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11/09/2008

Ações conjuntas e continuadas por um território livre da dengue

Fernanda Marques


Nesta sexta-feira (12/9), moradores de comunidades localizadas no entorno do campus da Fiocruz participarão de uma oficina do Programa de Controle da Dengue em Manguinhos (PCDM). A turma, com 50 pessoas, vai conhecer o ciclo evolutivo do Aedes aegypti e receberá treinamento, com lupas e microscópio, para identificar o mosquito vetor da doença. Os participantes serão moradores, equipes de controle de endemias, agentes do Programa de Saúde da Família (PSF), carteiros e garis que vivem ou trabalham na região. “Esta é uma ação educativa conjunta, que integra moradores e profissionais de saúde. Esta é justamente a estratégia necessária para combater a doença. É preciso entender a entomologia do mosquito dentro do contexto da habitação”, ressalta o coordenador do PCDM, Alexandre Pessoa. A oficina ocorrerá das 13h30 às 16 horas Sala M do Centro de Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp).


Enfrentar a dengue com ações que vão muito além da distribuição de folhetos educativos e passam pela construção de soluções conjuntas, envolvendo comunidade, governo, pesquisadores, técnicos e profissionais de saúde: este é o compromisso do Grupo de Ações Contínuas Contra a Dengue, criado este ano com o objetivo de controlar a doença no território de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde estão 14 comunidades que registram um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano do município. Atualmente, o Grupo tem trabalhado na consolidação do PCDM.


Fruto de uma demanda do Fórum do Movimento Social para o Desenvolvimento Eqüitativo e Sustentável de Manguinhos (FMSDES), a iniciativa reúne lideranças e moradores das comunidades e também representantes de instituições, tais como as secretarias estadual e municipal de Saúde, Comlurb, Rede Centro de Cooperação e Atividades Populares (CCAP), Organizzazione Cooperazione e Sviluppo (Cesvi), União Ativista Defensora do Meio Ambiente (Uadema) e, é claro, Fiocruz – instituição que é referência nacional e internacional em saúde pública e cuja sede está localizada em Manguinhos. Da Fundação participam a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), incluindo as equipes do Programa Saúde da Família (PSF) do Centro de Saúde, a Coordenação de Projetos Sociais da Presidência, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos), a Diretoria de Administração do Campus (Dirac) e o Instituto Oswaldo Cruz (IOC).


Reunidos no início de agosto, os coordenadores do PCDM começaram a avaliar as atividades já feitas; reafirmaram o caráter interdisciplinar e interinstitucional do trabalho; fortaleceram a articulação com os movimentos sociais de Manguinhos; e escolheram Elizabeth Campos, que está à frente dos projetos da Rede CCAP e integra o FMSDES, para a coordenação-geral do Programa. Em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias (AFN), o Grupo de Ações Contínuas Contra a Dengue, representado por Elizabeth, apresenta as ações que têm sido implantadas para o combate e a vigilância da doença em Manguinhos.


 Elizabeth (à esquerda): não basta distribuir folhetos informando sobre a dengue: é preciso construir, juntamente com os moradores locais, formas de promoção da saúde

Elizabeth (à esquerda): não basta distribuir folhetos informando sobre a dengue: é preciso construir, juntamente com os moradores locais, formas de promoção da saúde



  

AFN: O que é o Grupo de Ações Contínuas Contra a Dengue? Como e quando surgiu a iniciativa?

Elizabeth Campos:
O início do processo se deu no dia 25 de março deste ano, durante uma das reuniões do FMSDES, momento em que líderes comunitários solicitaram a ajuda da Fiocruz no combate à dengue na região. A partir de então, várias ações convergiram para o Dia D de Mobilização Contra a Dengue em Manguinhos, ocorrido em 14 de abril. Participaram da iniciativa lideranças e moradores das 14 comunidades do Complexo de Manguinhos, assim como profissionais de diferentes unidades da Fiocruz e de outras instituições. Esta ação de mobilização social já trazia, desde a sua concepção, a estratégia das ações contínuas no controle da dengue. O Grupo de Ações Contínuas contra a Dengue é uma coletividade em ação, com uma territorialidade em Manguinhos, integrada por pessoas que assumiram um compromisso permanente para o controle da dengue, no entendimento de que é na convergência dos saberes e na construção do conhecimento conjunto que devemos caminhar para atingir objetivos de saúde pública, bem-estar e cidadania.


AFN: O trabalho continuou após o Dia D de Mobilização Contra a Dengue?

Elizabeth:
Sim. Em reuniões que se seguiram ao Dia D, com a articulação entre os diversos interlocutores, foi definido um Plano de Mobilização Social e Educação Permanente, prevendo ações nos seguintes segmentos: 1) Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – intervenção junto à Secretaria de Obras dos entes governamentais envolvidos, sugerindo a inclusão de projetos que garantam a redução de ambientes que possam servir como criadouros de mosquitos, em especial o Aedes aegypti; 2) População – ações educativas através do uso de ferramentas pedagógicas a serem aplicadas em escolas, associações de moradores, organizações da sociedade civil local e moradores em geral; e 3) Equipes de Brigadas – criação de 14 Equipes de Brigadas, uma para cada comunidade envolvida. Elas serão capacitadas para identificar e encaminhar os problemas detectados. Este trabalho terá coordenação e orientação permanente de técnicos, pesquisadores e estudiosos do combate à dengue.


AFN: Quais são, hoje, as principais atividades do Grupo?

Elizabeth:
As atividades incluem reuniões de discussão, planejamento e implementação de atividades contínuas de controle da dengue em Manguinhos, por meio de um processo de construção coletiva e dialógica entre os diversos interlocutores. Há três meses, o Grupo promove reuniões semanais, às quartas-feiras, para discutir, estruturar e manter essas atividades. Também são promovidos encontros objetivando maior adesão de participantes internos e externos à Fiocruz na implantação de novas etapas. Nessas ocasiões, tem sido destacado que, para controlar a dengue na região de Manguinhos, é necessário reforçar ações em escolas, associações de moradores, igrejas e junto aos moradores locais, com ênfase nas crianças e mulheres. Já se contatou que não basta distribuir folhetos informando sobre a dengue: é preciso construir, juntamente com os moradores locais, formas de promoção da saúde.


AFN: O que já foi feito e quais os planos futuros para, efetivamente, construir soluções conjuntas?

Elizabeth:
Entre 28 de julho e 4 de agosto, foi realizado o primeiro curso de mobilização contra a Dengue, com patrocínio da organização humanitária italiana Cesvi e apoio da Fiocruz. Ele ocorreu na Fundação e contou com a participação de agentes comunitários de saúde, agentes de controle de endemias, representantes do FMSDES e moradores da região. O curso incluiu atividades teóricas, como aulas expositivas, projeção de filmes e debates, e atividades práticas, como grupos de trabalho para discussão de material educativo sobre a dengue, colocação e retirada de armadilhas, e coleta e observação de larvas e pupas. Por meio dessas estratégias pedagógicas, buscou-se difundir informações técnico-científicas sobre a dengue, assim como aprofundar o conhecimento acerca dos problemas relacionados a esta doença em Manguinhos.


AFN: Qual o balanço desse primeiro curso?

Elizabeth:
O curso foi a primeira resposta ao FMSDES no sentido de discutir, junto aos atores sociais envolvidos no controle da dengue, estratégias para minimizar o impacto da doença no território de Manguinhos. Evidentemente, ainda existe uma longa caminhada, visto que tais iniciativas – que envolvem a construção do conhecimento acerca de problemas ambientais e de saúde coletiva, bem como o planejamento e a execução de ações de prevenção e controle de enfermidades – devem ser construídas cuidadosamente, respeitando-se o nível de compreensão que cada um dos seus integrantes tem sobre elas. Também estão sendo planejadas, de forma participativa, as oficinas de educação e mobilização social em saúde e em saneamento, previstas para setembro. Tanto o curso quanto as oficinas integram o Programa de Controle da Dengue em Manguinhos (PCDM) no seu processo de construção coletiva.


AFN: Quais são as diretrizes e as propostas do PCDM?

Elizabeth:
É importante ressaltar que a construção do PCDM resulta de uma série de discussões que culminaram num primeiro encontro, no dia 26 de junho, convocado pelo Grupo de Ações Contínuas Contra a Dengue. Neste encontro, que envolveu a participação de representantes de organizações comunitárias locais, técnicos da Prefeitura e agentes de endemias, entre outros participantes, foram discutidos e aprovados os três eixos que fundamentam o desenvolvimento do PCDM: 1) diagnóstico socioambiental local; 2) formação continuada de agentes sociais locais; e 3) ações continuadas para a redução da dengue. Além disso, foram escolhidas pessoas responsáveis pela dinamização de tais eixos programáticos.


AFN: Como tem sido a relação entre o Grupo e a Presidência da Fiocruz?

Elizabeth:
Recentemente, houve uma reunião com a Vice-Presidência de Serviços de Referência e Ambiente (VPSRA), com o objetivo de apresentar uma proposta preliminar para o desenvolvimento do PCDM. Nesta proposta, onde constam os três eixos programáticos, foram apontadas as estratégias do programa. Estas incluem atividades teóricas na Fiocruz, atividades práticas na Fundação e em diferentes locais de Manguinhos, e a criação de um banco de dados, visto que tanto a prevenção quanto o controle da dengue exigem a produção e a utilização de dados epidemiológicos e socioambientais. As sugestões foram bem recebidas pela VPSRA, que já fez o encaminhamento da proposta na reunião da Presidência da Fiocruz.

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