Início do conteúdo

06/02/2007

Ambiente social determina hábito de fumar na adolescência

Fernanda Marques


Durante anos, pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas conduziram um estudo cujo objetivo era identificar fatores de risco que, presentes no início da vida, podem determinar se a criança se tornará um adolescente fumante. Os pesquisadores investigaram milhares de indivíduos, de ambos os sexos, desde o nascimento até os 18 anos. Nesta idade, 15% dos jovens, tanto rapazes como moças, fumavam diariamente. O tabagismo na adolescência se mostrou fortemente relacionado ao ambiente social no qual os indivíduos cresceram – questão que deve ser levada em conta para aumentar a eficiência das campanhas contra o cigarro. Os resultados do estudo estão na edição de fevereiro da revista Cadernos de Saúde Pública.


 Segundo o estudo, que acompanhou milhares de indivíduos, a tendência é a prevalência do tabagismo se tornar maior entre as mulheres (Foto: Jonathan Triest / Michigan Daily)

Segundo o estudo, que acompanhou milhares de indivíduos, a tendência é a prevalência do tabagismo se tornar maior entre as mulheres (Foto: Jonathan Triest / Michigan Daily)


Embora a prevalência do tabagismo tenha sido semelhante para rapazes e moças, os fatores de risco foram diferentes entre os sexos. No caso dos meninos, o fumo na adolescência foi mais freqüente entre aqueles que eram filhos de mães solteiras ou cujos pais apresentavam baixa escolaridade. As meninas com maior risco de se tornarem adolescentes fumantes pertenciam a famílias de baixa renda, nas quais as mães consumiam cigarros durante a gravidez e os pais demonstravam problemas com o álcool.


Como os fatores de risco diferem entre os sexos, as campanhas anti-tabagismo também devem ser distintas para cada gênero. “Por exemplo, intervenções baseadas na família podem ser mais eficientes em reduzir o tabagismo entre garotas”, diz o artigo, assinado por Ana Maria Menezes, Pedro Hallal e Bernardo Horta, do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia.


A pesquisa começou em 1982, ano em que cerca de seis mil bebês cujas famílias viviam na zona urbana de Pelotas nasceram nos três hospitais-maternidade da cidade gaúcha. As mães dessas crianças, logo após o parto, foram entrevistadas. O intuito era coletar dados demográficos e socioeconômicos, bem como obter informações sobre a gravidez e o comportamento da família.


Em 1984 e em 1986, a maioria daquelas mães foi localizada e entrevistada novamente. Por volta do ano 2000, quando os indivíduos nascidos em 1982 completavam a maioridade, a equipe de Ana Maria buscou localizá-los e entrevistá-los. Encontrar os meninos foi uma tarefa relativamente mais fácil, devido ao alistamento militar. Os pesquisadores conseguiram aplicar questionários a mais de 2.200 rapazes e a 473 moças.


As respostas revelaram que 48,6% dos garotos e 53,1% das meninas já haviam experimentado cigarro. O hábito de fumar foi adquirido antes dos 13 anos para 11,5% dos homens fumantes e para 18% das mulheres fumantes. “Enquanto os homens apresentam taxas decrescentes de tabagismo, o oposto é observado entre as mulheres. Se nenhuma medida for tomada, a tendência, no futuro próximo, é a prevalência de tabagismo se tornar maior entre as mulheres”, alerta o artigo.

Voltar ao topo Voltar