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17/12/2007

A importância do pré-natal para evitar óbitos por falta de peso em recém-nascidos

Renata Moehlecke


Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo apontou que a ausência de tratamento pré-natal, a internação materna e a presença de doenças durante a gestação (com destaque para a hipertensão e as infecções gênito-urinárias) e idade materna superior ou igual a 35 anos constituem fatores de risco associados ao nascimento de bebês de muito baixo peso ou prematuros em população de baixa renda. A pesquisa foi publicada na edição de dezembro da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.


 A maioria das gestantes do estudo iniciou suas consultas de pré-natal no segundo trimestre da gravidez, ou seja, tardiamente (Foto: Coesis)

A maioria das gestantes do estudo iniciou suas consultas de pré-natal no segundo trimestre da gravidez, ou seja, tardiamente (Foto: Coesis)


Para fazer a análise, os pesquisadores observaram 200 casos de recém-nascidos com peso entre 500 e 1.499 gramas e, como grupo de controle, 400 bebês nascidos com entre 3 mil e 3.999g. O local escolhido foi o Hospital Geral de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, que atende exclusivamente pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Caxias do Sul foi escolhida por apresentar, em 2003, uma freqüência de 1,6% de recém-nascidos de peso muito baixo, sendo estes os responsáveis por 42% de todos os óbitos infantis da cidade. Os nascimentos verificados pelo estudo ocorreram entre os anos 1998 e 2004.


Das crianças verificadas, 45% dos recém-nascidos de muito baixo peso foram classificados como pequenos para a idade gestacional. A mortalidade desses bebês que se encontravam abaixo de mil gramas foi de 68,8%. Os do que apresentavam peso superior a mil gramas foi de 16,5%. “A principal causa básica de óbito dos recém-nascidos de muito baixo peso foi a hipertensão materna (35,3%) e como causa imediata de óbito predominou a infecção (52,3%)”, afirmam os pesquisadores. Eles destacam que a hipertensão materna foi a principal causa clínica do desencadeamento de partos prematuros e chamaram atenção para o grande número de casos de mães com sífilis, toxoplasmose e Aids em ambos os grupos avaliados. “Essas podem ser evitadas ou ter os seus efeitos minimizados por meio de uma maior freqüência ao pré-natal e de acompanhamento qualificado à gestante de risco”.


Eles também comentam que as mães dos recém-nascidos de muito baixo peso fizeram, em média, quatro consultas pré-natais, enquanto as dos bebês do grupo de controle fizeram cerca de 6,5. “Ao analisar o número de gestantes com que não fizeram nenhuma consulta pré-natal, observou-se que 18,5% das mães dos recém-nascidos de muito baixo peso estavam nesse situação em comparação com apenas 3,3% das mães do grupo de controle”, explicam. “Essa diferença foi estatisticamente significante, mostrando que a ausência de pré-natal está fortemente associada ao nascimento de recém-nascidos de muito baixo peso”. Quanto à idade das mães, as gestantes com 35 anos ou mais apresentaram associação com o baixo peso das crianças (principalmente aquelas que já tinham um filho anterior nascido com o problema), enquanto as adolescentes não constituíram nenhum fator de risco.


A maioria das gestantes do estudo iniciou suas consultas de pré-natal no segundo trimestre da gravidez, ou seja, tardiamente. “Este fato, aliado à dificuldade do SUS de proporcionar exames na rapidez necessária e um atendimento qualificado, tem gerado muitos nascimentos de recém-nascidos de muito baixo peso causados por doenças evitáveis, diferentemente dos países desenvolvidos, onde os nascimentos prematuros têm aumentado devido a um maior número de gestações múltiplas”, esclarecem os pesquisadores.


“É importante enfatizar que o custo econômico para se evitar o nascimento de recém-nascidos de muito baixo peso é muito menor do que o custo do tratamento destes em unidades de tratamento intensivo”, declaram estudiosos no artigo. Eles acrescentam que é por meio de programas preventivos e de baixo custo, elaborados com base em estudos epidemiológicos, que se pode diminuir o número de casos e, conseqüentemente, influenciar positivamente a redução das taxas de mortalidade infantil.

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