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17/07/2009

Artigo aponta alta prevalência de lesões bucais em pacientes com HIV no RS

Renata Moehlecke


Manifestações de lesões bucais em paciente com HIV são comuns devido ao enfraquecimento progressivo do sistema imune e às consequentes infecções a que a mucosa bucal se torna susceptível. Como aproximadamente 60% dos indivíduos infectados pelo HIV e 80% daqueles com Aids apresentam tais lesões, estas podem representar um importante aspecto para o diagnóstico da doença. Com base nesses dados, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ambas no Rio Grande do Sul, resolveram avaliar a prevalência dessas lesões em 300 pacientes com HIV do hospital universitário da Furg, assim como identificar fatores associados à sua ocorrência. Os resultados foram publicados na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.     


 

 A lesão bucal mais frequente nos pacientes estudados foi a candidíase (Foto: CHUV) 

 A lesão bucal mais frequente nos pacientes estudados foi a candidíase (Foto: CHUV) 


Os participantes passaram por entrevistas, exames clínicos e análise de seus prontuários médicos. Os resultados mostraram que 39% deles apresentavam lesões bucais, sendo a candidíase a mais frequente (59%). A leucoplasia pilosa (infecção relacionada ao vírus Epstein-Barr) ficou em segundo lugar (25,2%), seguida pela herpes (5,7%) e pelas úlceras (5%). No grupo estudado, nenhum caso de sarcoma de Kaposi, comum nesses pacientes, foi encontrado e os pesquisadores afirmam que isso pode ter acontecido por causa de fatores de proteção.


“Os resultados do presente estudo confirmam uma alta prevalência de lesões bucais e apontam para uma maior valorização do exame da cavidade bucal, em função do seu fácil acesso e de sua grande importância clínica”, afirmam os pesquisadores no artigo. “Tal exame deve ser realizado em todos os pacientes com HIV ou com suspeita de infecção, visto ser um achado clínico de utilidade, revelando uma redução da imunidade e advertindo para demais manifestações oportunistas”.


A pesquisa também indicou um maior risco entre pacientes com menor escolaridade, menor renda, maior consumo de cigarros, dependência de álcool, menor higiene oral, maior tempo de infecção pelo HIV e carga viral mais elevada no momento do exame. Quanto ao tempo de diagnóstico positivo para HIV, o tempo mínimo foi de dois meses e o máximo de 14,4 anos. Os pesquisadores observaram, ainda, que os pacientes internados tinham um aumento de 79% na probabilidade de apresentar algum tipo de lesão oral, enquanto as mulheres apresentavam uma probabilidade 27% menor.


No que diz respeito aos hábitos, 51,3% dos pacientes entrevistados declararam consumir tabaco, sendo a média de cigarros fumados por dia de 7,8. “Cada cigarro a mais fumado determinou um aumento na probabilidade de ter lesão bucal de 2%”, afirmam os autores da pesquisa. “Pode-se supor que as substâncias do tabaco interferem no mecanismo de proteção da mucosa bucal, além de agir pelas glândulas salivares. Isso levaria a uma destruição de mecanismos, criando uma porta de entrada para microrganismos e facilitando a adesão e a proliferação desses diversos agentes nessa superfície”, explicam. 


O uso de álcool - um dos fatores associados às lesões bucais - foi citado por 37% dos entrevistados, sendo que 26,3% deles eram dependentes. “A associação significativa com fatores demográficos e socioeconômicos e com o uso de álcool e fumo evidencia a importante carga social vinculada a este problema, assim como sua relação com determinados hábitos e costumes, que podem ser modificados”, concluem os pesquisadores.


Para ler o artigo científico original, clique aqui.


Publicado em 17/07/2009.  

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