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10/09/2010

‘A saúde tem sido um importante motor de integração sul-americanaÂ’

Informe Ensp


A diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Mirta Roses, foi uma das convidadas para a abertura e o encerramento do simpósio Erradicação da varíola após 30 anos: lições, legados e inovações, que reuniu cerca de 300 participantes de 34 países para discutir o tema na Fiocruz. "A saúde tem sido um importante motor da integração sul-americana há muitas décadas", disse Mirta Roses em entrevista ao Informe Ensp. Ela falou sobre a relevância do simpósio, o programa de erradicação da varíola, o encontro sobre determinantes sociais, que será realizado em 2011, e sobre as contribuições da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) para o crescimento e a integração da América do Sul.


Qual a relevância para a América Latina, do simpósio sobre a erradicação da varíola após 30 anos?


Mirta Roses: O encontro foi importante porque reuniu líderes que, de certa forma, participaram da organização e da execução das campanhas de erradicação da varíola. Foram pessoas chaves que também trabalharam nos últimos sítios da luta contra a doença na África e na Ásia. Foi um encontro de muitas visões políticas, técnicas, gerenciais e científicas. Refletimos sobre as lições aprendidas na erradicação da doença, a possibilidade da utilização das vacinas como instrumentos de prevenção, a possibilidade de acabar ou reduzir as doenças e a necessidade de fortalecer o sistema de saúde. Ainda temos muitos desafios pela frente em relação ao desenvolvimento e produção de novas vacinas. Muitas reflexões têm sido feitas com o objetivo de incrementar a capacidade regional de produção de vacinas, que tem sido liderada pelo Brasil na região.


Como a senhora vê o programa de erradicação da varíola?


Mirta: O programa de erradicação da varíola deve permanecer na nossa consciência coletiva como o exemplo importante de trabalho colaborativo. Também inspirou uma geração de profissionais da saúde pública e muitos outros grandes programas, incluindo a vacinação, a vigilância epidemiológica e aqueles que fizeram importantes progressos no sentido da erradicação global da pólio e do verme da Guiné e da eliminação do sarampo e da rubéola nas Américas. No fim do encontro na Fiocruz, um documento foi produzido por cientistas, trabalhadores da saúde, historiadores e demais profissionais reunidos durante os quatro dias do simpósio. A declaração destaca os benefícios alcançados a partir da erradicação da varíola. Foi muito interessante que esse encontro tenha sido realizado justamente no último país endêmico da região das Américas. A varíola é a única doença erradicada pelo homem em todo o mundo, e essa é uma conquista que precisa ser comemorada.


Em 2011, será realizado o primeiro encontro da OMS sobre determinantes sociais. Quais são as expectativas em relação a esse encontro?


Mirta: Será um momento histórico. Em setembro, líderes mundiais irão a Nova York participar de uma conferência para analisar os avanços dos objetivos do milênio. Eles terão boas notícias, mas também sairão do encontro com muitas preocupações. Uma delas será em relação às melhorias necessárias do sistema de informação para monitorar o progresso e a necessidade de abordagem dos determinantes sociais. Muitos dos problemas que a saúde precisa se confrontar estão fora da área da saúde. Essa conferência vai acontecer em um momento bem oportuno, e a intenção do Brasil é que o momento de reflexão sirva como ponto de partida para demonstrar a importância dos determinantes sociais, que foi amplamente discutido pela Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde, criada em 2006. A conferência servirá para definir as estratégias para colocar a questão da saúde em todas as políticas e setores, com o objetivo de produzir mais saúde.


A Fiocruz está se juntando à União das Nações Sul-Americanas (Unasul) com o objetivo de construir pontes colaborativas entre instituições de ensino brasileiras e norte-americanas. Quais são as expectativas dessa parceria?


Mirta: A saúde tem sido um importante motor da integração sul-americana há muitas décadas. Mas agora, com o Mercosul e com o Unasul, a integração da região está ainda mais acelerada. O objetivo da Unasul é buscar o equilíbrio internacional na construção do conhecimento e compartilhamento de informações. Em relação às redes estruturantes dos sistemas de saúde, a Unasul propõe o intercâmbio institucional por meio de quatro grupos já definidos: institutos de saúde pública; escolas de formação profissional com prioridade para medicina, enfermagem e odontologia; escolas de saúde pública; e escolas de formação de técnicos de saúde. A geração de conhecimento originária das redes deverá estar centrada nas necessidades sociais e no entendimento de que a ciência é um assunto de interesse público e, portanto, também deve levar em conta questões observadas pela sociedade.


Em relação à Ensp/Fiocruz, de que maneira a Escola pode contribuir ainda mais para as atividades da Opas?


Mirta: A Ensp/Fiocruz é parte de uma rede de instituições nacionais e de centros colaboradores da OMS, que contribuem para a implementação das atividades da Opas, passando pelos recursos humanos, as tecnologias, as inovações, a capacitação e formação de recursos humanos para os sistemas de saúde e também para a pesquisa. É uma instituição parceira importante dentro da nossa rede.


Publicado em 10/9/2010.

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