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01/01/2007

Hermann Schatzmayr

Varíola

Fernanda Marques


No tempo em que Hermann Schatzmayr estava na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), surgiu, em 1968, o convite para que se criasse lá um laboratório de varíola. Após um curso internacional da Organização Pan-americana da Saúde (Opas) em São Paulo e um treinamento nos Estados Unidos, Hermann montou o tal laboratório, que funcionou até meados da década de 70, sendo referência não só para todo o Brasil, mas também para países vizinhos, como Paraguai e Bolívia. A criação do laboratório fazia parte dos esforços para a erradicação da varíola. “Fomos nós que isolamos o vírus dos últimos casos da doença nas Américas, que ocorreram aqui no Rio de Janeiro, em 1971. Isso representou um marco histórico importante”, diz.

No âmbito da campanha para erradicar a varíola, a vacinação em larga escala desempenhou um papel central. A vacina contém um vírus vivo: não o vírus da varíola e sim um outro do mesmo grupo, porém mais brando. Com a vacinação em massa, esse vírus presente na vacina acabou se integrando nas comunidades: hoje ele circula em animais, acarretando casos em humanos.

No final dos anos 90, Hermann e outros pesquisadores começaram a verificar no gado e em humanos um número crescente desses casos. “Este vírus causa doença: lesões na mão e no rosto, dor local, febre alta. No entanto, não é uma reemergência da varíola”, tranqüiliza o virologista. “Trata-se da emergência de uma doença causada pelo vírus vacinal, uma doença que algumas vezes é séria, mas de fato muito menos grave que a varíola. Apesar dessa emergência que observamos hoje, a vacinação em larga escala contra a varíola foi sem dúvida uma estratégia correta”, avalia.

A questão é que, por desconhecimento, a vacina contra a varíola pode ter sido manuseada sem o devido zelo. Com isso, depois de muitos anos, Hermann voltou a estudar o vírus da vacina da varíola. “Acredito que, em breve, o Brasil terá que vacinar animais contra esse vírus. Este é um projeto do qual pretendo participar antes de me aposentar”, afirma.

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