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23/09/2008

Aleitamento materno no Piauí tem taxas melhores que as de capitais brasileiras

Fernanda Marques


Contrariando o senso comum, uma pesquisa feita no Piauí mostrou que a prática do aleitamento materno era significativamente maior entre mulheres das classes econômicas C, D e E, se comparadas às das classes A e B, e entre aquelas que moravam na zona rural, em comparação às da área urbana. “O fato de o estudo ter identificado uma maior duração de aleitamento materno nas classes menos favorecidas sugere uma melhor difusão de saberes e práticas nesse estrato social”, dizem os pesquisadores em artigo recém-publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, periódico científico da Fiocruz. Entre os autores estão a nutricionista Carmen Viana Ramos, doutoranda do Instituto Fernandes Figueira (IFF) da Fiocruz, e seu orientador, o engenheiro de alimentos João Aprígio Guerra de Almeida, coordenador da Rede Latino-Americana de Bancos de Leite Humano.


 Óleo sobre tela <EM>Cenas de aleitamento</EM>, montado em parede no posto de saúde Ernesto Nazareth, na Freguesia, Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, de autoria de Guttman Bicho

Óleo sobre tela Cenas de aleitamento, montado em parede no posto de saúde Ernesto Nazareth, na Freguesia, Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, de autoria de Guttman Bicho


Participaram do estudo as mães de quase 2 mil crianças menores de 1 ano. As mulheres foram entrevistadas no momento em que levavam os filhos para vacinação, durante campanha em 2006. Cerca de 80% das crianças recebiam leite materno, associado ou não a outros alimentos. Contudo, enquanto a probabilidade de estar em aleitamento materno era de 92% entre os bebês no primeiro mês de vida, esse percentual era inferior a 60% entre as crianças com 9 meses ou mais.


Os pesquisadores também coletaram dados relacionados ao aleitamento materno exclusivo, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) até os 6 meses de idade do bebê. Os resultados revelaram que os recém-nascidos tinham 72% de probabilidade de estarem recebendo apenas leite materno, mas esse percentual caía para 16% quando as crianças completavam um semestre de vida. Outro dado da pesquisa indica que a duração mediana do aleitamento materno exclusivo era de 67 dias.


No artigo, os pesquisadores comparam os resultados no Piauí com os obtidos em estudos feitos em outros locais. Verificaram que os percentuais no estado eram melhores que os observados na maioria das capitais brasileiras. Eram melhores, inclusive, que os encontrados em Teresina, em investigação feita no final nos anos 90. No entanto, os resultados sobre amamentação no Piauí não podem ser considerados satisfatórios. Apesar de relativamente melhores que os de outros locais e até os de Teresina, anos atrás, os índices de aleitamento materno no Piauí permanecem aquém das recomendações oficiais feitas pela OMS e pelo Ministério da Saúde.


Além da amamentação exclusiva de todos os bebês até os seis meses de vida, a OMS e o ministério preconizam, ainda, que toda criança continue a receber o leite materno, associado a outros alimentos, até os 2 anos, pelo menos. “A promoção do aleitamento materno figura entre as intervenções viáveis, efetivas e de baixo custo que podem prevenir até 63% das mortes passíveis de ocorrer antes dos 5 anos de idade”, defendem os autores.


De acordo com os pesquisadores, não mamar no peito nas primeiras 24 horas após o nascimento e utilizar mamadeira ou chupeta são fatores associados a menores prevalências de aleitamento materno. “Segundo a OMS, o uso de chupeta e mamadeira apresenta risco de transmissão de infecções, redução no tempo gasto na sucção do peito e interferência no aleitamento sob livre demanda, além de alterar a dinâmica oral”, alertam Carmen, Aprígio e co-autores, destacando que, apesar das campanhas educativas, persiste a adoção de chupetas e mamadeiras.


Porém, esses utensílios não são os únicos responsáveis pelo desmame precoce, que pode estar associado, também, a fatores como ambiente, personalidade materna, emoções, relações familiares, influências culturais, respostas das mulheres aos diferentes problemas do cotidiano, papel dos meios de comunicação e da indústria de alimentos infantis. “A mulher precisa se sentir apoiada para a realização do ato de amamentar”, resumem.


Publicado em 23/9/2008.

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