03/04/2020
Karina Costa (Cidacs/Fiocruz Bahia)
O primeiro boletim da Rede CoVida - Ciência, Informação e Solidariedade foi lançado nesta sexta-feira (3/4). O documento Boletim CoVida - Acompanhamento da pandemia por Covid-19 no Brasil: destaque para a situação na Bahia analisa o panorama brasileiro até o dia 8 de abril. Como sugestão de enfrentamento, além dos aumentos de leitos, respiradores, há indicações de medidas como transferência de renda para a população mais vulnerável. Trata-se da primeira edição do boletim que será semanalmente disponibilizado no site da Rede CoVida e das instituições parceiras.
Em formato webinar, o lançamento contou com a presença da diretora da Fiocruz Bahia, Marilda Gonçalves; do reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), João Carlos Salles; do coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), Mauricio Barreto; da vice-coordenadora do Cidacs/iocruz Bahia, Maria Yury Ichihara; e os coordenadores do grupo de modelagem matemática da Rede: o físico Roberto Andrade, o bioinformata Pablo Ivan Ramos e a matemática Juliane Oliveira. O lançamento pode ser assistido no canal do YouTube da Rede CoVida.
Estima-se que, em todo o país, chegue-se a mais de 21 mil casos e a mais de 500 mortes (caso a taxa de mortalidade no país se mantenha em níveis atuais) até 8 de abril. Embora todos os estados já tenham casos confirmados, a região Sudeste já concentrava o maior número, em particular o estado de São Paulo, com 1.406 casos (34,7% de todos os casos) até 29 de março. Na Bahia, o número de casos deverá ultrapassar os 800 na próxima semana. Alguns outros estados devem ser também destacados, como o Ceará, Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Caso a previsão de crescimento confirme-se nesses estados, a proporção de casos graves pode fazer rapidamente crescer a demanda por serviços especializados de saúde.
Modelagem
Para predizer a quantidade de casos, a equipe de modelagem da Rede CoVida utiliza o modelo SIR (Suscetíveis, Infectados e Recuperados), considerado adequado para início de epidemias. Esse modelo sugere que todos de um grupo populacional começam não infectados (o que se adequa à realidade do Sars-CoV-2, por ser um vírus novo e as pessoas não terem anticorpos) e que cada grupo populacional tem um número de reprodução R0 (que é o potencial de reprodução da doença). É esse potencial que vai dizer com que velocidade um vírus se espalha em um grupo, considerando que a mobilidade de uma pessoa infectada contribua para a disseminação do vírus entre os não infectados. O potencial de reprodução da Itália, país que tem chamado à atenção pela intensidade da pandemia, é 3, por exemplo. Já o do Ceará é de 2,56, tornando-o o estado brasileiro com mais potencial de atingir mais rápido o pico da epidemia.
O relatório mostra que para as fases iniciais, como observado em diversos países e outras epidemias, os efeitos das restrições na circulação de pessoas não aparecem imediatamente, principalmente se tais medidas são aplicadas de maneira tardia. O efeito de “achatamento da curva” só é observável ao longo do tempo, seguida de aplicação de testes para rastrear novos infectados. Por isso, ainda há uma curva de crescimento que precisa de acompanhamento”, comenta a matemática Juliane Fonseca, pesquisadora da Rede CoVida.
Para enfrentar o Sars-Cov-2, a Rede convoca a utilizar a ciência para potencializar as medidas. “A modelagem matemática oferece uma janela de oportunidades para fazer previsões sobre o futuro da epidemia em nosso país, e permite que gestores executem as ações necessárias no presente para mitigar seus efeitos”, comenta o bioinformata Pablo Ramos, pesquisador da Rede CoVida.
Rede CoVida
O relatório é um dos produtos oferecidos à sociedade pela Rede que já conta com mais de 120 pesquisadores e 30 profissionais de comunicação que atuam de forma voluntária. O grupo atua em sistema home office e em pouco mais de duas semanas construiu um painel de acompanhamento, com dados atuais de casos confirmados no Brasil, por estado e município, além das análises preditivas para o país até o dia 25 de abril. O painel Coronavírus é fruto do trabalho da equipe de visualização de dados, coordenada pela estatística Gabriela Borges.
Para tornar público todo o conhecimento produzido pelos pesquisadores, uma equipe de profissionais da comunicação atuam para disseminar informações, construir materiais educativos, além da realização de conferências virtuais no formato webinar. No sábado, dia 28, as pesquisadoras da Rede Daiane Machado e Júlia Pescarini deram uma aula para jornalistas de conceitos básicos da epidemiologia. E o pesquisador da Fiocruz em Comunicação e Saúde, Igor Sacramento, falou sobre a abordagem do tema no jornalismo e nas redes. O material está disponível no canal do YouTube.
A cooperação e a diversidade de saberes são os pilares da Rede Covida – Ciência, Informação e Solidariedade. Nascido de uma articulação entre o Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) e a Universidade Federal da Bahia (Ufba), a Rede é um projeto de colaboração científica e multidisciplinar focado na pandemia de Covid-19 e visa o monitoramento da pandemia no Brasil, com previsões de sua possível evolução. Visa também à produção de sínteses de evidências científicas tanto para apoiar a tomada de decisões pelas autoridades sanitárias quanto para informar o público em geral.
Mais informações:
Comunicação – Rede CoVida
Raíza Tourinho
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E-mail: raiza.lima@fiocruz.br