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16/03/2016

Qualidade da água é problema grave em comunidade do Rio

André Costa (Agência Fiocruz de Notícias/AFN)


Cerca de 75% da água comercializada em galões na comunidade de Rio das Pedras, no município do Rio de Janeiro, está contaminada por bactérias nocivas que podem causar problemas gastrointestinais graves. Este é um dos resultados do estudo que diagnostica as condições de saúde da localidade, apresentados na terça-feira (15/3), em evento no Columbia Global Center, no centro do Rio. A pesquisa, desenvolvida conjuntamente por pesquisadores da Fiocruz, da Universidade de Columbia (EUA) e do Núcleo de Cidadania e Pesquisa de Rio das Pedras, investigou as condições de saúde na comunidade, atentando para fatores como a qualidade da água e do saneamento, a mobilidade, o acesso ao atendimento de emergência e o lixo.

A pesquisa está atualmente disponível na forma de um livreto, que será distribuído à população, e suas conclusões finais devem ser publicadas em maio. Ela analisou os seguintes fatores: origem dos residentes e habitação atual; economia geral e emprego; transporte público, mobilidade e segurança de pedestres; escolaridade e tecnologia; acesso e armazenamento da água, qualidade da água; hábitos e condições de saúde; disponibilidade de alimentos; atividades físicas; acesso aos serviços de saúde; e infraestruturas e obras públicas.

(Confira o livreto na íntegra)

O estudo utilizou metodologia inovadora, combinando exames laboratoriais, entrevistas quantitativas e qualitativas e tecnologias de georreferenciamento. 104 domícilios participaram da pesquisa, que incluiu o preenchimento de um questionário, o fornecimento de amostras de saliva e da água consumida em casa e o uso de um GPS durante a locomoção na comunidade, de modo a permitir a análise dos modos de mobilidade dentro de Rio das Pedras. Um aplicativo de celular também possibilitou o estudo das condições de 643 trechos de rua (86%) da comunidade, a partir da análise da configuração espacial de 4.000 fotografias. 14 pessoas também participaram de entrevistas aprofundadas com sociólogos.

Dentre os achados mais relevantes da pesquisa estão aqueles relacionados à água. 75% da água comercializada em galões em Rio das Pedras estava contaminada por bactérias nocivas. Na água da torneira, a contaminação por coliformes fecais foi detectada em 17% dos casos nas torneiras da rua e em 22% dos casos nas torneiras da cozinha. Na água do filtro, a contaminação foi encontrada em 27% das casas. Os resultados sugerem que apesar da diminuição da pressão da água e de se suas paragens poderem levar à infiltração e contaminação da tubulação de água da torneira, os filtros de água e galões engarrafados têm risco ainda maior de contaminação. A limpeza frequente de galões e de caixas d'água poderia reverter estes índices.

Segundo a pesquisa, 22% dos entrevistados afirmaram ter se preocupado com a hipótese de ficar sem comida antes de ter os meios para comprar mais nos últimos três meses, e 13% disseram que os alimentos da família tinham acabado neste período. Ainda assim, quase todos os entrevistados (99%) tinham celular, e 67% dos domicílios contavam com dois ou três aparelhos. 42% dos moradores têm acesso a computador em casa, e 74% acessam a internet.

A mobilidade em Rio das Pedras cria condições de grande insegurança aos pedestres. 41% dos segmentos de rua avaliados não têm calçada, e quase metade das existentes está em mau estado ou bloqueada completamente. Como resultado, pedestres compartilham a rua com carros, motos e ônibus. Além disso, algumas áreas têm escadas íngremes e estreitas, o que dificulta o uso de bicicleta e eleva o potencial de acidentes.

Apesar de ter melhorado nos últimos anos, a coleta de lixo continua a ser problema  generalizado em Rio das Pedras. 46% dos moradores percebem o lixo espalhado na comunidade. Além disso, 48% das ruas tinham água parada, o que cria um ambiente favorável à propagação de doenças transmitidas por mosquitos e provoca danos na infraestrutura circundante. 46% dos moradores citam a presença de mofo causado pela água como fator para a deterioração das condições domésticas.

A pesquisa foi apresentada na manhã de terça-feria (15/3), em evento que contou com a decana da Escola de Saúde Pública Mailman, de Columbia, com o diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Wilson Savino, e com a pesquisadora Martha Baratha, que apresentou pesquisa sobre o aumento da mortalidade no Rio de Janeiro em decorrência das mudanças climáticas. O auditório esteve lotado e houve debate após as apresentações.

Segundo a epidemiologista de Columbia Gina Lovasi, uma das corresponsáveis pela investigação, a mesma equipe pretende continuar a acompanhar a saúde em Rio das Pedras. “Este estudo mostrou como podemos usar a análise de dados para desenvolver diagnósticos e entender como as pessoas estão vivenciando seu ambiente. Queremos agora ampliar o número de dados coletados na comunidade, e também monitorar como eles mudam ao longo do tempo”.

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