06/03/2017
A revista científica Plos One publicou, na última terça-feira (21/2), o artigo The role of spatial mobility in malaria transmission in the Brazilian Porto Velho municipality, Rondônia, Brazil (2010-2012), de autoria da pesquisadora Jussara Rafael Angelo, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). O trabalho, orientado pelo pesquisador Carlos Afonso Nobre, é resultado da tese de doutorado Modelagem Espacial Dinâmica dos Determinantes Sociais e Ambientais da Malária e Simulação de Cenários 2020 para Município de Porto Velho - RO, desenvolvida no Centro de Ciência do Sistema Terrestre (PGCST/Inpe), com colaboração da Ensp/Fiocruz e da Fiocruz Rondônia. A Plos One é uma revista científica de acesso livre, disponível on-line, publicada pela Public Library of Science.
O município de Porto Velho apresenta alta endemicidade da malária e desempenha papel importante na disseminação do parasita para outros municípios da Amazônia e até para áreas não endêmicas do país. A migração continua a ser um fator importante para a ocorrência da malária. No entanto, devido às recentes mudanças na ocupação humana da Amazônia brasileira, caracterizada pela intensa expansão das redes de transporte, a mobilidade pendular também se tornou um fator importante na transmissão da doença. Este novo padrão de transmissão é explicado pela vulnerabilidade resultante de novos processos de produção centrados nas relações de trabalho precário, mobilizando trabalhadores suscetíveis residentes nas periferias das cidades e os expondo a condições ambientais favoráveis à produção da doença, levando ainda à reintrodução da malária nas cidades.
“Esse padrão é bastante distante dos tradicionais modelos explicativos da transmissão da malária, atribuídos ao desmatamento, à migração interna encabeçada por fronteiras de expansão agrícola e grandes projetos de infra-estrutura, como a construção de estradas e hidrelétricas na Amazônia. Esses resultados são extremamente relevantes para redirecionar as ações de vigilância e controle da malária na Amazônia que encontram-se diante de um verdadeiro desafio: possibilitar um diagnóstico e tratamento mais rápido do que a população consegue se movimentar pelo território", detalhou a pesquisadora, que também é membro do Laboratório de Monitoramento Epidemiológico de Grandes Empreendimentos da Ensp/Fiocruz.
Na opinião do orientador, "o estudo mostra o poder de uma abordagem interdisciplinar para dar luz a um complexo problema de saúde. Combinando dados epidemiológicos, socioeconômicos, de mobilidade e de malária para Porto Velho, permitiu-se a identificação de um novo modelo de transmissão da malária ligado à mobilidade dos trabalhadores no município", admitiu Carlos Nobre.