O novo relatório da pesquisa Cooperação Brasileira para o Desenvolvimento Internacional (Cobradi) acaba de ser publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O livro, contudo, é apenas um dos muitos produtos dessa pesquisa, que, em seu ciclo 2021-2024, apresentou uma série de inovações, principalmente em relação à metodologia adotada. O estudo foi coordenado pelo pesquisador da Fiocruz Brasília Rafael Schleicher durante o período em que atuou no Ipea.
A Cobradi é publicada regularmente desde 2010 e sua atual edição é considerada a maior pesquisa sobre Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID) já realizada no Brasil: após o envio de dezenas de ofícios-convite, quase 400 ligações telefônicas, mais de 600 e-mails e uma centena de reuniões, alcançou-se o recorde de 82 instituições participantes. Ao longo do estudo, 8.057 iniciativas de CID mapeadas, totalizando um gasto anual superior a R$ 6,6 bilhões.
Em maior ou menor grau, esse valor se refere a várias modalidades de CID, incluindo contribuições obrigatórias e voluntárias do Brasil às organizações multilaterais e demais entes internacionais, com destaque para o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD); parcerias com instituições públicas e privadas de outros países; internações de estrangeiros custeadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e assistência a refugiados; matrículas de estudantes estrangeiros no ensino superior público do Brasil; participações brasileiras em redes internacionais de pesquisa; e outras formas de cooperação científica e educacional do Brasil em suas relações Sul-Sul e Sul-Norte.
Mais alinhada à Agenda 2030, a nova pesquisa também permite identificar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para os quais as iniciativas brasileiras mais têm contribuído. São eles o ODS 17 (fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável); o ODS 9 (construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação); o ODS 8 (promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos); e o ODS 4 (assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos).
A dimensão dos resultados é, em grande parte, fruto das inovações da Cobradi em seu ciclo 2021-2024. “Promovemos uma mudança completa na metodologia brasileira, que passa a dialogar tanto com as métricas do Comitê de Ajuda ao Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (DAC/OCDE) quanto com as novas métricas para Cooperação Sul-Sul da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD)”, afirma Schleicher.
A nova metodologia fixou seis variáveis centrais para a pesquisa. Foram coletados dados das iniciativas de cooperação internacional por instituição responsável; ODS; setor econômico-industrial; modalidade de cooperação internacional; arranjo de cooperação internacional; e canal de implementação. Essas variáveis foram quantificadas pelo número de iniciativas e pelo gasto direto e indireto, além de outros esforços empreendidos para descrever e detalhar cada iniciativa de cooperação das instituições participantes – foram chamadas a participar todas as instituições federais dos três poderes, além de instituições de estados brasileiros.
Para a coleta dos dados, diferentes técnicas de pesquisa foram utilizadas simultaneamente, como exploração de bases de dados públicas, formulários estruturados e realização de entrevistas complementares. O relatório recém-publicado compila, sistematiza e analisa os dados coletados, mas a proposta é divulgar tudo o que foi produzido pela pesquisa, como notas técnicas, artigos, formulários, guias, manuais, apresentações etc., além das próprias bases de dados da Cobradi, de modo que outras análises e novos usos sejam potencializados.
Nessa mesma direção, a comunicação da pesquisa prevê não somente eventos e publicações oficiais e acadêmicas, mas também formatos alternativos, como posts em mídias sociais, infográficos, vídeos e outras estratégias que possibilitem o diálogo com diferentes segmentos de público. Destaca-se que, para promover esse engajamento, o relatório preliminar da Cobradi foi aberto a comentários das instituições participantes e de toda a sociedade, e as sugestões e críticas recebidas contribuíram para aumentar a qualidade do relatório final.
Essa versão final, ora publicada, é composta por quatro capítulos. O primeiro apresenta uma visão geral da nova metodologia; o segundo, destinado especialmente a formuladores de políticas públicas e tomadores de decisão, permite uma leitura rápida dos principais dados da pesquisa e tendências da CID brasileira; o terceiro aprofunda e detalha os dados coletados; e, por fim, o quarto capítulo é temático e aborda a internacionalização das instituição de ensino superior brasileiras. “Nossa expectativa é que o relatório Cobradi constitua uma importante fonte de evidências para se promover a ligação entre a agenda global e as prioridades nacionais de desenvolvimento do Brasil e de seus parceiros”, sublinha o coordenador.
Para mais informações, acesse a página da Cobradi.