto. O segundo lugar ficou com Gutemberg Brito, pela imagem Hematofagia em perspectiva. E a terceira imagem classificada foi a Triatoma tibiamaculata: um vetor negligenciado da doença de Chagas mostra a sua cara, de autoria de Cleber Galvão Ferreira. Os três premiados são do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
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Comitê científico do simpósio foi homenageado ao final do evento |
Na tarde de sexta-feira, especialistas do Brasil e do exterior apresentaram abordagens promissoras sobre vacinas e novas terapias contra a doença de Chagas. A parte da manhã foi marcada por palestras sobre os mecanismos da doença de Chagas, o possível papel de micróbios co-infectantes além do Trypanosoma cruzi na cardiopatia chagásica crônica e os aspectos celulares e genéticos envolvidos nas respostas imunológicas ao parasito. Houve, ainda, uma conferência sobre novos alvos celulares para desenvolvimento de drogas contra a enfermidade. Cerca de 750 participantes acompanharam as palestras, conferências, mesas-redondas e apresentações de painéis que abordam a temática da doença em seus variados aspectos.
O simpósio discutiu novidades a respeito de fármacos, tratamentos, possíveis vacinas e outras abordagens científicas de ponta. Mas também serviu de palco para que os pacientes chagásicos, em geral pessoas pobres e que enfrentam preconceitos, transmitissem o seu recado e apresentassem a luta que travam contra a enfermidade. As duas associações de pacientes presentes ao evento anunciaram a organização, em outubro, de uma reunião que dará partida à constituição de uma federação que congregará as instituições, que se mantêm com dificuldades.
Cerimônia de encerramento premia melhores trabalhos apresentados no simpósio [1]
Associações de pacientes se unem para combater preconceitos e reivindicar [2]
Outros microrganismos infectantes, além do T. cruzi, e tecido adiposo podem ter papel importante na doença de Chagas [3]
Eficácia do tratamento de pacientes chagásicos crônicos é debatida por especialistas [4]
Nova linhagem ancestral do T. cruzi é apresentada em palestra [5]
Trabalho analisa aspectos do comportamento sexual do Triatomas brasiliensis [6]
Transmissão da doença de Chagas por meios alternativos é alvo de estudos [7]
Estudos genéticos podem ajudar a prever a cardiomiopatia em chagásicos [8]
Qualidade de vida para pacientes chagásicos [9]
O paradoxo da fotofobia dos vetores da doença de Chagas e suas consequências [10]
Trabalhos trazem novos conhecimentos sobre comportamento dos triatomíneos [11]
Estratégias de combate ao vetor da doença de Chagas [12]
Pesquisador argentino traz experiência de duas décadas no estudo de barbeiros [13]
Pesquisador venezuelano discute novas drogas para a doença de Chagas no último dia do simpósio [14]
Leia textos publicados em 9 de julho sobre o simpósio internacional [15]
Leia textos publicados em 8 de julho sobre o simpósio internacional [16]
Leia textos publicados em 7 de julho sobre o simpósio internacional [17]
* Colaboraram Pamela Lang e Ricardo Valverde
Publicado em 10/7/2009.