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28/05/2019

Visita parlamentar e conferência marcam os 119 anos da Fiocruz

Gustavo Mendelsohn de Carvalho e Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


Um encontro com parlamentares da bancada federal do Rio de Janeiro marcou o início das comemorações pelos 119 anos da Fiocruz. Estiveram presentes na reunião com a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, realizada na Residência Oficial na manhã de segunda-feira (27/5), além de dirigentes e assessores da Fiocruz, deputadas e deputados representando um amplo espectro partidário (veja a relação completa ao final). Todos manifestaram reconhecimento e se comprometeram a colaborar para que a Fundação tenha condições de realizar sua missão institucional.

Encontro com parlamentares da bancada federal do Rio de Janeiro marcou o início das comemorações pelos 119 anos da Fiocruz (foto: Peter Ilicciev)

 

Em sua saudação, a presidente Nísia agradeceu o apoio do Congresso, através de suporte político na defesa temas de interesse da Fundação e de recursos orçamentários de emendas parlamentares individuai e de bancadas estaduais. Nísia destacou três aspectos em que o apoio parlamentar se faz necessário atualmente: a garantia da estabilidade orçamentária e da sustentabilidade institucional; a construção do Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde de Santa Cruz (Cibs); e a posse dos 29 pesquisadores aprovados no concurso de 2016.

Os parlamentares presentes propuseram-se a encaminhar urgentemente ao coordenador da bancada fluminense no Congresso Nacional, deputado Hugo Leal (PSD), um pedido ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para o agendamento de uma reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Tendo como prioridade a posse dos novos pesquisadores, o objetivo do encontro com o ministro é buscar soluções para o conjunto de demandas imediatas da Fundação.

Estiveram presentes ao encontro as deputadas Benedita da Silva (PT), Jandira Feghali (PCdoB); os deputados Alessandro Molon (PSB), Aureo (SD), Cristino Aureo (PP), Dr. Luizinho (PP), Márcio Labre (PSL), Paulo Ramos (PDT), Professor Josiel (PSL), Sargento Gurgel (PSL). O deputado Carlos Jordy (PSL) enviou um representante e o ex-deputado federal Odorico Monteiro (PROS-CE) também participou da reunião.

‘A Ciência do Futuro e o Futuro da Ciência na Fiocruz’

Um dos principais eventos comemorativos pelos 119 anos da Fiocruz foi realizado na tarde da segunda-feira (27/5). Foi a conferência ministrada pelo professor emérito do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), Erney de Camargo. Ele lembrou de sua trajetória profissional e acadêmica, da conturbada vida política nacional nas últimas décadas, das perseguições e do arbítrio do regime militar e dos pontos de contato que teve com a Fiocruz e seus pesquisadores ao longo dos anos. Ao final da conferência, 13 jovens cientistas da Fiocruz participaram de uma roda de conversa organizada pela Coordenação de Ações de Prospecção da Fundação.

A celebração dos 119 anos da Fiocruz contou com conferência ministrada pelo professor emérito do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), Erney de Camargo (foto: Peter Ilicciev)

 

Ao iniciar sua apresentação, Camargo lembrou que na época em que estudou medicina na USP, na década de 1950, os médicos saíam dos bancos escolares diretamente para os consultórios. Foi justamente naquele período que isso começou a mudar, por empenho de professores como Samuel Pessoa, que se indignava com o descaso com a saúde e as más condições de vida da população brasileira, especialmente os moradores dos rincões interioranos, e com quem Camargo teve aulas. Foi Pessoa quem convenceu o jovem médico para vir ao Rio de Janeiro conhecer o então Instituto Oswaldo Cruz (embrião da atual Fiocruz).

Os primeiros trabalhos de Camargo foram sobre a bioquímica de protozoários parasitas, em colaboração com outro pesquisador que no futuro se tornaria um dos grandes cientistas brasileiros: Luiz Hildebrando. O primeiro trabalho independente, publicado em 1964, versou sobre o crescimento e diferenciação do Trypanosoma cruzi, sendo até hoje citado na literatura científica internacional.

Com o golpe de 1964, Camargo e vários outros pesquisadores foram demitidos da USP, sendo que alguns foram presos. Entre eles, Luiz Hildebrando, Luís Rey e Leônidas e Maria Deane, que mais tarde trabalhariam na Fiocruz. A violência dos inquéritos policiais militares (IPMs) contra as instituições acadêmicas caiu de maneira pesada em cima da Faculdade de Medicina da USP, sobretudo em relação aos pesquisadores que combatiam as precárias condições sanitárias da maior parte da população, e Camargo teve que sair do Brasil, indo para a Universidade de Wisconsin (EUA).

De volta ao Brasil, Erney de Camargo ingressou, em 1970, na Escola Paulista de Medicina, onde ajudou na reorganização do Departamento de Microbiologia e Parasitologia. Mas a alegria durou pouco, já que logo depois ele e Hildebrando foram novamente presos. Camargo trabalhou um tempo na iniciativa privada e foi colega, na Editora Abril, de outros dois perseguidos pelo regime militar: o sociólogo Fernando Henrique Cardoso e o economista José Serra. Com a redemocratização, em 1985 ele retornou à USP como professor Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas. Na universidade ele ocupou cargos administrativos e reconstruiu sua carreira, sendo citado entre os cientistas que compõem a elite brasileira da protozoologia. Seus trabalhos abarcam um amplo espectro do conhecimento, tratando da biologia, da evolução e da filogenia de tripanosomídeos, plasmódios e vetores como o Anopheles. Camargo foi também um dos responsáveis pela criação de um núcleo avançado de pesquisa da USP na cidade de Monte Negro, em Rondônia. Muito aplaudido ao final da apresentação, o pesquisador agradeceu o convite e disse que estar na Fiocruz é sempre uma imensa satisfação.

Jovens pesquisadores da Fiocruz formaram uma roda de conversa em que se apresentaram e discorreram sobre suas trajetórias (foto: Karla Bernardo)

 

Em seguida à conferência, os jovens pesquisadores da Fiocruz formaram uma roda de conversa em que se apresentaram e discorreram sobre suas trajetórias, o que fazem na instituição e como pretendem contribuir com projetos inovadores. A presidente Nísia Trindade afirmou que pretende que esse seja um grupo focal, para discussão permanente sobre a Fiocruz do futuro. A mediação será feita pela Coordenação das Ações de Prospecção, mas com ampla participação das unidades. O coordenador de Ações de Prospecção, Carlos Gadelha, disse estar feliz com o engajamento desses pesquisadores em início de carreira, que se inscreveram espontaneamente para partilhar experiências, demandas e possibilidades. “E o grupo, além de ser formado por pesquisadores que já estão mostrando sua competência nos laboratórios, é bastante diversificado, pois conta com profissionais de variadas unidades da Fundação”.

Os participantes da roda de conversa foram André Felipe Cândido da Silva (Casa de Oswaldo Cruz), Cristiana Couto Garcia (Instituto Oswaldo Cruz), Dimitri Marques Abramov (Instituto Nacional da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira), Hugo Perazzo Pedroso (Instituto Nacional de Infectolgia Evandro Chagas), Gabriel da Luz Wallau (Fiocruz Amazonas), Lucas Nishida (Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas), Mychelle Alves Monteiro (Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde), Rodrigo Nunes Rodrigues da Silva (Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos), Tatiana Martins Tilli (Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde), Luis Caetano Antunes, Mariana Vercesi Albuquerque, Marina Campos Araújo e Jussara Rafael Angelo (esses quatro da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca).  

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