18/03/2011
Cristiane Albuquerque
Recentemente, o projeto Identificação Molecular de Parasitas e Vetores do Brasil foi aprovado no edital Apoio à Identificação Molecular da Biodiversidade do CNPq. O projeto, que contou com o apoio da Vice-Presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, constitui um dos nove grupos de trabalho que compõem a Rede de Pesquisa de Identificação Molecular da Biodiversidade Brasileira (BR-Bol), cada um deles dedicado ao estudo de um determinado grupo taxonômico (micro-organismos, animais, plantas, dentre outros). Integram a iniciativa 40 pesquisadores de quatro unidades da Fiocruz – Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR) e Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane (CPqLMD).
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O objetivo do grupo é identificar molecularmente vetores e parasitos por meio da geração de “códigos de barras de DNA” para milhares de espécimes, como os sifonápteros. Acima, imagem de pulga, inseto da ordem dos sifonápteros (Foto: Entomogesp) |
O IOC terá papel preponderante no grupo de trabalho Identificação Molecular de Parasitos e Vetores do Brasil em virtude da disponibilização de parte do acervo de suas coleções biológicas. O objetivo do grupo de trabalho consiste em identificar molecularmente vetores e parasitos por meio da geração de “códigos de barras de DNA” (sequências de um fragmento do gene mitocondrial citocromo oxidase 1) para milhares de espécimes de moluscos, ixodídeos, sifonápteros, helmintos, flebotomíneos, simulídeos, ceratopogonídeos, triatomíneos, culicídeos, tripanossomatídeos e fungos. Além disso, o IOC estará representado também no Grupo de Trabalho de Tetrapoda, com a participação do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios.
Fernando Araújo Monteiro, pesquisador do Laboratório de Genética Molecular de Micro-Organismos do IOC e coordenador do projeto, falou sobre a importância da rede. “A BR-Bol vai contribuir para identificação de espécies, por meio de estudo de códigos de barra de DNA, com diversas aplicações, inclusive para a investigação de espécies ameaçadas e endêmicas”, ressaltou. “A criação um banco de dados brasileiro vai trazer para o IOC tecnologia e conhecimento que serão empregados para identificar geneticamente patógenos e vetores”, completou.
“Este tipo de abordagem já vem sendo adotado com sucesso por alguns dos mais importantes museus do mundo e representa uma inovação que revolucionará a maneira como se faz taxonomia nos dias de hoje. Esta metodologia possibilitará a identificação de qualquer espécime de nossa biodiversidade, por qualquer pessoa, de qualquer lugar do país. Será, portanto, uma iniciativa que contribuirá para a democratização da taxonomia”, explicou. “Existe uma expectativa positiva com respeito à formação de recursos humanos, frente ao novo curso de pós-graduação em biodiversidade e saúde do IOC, que certamente incorporará alunos cujos projetos terão ênfase em taxonomia. Os alunos terão a oportunidade ímpar de receberem uma formação integrada, no sentido de aprender conceitos e vivenciar experiências tanto de taxonomia clássica como de sistemática molecular. Da mesma forma, acredita-se que alunos do programa de pós-graduação em biologia computacional e de sistemas do IOC possam vir a contribuir na análise de dados e desenvolvimento de scripts e programas de bioinformática”, destacou.
Pesquisador do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios do IOC, Pedro Cordeiro Estrela, explicou que com o projeto de identificação de tetrápodes o IOC atuará no sequenciamento de cerca de mil roedores coletados pelos laboratórios de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios e de Biologia de Tripanosomatídeos, ambos do IOC e integrantes do serviço de referência em taxonomia e diagnóstico de mamíferos silvestres reservatórios de leishmanioses, e pelas secretarias de Saúde dos estados.
“A maioria dos estudos realizados por esses laboratórios é conduzido em áreas de ocorrência de doenças parasitárias, como a doença de Chagas, hantaviroses e leishmanioses.”, destacou. “O diagnóstico taxonômico é um procedimento complexo que envolve a utilização de diferentes técnicas de análise morfológica qualitativa e quantitativa, citogenética e molecular. Com a técnica do barcoding, estes diagnósticos taxonômicos serão realizados de forma padronizada, com mais qualidade e desenvolvendo um padrão internacional que permita análises comparativas com outros continentes”, concluiu o pesquisador. O projeto contará, ainda, com o apoio do Polo de Biologia Computacional e Sistemas da Fiocruz, que ficará responsável pelas análises de bioinformática das sequências de DNA (barcodes) produzidas.
Publicado em 17/3/2011.