Organizada pelas pesquisadoras da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Simone Gonçalves Assis e Joviana Quintas Avanci, e Cristiane S. Duarte, da Colúmbia University, a edição de novembro de 2015 [1] (vol. 20 n. 11), da Revista Ciência & Saúde Coletiva, foca especificamente nos dilemas da saúde do adolescente: questões associadas ao desenvolvimento físico através da alimentação e dos cuidados com a saúde oral; presença de problemas mentais como depressão, decorrentes do bullying e de outras formas de violência; e a temática da desigualdade social que permeia a qualidade de vida. O tema da sexualidade, em especial da masculinidade, também está presente. De todos os adolescentes brasileiros (45 milhões entre 10 a 19 anos), os mais frágeis estão na Região Nordeste, onde a pobreza e os dados de frequência escolar desnudam a desigualdade social e de oportunidades.
Segundo o editorial da Revista [2], é comum se encontrarem referências à população adolescente como aquela que menos adoece ou menos procura os serviços de saúde. Contudo, hoje, os adolescentes entre 15-19 anos engrossam as estatísticas brasileiras de violência, apresentando elevadas taxas de mortes. Além disso, o uso abusivo de drogas, a vivência na rua, a exploração do trabalho, a vida escolar deficiente para a profissionalização futura, as doenças sexualmente transmissíveis e as gestações não planejadas são temas de extremo interesse para o país. Aproximadamente 11% das internações hospitalares no Brasil são de jovens nessa faixa etária, em especial por duas causas: gravidez precoce e acidentes e violências.
Pelo menos três entraves estão presentes na abordagem dos adolescentes no cotidiano dos serviços de saúde, de acordo com as pesquisadoras: o precário acesso ao atendimento público; a dificuldade dos profissionais em lidar com assuntos polêmicos, como questões ligadas à sexualidade; e a falta de reconhecimento dos profissionais de saúde de que também é sua a tarefa de formação dos jovens como cidadãos.
Estado nutricional e distribuição de gordura corporal em crianças e adolescentes com Fibrose Cística [3], artigo de autoria de Célia Regina Moutinho de Miranda Chaves, Ana Lúcia Pereira da Cunha, Roseli de Souza Santos da Costa, Speranza Vieira Lacerda, do Instituto Fernandes Figueira; e Ana Carolina da Costa, da Ensp/Fiocruz, avalia a distribuição de gordura corporal por meio da absorciometria de duplo feixe de energia, do estado nutricional por estatura/idade e índice de massa corporal/idade e a ingestão dietética pelo recordatório alimentar de 24 horas, em 56 pacientes com idade entre 8 e 18 anos. Aproximadamente 50% da amostra apresentou estado nutricional adequado. A maioria apresentou a ingestão calórica e de lipídios inadequada. O artigo indica que pacientes com fibrose cística devem associar a avaliação antropométrica à composição corporal e à distribuição de gordura corporal para um diagnóstico mais precoce de desnutrição e fatores de risco cardiometabólico.
No artigo Entre evidências e negligências: cobertura e invisibilidade de temas de saúde na mídia impressa portuguesa [4], os pesquisadores Aline Guio Cavaca, Paulo Roberto Vasconcellos-Silva, da Ensp/Fiocruz, Patrícia Ferreira, João Arriscado Nunes, da Universidade de Coimbra, Portugal, analisam a divulgação midiática da saúde em Portugal a fim de problematizar as questões da cobertura e invisibilidade dos temas de saúde, as quais apontariam temas midiaticamente negligenciados. Para tanto, foram comparadas a cobertura de saúde do Jornal Público com o contexto epidemiológico sobre as prioridades de saúde e as percepções dos atores-chave acerca da divulgação midiática e dos temas relevantes à população portuguesa. Evidenciou-se, nos resultados, que os temas ligados à saúde mais recorrentes na mídia portuguesa não se referem às doenças propriamente ditas, mas às políticas e à economia da saúde e medicamentos. Foram identificados como temas midiaticamente negligenciados no contexto lusitano as doenças transmissíveis, como as hepatites e a tuberculose; questões relacionadas à saúde mental e ao suicídio; as enfermidades e consequências sociais da crise econômica que assola o país e, a partir da percepção dos comunicadores entrevistados, as doenças negligenciadas, a hemocromatose e demais doenças raras.