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15/06/2016

Reunião discute soluções para doenças negligenciadas

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


A reunião geral da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, da sigla em inglês) deste ano ocorreu no Rio de Janeiro, durante três dias. Entre 6 e 8 de junho, pesquisadores de diversos países estiveram presentes ao encontro, dividido entre a Fiocruz e um hotel da Zona Sul do Rio, para discutir soluções para a tragédia das doenças negligenciadas, que afetam cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o planeta. A iniciativa, que teve como fundadores a organização Médicos sem Fronteiras e a Fiocruz, entre outros, busca juntar esforços dos governos e da iniciativa privada para desenvolver novos medicamentos contra 17 enfermidades, entre elas a dengue e a doença de Chagas, que não recebem a atenção necessária devido à falta de perspectiva de lucro por parte dos grandes laboratórios farmacêuticos. O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Jorge Bermudez, que representa a Fundação no Conselho Diretor da DNDi, foi o anfitrião da reunião, em nome da instituição. “Havia um clima de otimismo por tudo o que a DNDi conquistou em 13 anos de atuação. Nesse período foram desenvolvidos sete medicamentos e pretendemos chegar a 2030 com 20 produtos para o combate às doenças negligenciadas”, afirmou Bermudez. O vice-presidente da Fiocruz disse ainda que a iniciativa anunciou a entrada em seu rol de projetos de duas outras enfermidades: a hepatite C e a resistência antimicrobiana.

Um dos maiores desafios da DNDi é garantir o acesso das populações vulneráveis aos medicamentos (Foto: Peter Ilicciev / CCS)

 

Segundo ele, trazer uma reunião desse porte para o continente mostra a crescente importância da América Latina e o reconhecimento dos esforços que são feitos aqui no enfrentamento às doenças negligenciadas. “Argentina, Colômbia, México, Bolívia e o Brasil, entre outros, têm dado mostras de significativos avanços nesse campo. E a atuação da Fiocruz foi elogiada pelos presentes ao encontro, o que revela o ativo e destacado trabalho da Fundação em redes internacionais de pesquisa, em especial as que se dedicam à doença de Chagas, à malária e às leishmanioses”, observou Bermudez. Dentro dessa atuação, o BNDES vai financiar projetos de R$ 16 milhões em três estudos da Fiocruz, conduzidos pelos pesquisadores Ana Rabelo e Jorge Costa. As doenças assim chamadas de negligenciadas são aquelas que, em geral, acometem mais as pessoas de baixo poder aquisitivo e com precário (ou nenhum) acesso aos sistemas públicos de saúde.

A DNDi critica a visão de que o lucro deve levar à inovação. Para a organização, é o bem-estar da população que deve levar à inovação científica e tecnológica. "Mas não abordamos apenas as doenças negligenciadas. Também falamos em populações negligenciadas, que têm que ter prioridade", disse Bermudez. Ele defende que governos e organizações de países ricos contribuam para o fundo, como já fazem a Fundação Gates e as academias de ciências dos Estados Unidos e do Reino Unido. Segundo Bermudez, o objetivo do grupo, além de tratar doenças negligenciadas, é contribuir para o acesso a medicamentos para outras doenças: "Não podemos apenas investir para que sejam tratadas as doenças negligenciadas e as pessoas acabem morrendo de câncer, diabetes e hipertensão". Ele conta que uma das soluções em discussão para viabilizar a pesquisa e desenvolvimento de tratamentos dessas doenças é a criação de um fundo internacional que disponibilize os recursos.

Doenças negligenciadas

Atualmente, fazem parte da lista de doenças negligenciadas a doença de Chagas, a dengue, a chikungunya, a africano tripanossomíase humana (doença do sono), a hanseníase, a tracoma, a raiva, a esquistossomose, as helmintíases transmitidas pelo solo, a teníase/cisticercose, a úlcera de Buruli, a dracunculose, a equinococose, as treponematoses endêmicas, as trematodiases de origem alimentar, a filaríase linfática e a oncocercose. Uma outra doença passou a integrar a lista recentemente: a micetoma, infecção que causa inchaços e lesões nas pernas e atinge populações da África, América Latina e Ásia.

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