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30/03/2017

Serviços de referência para diagnóstico são pauta de simpósio

Lucas Rocha (IOC/Fiocruz)


Diante da possibilidade de surtos e epidemias de doenças emergentes e reemergentes, o papel dos serviços de referência para diagnóstico foi pauta das discussões no segundo dia do 3º Simpósio de Pesquisa e Inovação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), na última terça-feira (28/03).

“Os recentes episódios de impacto para a Saúde Pública, como o avanço da microcefalia relacionada ao vírus zika e o aumento de casos de febre amarela silvestre no Brasil, ensinam que o alinhamento entre a pesquisa e os serviços de referência é fundamental para gerar respostas para a sociedade em um curto prazo”, destacou a vice-diretora de Referência e Coleções Biológicas do IOC/Fiocruz, Eliane Veiga da Costa, mediadora da discussão. Como Eliane destacou, os serviços de referência atuam de forma integrada e prestam suporte ao Ministério da Saúde, no âmbito da vigilância epidemiológica, prevenção e controle de doenças de interesse para a Saúde Pública.

O chefe do Laboratório de Enterovírus do IOC/Fiocruz, Edson Elias da Silva, lembrou as principais contribuições do Laboratório, referência nacional junto ao Ministério da Saúde para enteroviroses e referência em poliomielite para a região das Américas junto à Organização Mundial da Saúde (OMS). “O Laboratório desempenhou papel de destaque no estudo de diversos surtos de poliomielite e no preparo dos primeiros lotes de vacina Sabin oral contra a doença no Brasil”, afirmou. Entre as atividades desenvolvidas, estão o desenvolvimento de métodos de diagnóstico e de diferenciação viral, a caracterização de genótipos e linhagens de vírus circulantes e o monitoramento das cadeias de transmissão. O Brasil erradicou a doença em 1989. As ações do Laboratório neste processo incluíram a detecção de poliovírus selvagens e de poliovírus vacinais, além da caracterização molecular das amostras de poliovírus isoladas para avaliação de possíveis mutações.

Já a pesquisadora Monick Lindenmeyer Guimarães, chefe do Laboratório de AIDS e Imunologia Molecular do IOC/Fiocruz, a tendência é de uma interligação cada vez maior entre o serviço de referência e o desenvolvimento da pesquisa científica. Desde 1991, o Laboratório colabora com o Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde em ações de pesquisa e de referência. "As atividades de referência refletem na participação de membros do Laboratório em comitês técnico-científicos, consultorias e principalmente na elaboração e no acompanhamento das redes de monitoramento de pacientes HIV positivos", pontuou Monick.

Segundo a pesquisadora, a realização de exames de contagens de células, de carga viral e de genotipagem para o acompanhamento clínico de pacientes permitiu o desenvolvimento de novos estudos e a participação em ensaios clínicos internacionais. “A relação entre a pesquisa e a referência garantiu oportunidades importantes para o Laboratório, como a garantia da qualidade no monitoramento de pacientes, a geração de conhecimento científico e tecnológico, o desenvolvimento de novas metodologias, a atuação na formação de recursos humanos e a participação no cenário nacional e internacional da pesquisa em HIV/Aids”, ressaltou.

Claudio Maierovitch, da Fiocruz Brasília, comparou o desenvolvimento de pesquisa em laboratórios de referência à atividade manutenção de serviços elétricos de alta tensão. "Não é fácil produzir conhecimento em linha viva, que é um jargão utilizado por quem trabalha com alta tensão. E, quem atua em laboratórios de referência, trabalha em linha viva”, ressaltou. Maierovitch recordou a intensa mobilização em torno das redes de pesquisa sobre o vírus da zika, em 2016 – na época, ele ocupava o cargo de director de vigilância das doenças transmissíveis do Ministério da Saúde. "Houve uma disposição enorme do conjunto dos profissionais de saúde, particularmente dos pesquisadores, de trabalhar em união, o que, por mais óbvio que seja, não é comum”, pontuou. Segundo ele, há uma necessidade crescente de “movimentar a área da pesquisa científica em ciência e saúde no Brasil o mais rapidamente possível para a direção da transparência, do compartilhamento de dados e da pesquisa cooperativa”.

Além das interfaces entre referência e pesquisa, a Política de Acesso Aberto à Informação também foi alvo das discussões no segundo dia de atividades do Simpósio. O tema foi introduzido pelo vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Manoel Barral Neto.

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