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26/11/2010

Apontada alta incidência de violência contra idosos com base em dados de IML

Renata Moehlecke


Em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) apontaram o perfil de violência física em pessoas de terceira idade moradoras da capital pernambucana. A pesquisa teve como base a consulta de 1.027 idosos submetidos à perícia traumatológica no Instituto de Medicina Legal do Recife. Os resultados, descritos de acordo com as características do evento, da vítima e do agressor, indicaram que a violência foi produzida com maior frequência por energia mecânica (socos e pontapés), ocorreu em um domingo, à noite e na residência da vítima, acometendo mais de uma parte do corpo e sendo as lesões leves. Prevaleceram como vítimas os homens, com idade entre 60 e 69 anos, pardos, casados e aposentados. A maioria dos agressores era homem, conhecido da vítima e a agrediu desacompanhado.


 Segundo os pesquisadores, apesar de o estudo não medir a magnitude do abuso a pessoas de idade, os resultados revelam que o fenômeno da violência contra idosos é um problema de saúde pública

Segundo os pesquisadores, apesar de o estudo não medir a magnitude do abuso a pessoas de idade, os resultados revelam que o fenômeno da violência contra idosos é um problema de saúde pública


Segundo os pesquisadores, no que se refere ao abuso físico, 89,5% envolveram traumas sem cortes e 40,4% das vítimas relataram machucados nos membros superiores e na face. A maior parte dos ferimentos foi considerada branda e 1,9% classificada como graves. “A alta proporção de agressões físicas, seguida pelo uso de armas, demonstra a fragilidade dos idosos, dado que o ataque foi realizado sem qualquer tipo de objeto”, comentam os estudiosos. “A transcendência social do problema torna imperativo o investimento em programas para seu enfrentamento, possibilitando uma melhor qualidade de vida para o idoso”.


Os agressores apresentaram 2,4 vezes mais chances de serem homens do que mulheres. Em 54,3% dos casos, eles não eram parentes da vítima, mas esses, em sua maioria (73,3%), eram conhecidos por elas. Em casos em que há parentesco, 83,7% das agressões foram efetuadas por filhos das vítimas. Os pesquisadores ainda explicam que a maior ocorrência de casos nos fins de semana pode ser explicada pelo aumento do contato familiar no período ou pelo fato de que os agressores em potencial têm mais possibilidades de terem consumido álcool. “A alta incidência de abuso no período noturno pode ser parcialmente explicada pelo fato de que muitos idosos sofrem de insônia, potencialmente irritando outras pessoas que vivem junto com eles”, acrescentam.


“Apesar de o estudo não medir a magnitude do abuso a pessoas de idade, o que os resultados revelam é suficiente para tratar o fenômeno da violência contra idosos como um problema de saúde pública, devido a sua transcendência social, já que envolve consequências físicas e psicológicas”, destacam os pesquisadores. “É necessário encorajar idosos e a sociedade a prestar queixas contra casos de abuso, a fortalecer as redes formais e informais de suporte e proteção a vítimas, e punir os agressores. Violência contra idosos é obviamente um assunto complexo e lidar com ele é uma tarefa que requer esforços intersetoriais e investimentos”.


Publicado em 19/11/2010.

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