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11/03/2011

Acordo dá início à construção da primeira fábrica de medicamentos de Moçambique

Alana Gandra/Agência Brasil


O acordo que dará início às obras de adequação do prédio em que funcionará a primeira fábrica de antirretrovirais de Moçambique, em Maputo, foi assinado na quarta-feira anterior ao Carnaval (2/3). O projeto conta com apoio do governo brasileiro, por meio do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Farmanguinhos/Fiocruz) e a mineradora Vale. O contrato será firmado entre a Vale, o Instituto de Gestão das Participações do Estado, ligado ao governo moçambicano, e a empresa sul africana Pro-Er, vencedora da licitação para adaptação da área, visando à montagem da fábrica.


 Fachada da fábrica de produção de antirretrovirais em Moçambique

Fachada da fábrica de produção de antirretrovirais em Moçambique


As obras deverão durar cerca de 12 meses. A expectativa é que a fábrica comece a operar ao fim de 2012, segundo o diretor de Farmanguinhos, Hayne Felipe. Os equipamentos serão doados pelo governo brasileiro, de acordo com compromisso assumido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante sua primeira visita ao país africano, em 2003. A Fiocruz está comprando os equipamentos em vários países, entre os quais os Estados Unidos e a Itália. “Nós vamos treinar o pessoal, capacitá-los, instalar os equipamentos, fazer a transferência de tecnologia dos nossos produtos para eles e a fábrica começa a operar”, afirma Hayne Felipe.


Até agora, foram gastos na aquisição dos equipamentos cerca de R$ 8 milhões. “Como há a transferência de tecnologia de Farmanguinhos para a fábrica, o que nós estamos fazendo é um espelho, uma imagem especular, da nossa fábrica para eles. O que nós temos aqui, nós estamos comprando igual e instalaremos lá”. Os investimentos da mineradora Vale, no valor de US$ 4,5 milhões, permitiram resolver o problema de falta de recursos do governo moçambicano, que estava atrasando muito o desenvolvimento do projeto. “A Vale se prontificou [a doar] e está entrando com esses recursos, permitindo que as obras sejam feitas por meio da empresa que venceu a licitação”, diz o diretor de Farmanguinhos.


A fábrica produzirá inicialmente 21 medicamentos que estão em domínio público. “Nós não podemos reproduzir medicamentos que estão sob patente. Então, você pode dizer, a grosso modo, que nós produziremos genéricos ou similares”. Parte desses remédios está vinculada a antirretrovirais, para tratamento da Aids. Moçambique é um dos dez países do mundo mais atingidos pelo HIV.


Hayne Felipe afirmou que a produção de antirretrovirais em Moçambique evitará o problema de interrupção do fornecimento de medicamentos por causa da necessidade externa de financiamento e de importação. “Inclusive, um problema que a gente observou e que já está ocorrendo, que é um certo nível de resistência do vírus, porque você não tem uma sequência de fornecimento para a população”.


Outros medicamentos são destinados ao tratamento de diabete, hipertensão, entre outras doenças, de acordo com Felipe. A estimativa é que serão feitas 300 milhões de unidades farmacêuticas de antirretrovirais e em torno de 150 milhões de unidades de outros medicamentos. “No total, a gente estima que a produção ficará entre 450 milhões e 500 milhões de unidades farmacêuticas por ano”.


A construção da primeira fábrica de medicamentos de Moçambique vai representar economia de divisas para o país africano, que deixará de importar esses remédios. Antes, só havia uma fábrica de soros no país. “Então, toda a assistência farmacêutica moçambicana é dependente de importação e, principalmente, financiada por programas de governos estrangeiros ou de organismos internacionais”.


Dependendo do volume de produção e da demanda externa, Moçambique poderá se tornar um polo exportador para toda a África, como afirmou em novembro do ano passado o ex-presidente Lula em sua última viagem ao continente africano, admite o diretor de Farmanguinhos. Ele acentuou que, se Moçambique “conseguir o que o Brasil conseguiu, ou seja, ter um controle efetivo sobre a infestação com o vírus, é possível que a sobra dessa produção possa ser ofertada aos países vizinhos”. Ele ressalta, porém, que originalmente a fábrica tem por objetivo atender à demanda da população moçambicana.


Lula e Temporão visitam instalações da fábrica que produzirá antirretrovirais


Publicado em 10/3/2011.

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