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23/08/2018

Workshop apresenta tecnologias digitais para controle de vetores

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


A Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) da Fiocruz abriu, na quarta-feira (22/8), o Workshop Internacional em Tecnologias Digitais Móveis para Controle e Monitoramento de Reservatórios e Vetores de Agentes Infecciosos. O evento teve a presença da pesquisadora americana Renée Codsi, que lidera a equipe de conteúdo científico da EarthGames, na Universidade de Washington (EUA), no desenvolvimento de aplicativos móveis para a saúde. Na manhã do primeiro dia, Renée Codsi e pesquisadores da Fundação compartilharam experiências em tecnologias móveis para o controle e monitoramento de reservatórios e vetores de agentes infecciosos. À tarde foram apresentadas 11 experiências da Fiocruz, selecionadas a partir do questionário de levantamento de ações em saúde da VPAAPS e da participação nos editais de recursos educacionais e recursos comunicacionais da Vice-Presidência de Ensino, Informação e Comunicação (VPEIC). O evento coordenado pela VPAAPS e pelo Instituto Oswaldo Cruz (Programa de Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde), prosseguiu na quinta-feira (23/8), com duas oficinas ministradas pela estudiosa americana sobre o uso do aplicativo GO Mosquito para os pesquisadores e a comunidade (líderes comunitários e professores de escolas municipais e estaduais). O pré-lançamento do workshop ocorreu em um evento em 17 de agosto, no Instituto Leonidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), com uma apresentação de Renée Codsi sobre o projeto GO Mosquito.

 

Evento debateu tecnologias digitais móveis para controle e monitoramento de reservatórios e vetores de agentes infecciosos (foto: Josué Damacena, IOC/Fiocruz)

 

A mesa de abertura do evento teve as presenças do diretor do Instituto Oswaldo (IOC/Fiocruz), José Paulo Gagliardi Leite, da assessora de Promoção da Saúde da VPAAPS, Luciana Garzoni, do assessor de Ambiente da VPAAPS e da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, Guilherme Franco Netto, do coordenador de Comunicação do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), Clementino Fraga Neto, e do assessor da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB/Fiocruz) Wim Degrave. Luciana Garzoni disse que um dos objetivos do workshop é induzir possibilidades de parceria e integração em tecnologias digitais, entre pesquisadores da Fiocruz e com outras instituições, como Institute for Global Environmental Strategies. Após breves intervenções de cada um dos participantes da mesa começaram as apresentações.

A primeira a apresentar foi Renée Codsi, integrante da equipe do Institute for Global Environmental Strategies, que atua em parceria com a Nasa no projeto Go Mosquito e visa o monitoramento de vetores pelas comunidades, em parceria com pesquisadores por meio de tecnologias móveis, para formar uma ciência cidadã. Ela disse que epidemias recentes de malária, zika, febre amarela e chicungunha aumentaram a necessidade de compreender a distribuição sazonal e geográfica de mosquitos Anopheles, Aedes aegypti e Aedes Albopictus. “A cada ano são mais de 2,7 milhões de mortes em todo o mundo. Por isso é tão importante fazermos o controle dos criadouros de mosquitos. Também precisamos conhecer os tipos de criadouros. É fundamental criar uma comunidade de aprendizado para ampliarmos a colaboração no combate e prevenção às doenças transmitidas por mosquitos”, afirmou Renée.

O evento teve a presença da pesquisadora americana Renée Codsi, que lidera a equipe de conteúdo científico da EarthGames, na Universidade de Washington (foto: Josué Damacena, IOC/Fiocruz)

 

A pesquisadora lembrou que o monitoramento dos habitats de reprodução de mosquitos é importante, o que a levou a abordar os bancos de imagens de satélite para modelagem de áreas de alto risco de doenças transmitidas por mosquitos, que evidentemente não podem ser vistos do espaço – mas os ambientes em que vivem, quentes e úmidos, são perfeitamente identificáveis. Foi com esse intuito que a Nasa criou o aplicativo Mosquito Habitat Maper na plataforma Global Learning and Observations to Benefitis Environment (Globe Observer). O aplicativo orienta o usuário a identificar e eliminar locais de reprodução de mosquitos. O usuário também ajuda estudos que buscam descobrir se há espécies de mosquitos que estão se tornando aptas a transmitir mais doenças. “Modelos climáticos preveem um aquecimento global médio na faixa de 2 a 4 graus Celsius até 2100. Esse aumento da temperatura pode disseminar doenças transmitidas por insetos em áreas onde esses relatos são raros”, afirmou Renée. Os dados coletados pelo projeto propiciam informações sobre a taxa de reprodução do mosquito, a quantidade de ovos que as fêmeas põem, a vida útil dos insetos e outros.

Para Renée, as mudanças climáticas serão “uma festa para os mosquitos e o caos para os seres humanos”. Segundo ela, previsões matemáticas apontam que as alterações no clima do planeta podem aumentar a distribuição de doenças transmitidas por vetores. “Até 2085, cerca de 50% da população mundial viverá em áreas de alto risco de transmissão de doenças como dengue e malária. Em países onde existe uma alta densidade de insetos em terras baixas, se o continente for quente, os mosquitos vão subir e se distribuir por terras originalmente frias”, alertou ela.

Em seguida, a pesquisadora mostrou como se utiliza o aplicativo Globe Observer Mosquito Habitat Mapper, que coleta dados. “Esses dados são úteis para o desenvolvimento de modelos computacionais realistas baseados em informações de satélite. No entanto, apesar das informações de satélites é necessário, além dos ‘olhos no céu’, de ‘botas no chão’, ou seja, pessoas que estejam de olho nos mosquitos existentes nos locais em que residem. Por isso o engajamento das comunidades é tão fundamental, dentro do conceito de ‘ciência cidadã’ [que entende que qualquer pessoa pode contribuir com a ciência]. Assim, as pessoas se envolvem na coleta de dados e se tornam cientistas cidadãos e agentes de mudança, contribuindo para reduzir a exposição das comunidades a doenças transmitidas por mosquitos”.

Coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre e do Programa Institucional Biodiversidade & Saúde, a bióloga Márcia Chame discorreu sobre o aplicativo Siss-Geo (foto: Josué Damacena, IOC/Fiocruz)

 

Em seguida à apresentação de Renée foi a vez da bióloga Márcia Chame, coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre e do Programa Institucional Biodiversidade & Saúde, que discorreu sobre o aplicativo Siss-Geo, desenvolvido pelo Sistema de Informação em Saúde Silvestre (Siss/Fiocruz). O aplicativo é uma ferramenta útil no enfrentamento a doenças silvestres e vem recebendo prêmios. Ele estimula a participação da sociedade no monitoramento de epizootias – eventos de doenças em animais não humanos, análogo ao conceito de epidemia em pessoas. O aplicativo também foi elaborado dentro da perspectiva de “ciência cidadã”.

De acordo com Marcia, quando uma pessoa se depara com um animal silvestre, reporta no aplicativo e informa sobre o bicho observado, suas características, localização e ambiente e envia fotos. O aplicativo é gratuito, muito leve – tem menos de 3 MB – e simples de usar, possibilitando vasta implementação. Após o registro, os dados são disponibilizados em um banco de dados. O projeto resulta em modelos de alerta precoce e previsão de emergência de zoonoses antes que doenças acometam as pessoas e outros animais e permite ainda a avaliação de impactos sob espécies ameaçadas. Em 2017, o trabalho foi o vencedor da categoria Órgãos Públicos do Prêmio Nacional de Biodiversidade, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente. Também no ano passado o aplicativo foi certificado como Tecnologia Social pela Fundação Banco do Brasil. E o Siss-Geo já gerou um filhote, o Detetive Botânico, que leva os usuários a procurar por plantas raras. Igualmente dentro da perspectiva de ciência cidadã, o aplicativo é uma parceria da Fiocruz com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Líder de Pesquisa e Desenvolvimento do projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil, Gabriel Sylvestre abordou essa iniciativa internacional (foto: Josué Damacena, IOC/Fiocruz)

 

A apresentação seguinte foi de Gabriel Sylvestre, líder de Pesquisa e Desenvolvimento do projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil. Ele abordou essa iniciativa internacional, sem fins lucrativos, que tem por objetivo oferecer uma alternativa sustentável e de baixo custo às autoridades de saúde das áreas afetadas pela dengue, zika e chikungunya, sem qualquer gasto para a população. O projeto propõe um método inovador capaz de reduzir a transmissão dos vírus das doenças citadas por meio da liberação de mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, promovendo uma substituição gradual da população de mosquitos em uma determinada área. Em agosto de 2017 teve início a liberação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia, em larga escala na Ilha do Governador, um bairro do Rio de Janeiro.

Concluindo as intervenções da manhã de quarta-feira, a pesquisadora Nadia Rodrigues, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), apresentou um aplicativo, ainda em desenvolvimento, que traça um mapa do Aedes ao detectar a distribuição de arboviroses por meio de informações georreferenciadas. O projeto-piloto, em fase inicial, está sendo implantado nas comunidades vizinhas à Fiocruz, no bairro de Manguinhos.

Apresentações

À tarde houve a apresentação de experiências da Fiocruz, selecionadas a partir da participação nos editais de recursos educacionais e recursos comunicacionais da VPEIC, e inseridas no questionário de levantamento de ações em saúde da VPAAPS. Dentre as tecnologias digitais móveis, apresentadas, cinco estão em estágios mais avançados de desenvolvimento. O aplicativo Extinfoco, sobre o desenvolvimento de aplicação multimídia em dispositivos móveis para eliminação de focos de Aedes aegypti, foi apresentado pela pesquisadora Jacenir Mallet, do IOC. O aplicativo envia as informações coletadas pelo dispositivo, para os agentes de endemias e já está em uso na cidade de Caxias (MA). 

O doutorando Roberto Todor, aluno do Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Ensino em Biociências e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), apresentou sua experiência com alunos do Ensino Médio em duas escolas do Rio de Janeiro, a partir da criação de tecnologias sociais digitais para controle de arboviroses, que incluem blogs, vídeos e jogos digitais. Roberto Todor (Liteb/IOC) abordou as tecnologias sociais digitais desenvolvidas com alunos de escolas públicas. A experiência do Triatokey, elaborada pelo Instituto René Rachou (IRR/Fiocruz Minas), foi relatada pela pesquisadora Rita de Cássia. Tanto na web quanto pelo aplicativo móvel o sistema criado é capaz de identificar diferentes espécies de triatomíneos, contribuindo para elaboração de estratégias de vigilância e controle.

A pesquisadora Samanta Xavier, do IOC, apresentou um aplicativo que contribuirá para o desenvolvimento de um sistema sentinela de áreas com altas taxas da transmissão enzoótica de Trypanosoma cruzi. O pesquisador Cláudio Manuel, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz) deu uma grande contribuição com a apresentação do jogo digital Pula carrapato para a prevenção da febre maculosa. As experiências do Polo de Jogos e Saúde, no Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz), foram tema da abordagem do pesquisador Marcelo Simão.

Oficinas

No segundo dia do workshop houve duas oficinas ministradas por Renée Codsi sobre o uso do aplicativo Globe Mosquito Habitat Mapper. Cerca de 40 pessoas, entre pesquisadores, estudantes de pós-graduação e líderes comunitários, participaram das atividades pela manhã e à tarde.

Professores de escolas públicas e líderes comunitários de Manguinhos

 

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