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03/07/2018

Seminário Preparatório Abrascão 2018 reúne instituições no Rio

Vilma Reis (Abrasco)


"Não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar." Retirada de um poema de Bertolt Brecht, a leitura da frase iniciou a mesa de abertura do Seminário Preparatório Abrascão 2018, realizado também em comemoração aos 70 anos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e 118 anos da Fiocruz. O evento ocorreu na manhã de quinta-feira (29/6), em uma Tenda da Ciência lotada, em Manguinhos, no Rio de Janeiro.

Seminário teve como tema 'Direito ao desenvolvimento, à saúde e à ciência, tecnologia e inovação em saúde' (foto: Pamela Lang)

 

Brecht foi lembrado pelo pesquisador e professor Carlos Gadelha, responsável pela Coordenação das Ações de Prospecção da Fiocruz e um dos organizadores do seminário. O primeiro a falar, Gadelha pontuou o direito ao desenvolvimento como uma quarta dimensão. “Todos os direitos estão em risco no Brasil, nossas discussões de hoje serão traduzidas e se transformarão em documentos e propostas a serem submetidos aos candidatos ao governo do país, pois apostamos em uma agenda de desenvolvimento. Por isso, trago Bertolt Brecht, pois nada deve parecer natural e nada deve parecer impossível de mudar”, disse.

A mesa de abertura contou ainda com a saudação da deputada federal Jandira Feghali, médica e política brasileira filiada ao Partido Comunista do Brasil. Jandira destacou que estava ali para ouvir e aprender. “De onde venho, Brasília, não temos debates qualificados como este, vim aqui para respirar e participar desta resistência, pois resistir ainda é o melhor a fazer. Resistimos juntas, e o melhor é saber que as pessoas que estão aqui continuam pensando o país. Esse debate é para fazer mais do que já fizemos”, disse Jandira.

Carlos Fidelis Ponte falou em nome do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN). “A ciência e tecnologia estão plenamente incorporadas na agenda da Asfoc e em todas nossas discussões, putando também nosso debate com várias outras organizações de representação de trabalhadores. Compreendemos que cidadania só se faz com acesso ao conhecimento”, afirmou Fidelis.

Presidente do Centro de Estudos da Saúde (Cebes), Lúcia Souto agradeceu a incorporação do Centro ao debate. “Esta é nossa agenda prioritária. Deveríamos estar neste momento comemorando e recontando a história desses 30 anos de Constituição... mas estamos diante do esfacelamento dela. É a hora mais oportuna de se pensar este país que parece um avião imbicado para baixo, caindo vertiginosamente. Então neste momento nos cabe resistir pensando o Brasil que nós queremos, não o Brasil que ‘Eu’ quero, mas aquele que nós queremos”, convidou Lúcia. 

O presidente da Abrasco, professor Gastão Wagner, chamou a atenção para o dinamismo e ímpeto que Ildeu Moreira está imprimindo na gestão da SBPC, que comemora em julho seus 70 anos, e que resiste ao desmonte de pensar ciência como política pública. “Hoje na Abrasco queremos resistir e avançar, contribuir para melhorar a pós-graduação, melhorar a avaliação. Aproveito e convido todos vocês para participar do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, o Abrascão 2018, que já está chegando e será realizado aqui na Fiocruz. Estamos fazendo um congresso com um grau de ativismo e participação muito grande que indica essa vontade e essa capacidade nossa de resistir e trabalhar”, explicou Gastão. 

A penúltima fala veio do professor Ildeu Moreira, que pontuou o papel político do seminário. “Nos reunimos aqui hoje para resistir a esta anti-política, temos de nos opor, pensar o país, gerar propostas – que é o cerne de nossa atividade científica. Pensar a vida é fundamental... não nos esqueçamos que aqui ao lado, se atravessarmos a avenida Brasil, o direito à vida não existe, assim como não existe o direito dos jovens irem para escola, nem direito à informação, nem direito à comunicação, nem direito à saúde e nem direito à ciência e tecnologia. E a C&T precisa ser um elemento positivo para a sociedade e não apenas um instrumento de exploração. Nós, 142 sociedades científicas filiadas à SBPC, somos apartidárias mas não apolíticas, queremos e devemos influenciar o que estamos vivendo no país”, pediu Ildeu. 

Presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima arrematou as colocações da mesa de abertura. "Em tempos sombrios, encontra-se felicidade quando se está junto e em movimento, construindo propostas de produção coletiva... é o que nos anima. Hoje pela manhã, recuei no tempo e lembrei de mim em 1982, quando iniciava meu mestrado em Ciência Política no antigo Iuperj, Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e ouvia do professor Luiz Jorge Werneck Vianna muitas referências sobre o processo político que vivíamos no Brasil. Acho que lembrei disso por causa desse enorme momento de incertezas que vivemos e da nossa capacidade resistência e de movimento. O papel da Fiocruz neste momento é ser uma Ágora, promovendo debates e encontros que nos façam enxergar caminhos e encontrar soluções”, disse Nísia.

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