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10/04/2007

“Mapa falante” indica condições sanitárias

Ricardo Valverde


Biólogo e sanitarista, o paulista Leando Luiz Giatti trocou a agitação e o cinza de São Paulo pelo verde da Amazônia em 2003, quando foi a São Gabriel da Cachoeira (AM) trabalhar para o Ibama e, posteriormente, se envolveu em um projeto de pesquisa financiado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), em convênio com a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. No município amazonense – um daqueles em que os índios formam a maioria da população – ele conheceu alguns pesquisadores da Fiocruz e se interessou em trabalhar no CPqLMD, onde atualmente é bolsista de Desenvolvimento Científico Regional (CNPq/Fapeam). Giatti mudou de instituição, mas continua interessado nas regiões do remoto noroeste do Amazonas, onde desenvolve pesquisas sobre saúde e saneamento em Iauaretê, um distrito de São Gabriel  da Cachoeira no interior de terras indígenas que tem 2.700 habitantes em dez vilas agregadas em um núcleo com feições urbanas. Um dos objetivos da pesquisa foi descrever a situação da captação de água, da contaminação de fontes e entender as concepções dos indígenas quanto a essa questão e conhecer as suas práticas sanitárias.


 Por meio dos mapas falantes os índios desenham a situação sanitária em que vivem e projetam melhorias

Por meio dos mapas falantes os índios desenham a situação sanitária em que vivem e projetam melhorias


“Fizemos três visitas ao local em 2005 e uma agora em 2006. Nosso método é o de pesquisa-ação, que preconiza participar e interagir com as comunidades indígenas, tentando construir junto com os moradores um conhecimento que permita resolver os problemas sanitários deles. E se a comunidade não se sentir envolvida, o projeto fracassa”, diz Giatti, que além de enfrentar dificuldades de aceitação da pesquisa por parte dos indígenas percorreu longas distâncias entre Manaus e Iauaretê: aproximadamente 1.100 quilômetros. O acesso ao campo de pesquisa pode ser feito de avião até São Gabriel da Cachoeira e de voadeira (bote de alumínio com motor de popa) até Iauaretê, num trecho de cerca de 300 quilômetros navegáveis em dois dias pelos rios Negro e Waupés. O projeto contou com um importante apoio logístico, com o transporte de Manaus a Iauaretê sendo realizado com a colaboração do 7º Comando Aéreo Regional da Força Aérea Brasileira.


Na região, constata-se falta de profissionais de saúde – raros são os que vão até lá e, desses, mais raros ainda são os que moram por algum tempo – e entre a população é comum seguir costumes ancestrais e levar os doentes ao pajé. Por meio de reuniões comunitárias e entrevistas foram identificadas fontes de obtenção de água, estudadas as concepções dos indígenas quanto à qualidade do produto e as práticas sanitárias deles. Nas visitas, a equipe coletou 63 amostras de água, que foram analisadas quanto à presença ou à ausência de coliformes termotolerantes (E. coli) pelo método Colilert. Para os pesquisadores, ficou claro que os índios julgavam a qualidade da água por aspectos visuais, preferindo o líquido de aspecto límpido, não fazendo tratamento nem mesmo para o que bebiam.


Um método freqüentemente utilizado por Giatti é o do “mapa falante”, pelo qual os indivíduos desenham como vêem a situação em que vivem em termos sanitários, deixando claro o que está bom e o que é ruim. Essa representação coletiva, pela qual também foi solicitado que os pesquisados fizessem uma projeção de como estaria a situação sanitária do local em que vivem no futuro (em um ano e em cinco anos), foi selecionada pelo Ministério das Cidades como Experiências Bem-Sucedidas em Educação Ambiental para o Saneamento (concurso 002/2006).

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