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02/09/2016

Artigo aborda debate sobre miscigenação racial proposto por Roquette-Pinto no início do século 20

Blog da revista 'História, Ciências, Saúde - Manguinhos'


No Brasil, o debate sobre miscigenação racial foi um dos assuntos que mais mobilizaram a opinião de cientistas e intelectuais nas primeiras décadas do século 20, motivando a produção de uma série de ensaios de caráter científico e literário. No contexto internacional, o tema também vinha suscitando inúmeras polêmicas, resultado tanto das teorias eugênicas e do racismo que grassava na Europa e nos EUA desde o século 19 quanto dos interesses imperialistas nos continentes africano, asiático e americano.

Nesse cenário, em regra, os “cruzamentos raciais” eram duramente condenados por médicos, antropólogos, eugenistas e viajantes estrangeiros, sendo vistos como os grandes responsáveis pela degenerescência das populações não europeias. No caso brasileiro, o debate sobre miscigenação ganhou diferentes significados, desde visões negativas sobre o valor dos mestiços, passando por discussões sobre “mestiçagem” e branqueamento da população, até explicações que valorizavam a formação mestiça brasileira como elemento distintivo da identidade e da cultura nacional.

Em diálogo com essas diferentes interpretações, o médico e antropólogo Edgard Roquette-Pinto (1884-1954) pode ser considerado um dos intelectuais brasileiros que mais atenção dedicaram aos estudos sobre miscigenação racial. Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1905, Roquette-Pinto dedicou boa parte de sua trajetória aos estudos em antropologia física, atuando como antropólogo e etnógrafo do Museu Nacional por três décadas, entre 1905 e 1935. Além de suas atividades no campo da antropologia, seu nome também é identificado pelos trabalhos realizados na área da educação e da comunicação e por sua atuação como membro da Academia Brasileira de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil e da Academia Brasileira de Ciências.

No artigo Ciência e miscigenação racial no início do século XX: debates e controvérsias de Edgard Roquette-Pinto com a antropologia física norte-americana, publicado na atual edição de História, Ciência, Saúde - Manguinhos (vol.23, no.3, jul./set. 2016), Vanderlei Sebastião de Souza, professor de história da Universidade Estadual do Centro-Oeste (PR), analisa a maneira como Roquette-Pinto inseriu-se no debate internacional envolvendo o campo da antropologia física e as discussões sobre miscigenação racial. O historiador procura demonstrar que Roquette-Pinto realizou uma leitura politicamente seletiva de autores como os antropólogos Charles Davenport, Madison Grant e Franz Boas, empregando os argumentos que se adequavam ao projeto de valorização dos “mestiços do Brasil” e refutando os que eram contraditórios.

“O debate e as apropriações de ideias feitas por Roquette-Pinto devem ser vistos como ‘estratégias anticoloniais’, concepção empregada por Sérgio Carrara para analisar a reação dos intelectuais brasileiros contra as teorias científicas que estigmatizavam ou inferiorizavam as populações mestiças. Diante da condenação que os europeus faziam da origem mestiça e da suposta imoralidade das populações não brancas, Carrara demonstra que a intelligentsia nacional mobilizou uma série de argumentos que refutavam esses estigmas, criando estratégias que pudessem construir uma ‘identidade nova e positiva para si mesma e para a nação’”, explica o autor.

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Imagem: Edgar Roquette-Pinto com crianças indígenas. Reprodução do livro ‘Antropologia brasiliana – ciência e educação na obra de Edgar Roquette-Pinto’, organizado por Nísia Trindade Lima

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