Início do conteúdo

10/06/2008

Artigo aponta necessidade de vigiar infecções pós-cirúrgicas extra-hospitalares

Renata Moehlecke


As principais complicações da prática cirúrgica são as infecções hospitalares, sendo as de sítio cirúrgico (que ocorrem no local do procedimento) as mais freqüentes. No Brasil, na maioria dos hospitais, a vigilância dessas infecções é feita apenas durante a internação do paciente e é interrompida no momento da alta hospitalar. No entanto, o acompanhamento dos pacientes após a saída do hospital é essencial para o cuidado com essas complicações, especialmente em certos tipos de cirurgias infantis, em que a duração da internação após o procedimento é muito curta. Isso é o que aponta um artigo publicado na edição de maio da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais.


 Imagem de <EM>Escherichia coli</EM>, um dos principais patógenos das infecções de sítio cirúrgico de ambos os grupos, tanto no ambiente hospitalar quanto no extra-hospitalar (Foto: Kimicontrol)

Imagem de Escherichia coli, um dos principais patógenos das infecções de sítio cirúrgico de ambos os grupos, tanto no ambiente hospitalar quanto no extra-hospitalar (Foto: Kimicontrol)


Com o objetivo de identificar o perfil e verificar a importância da vigilância de infecções pós-cirúrgicas e extra-hospitalares, os cientistas fizeram um estudo com 730 crianças e adolescentes admitidos em um hospital universitário de Belo Horizonte. “Considerando que de 12% a 84% das infecções de sítio cirúrgico são diagnosticadas fora do hospital, a vigilância pós-alta é imprescindível para reduzir as subnotificações destas infecções”, afirmam os estudiosos. “Ao contrário da vasta literatura mundial em adultos, são escassos os estudos de incidência de infecções de sítio cirúrgicos que incluem a vigilância pós-alta em crianças e adolescentes”.


Para a análise, os pacientes selecionados, que tinham idade média de 4,9 anos e eram 68% do sexo masculino, foram acompanhados por um período de até 30 dias após a cirurgia. Vários métodos de vigilância extra-hospitalar foram empregados, com predomínio do ativo (exame direto da ferida operatória) em 64% dos pacientes acompanhados. A segunda técnica mais usada foi o uso do questionário por telefone (28%), sendo a mãe a principal informante (78% dos casos). “Foram diagnosticadas 87 infecções de sítio cirúrgico, sendo que 37% ocorreram após a alta hospitalar”, comentam os pesquisadores. “Tanto para as infecções de sítio cirúrgico intra-hospitalares quanto para as extra-hospitalares, o diagnóstico da maioria foi feito até a terceira semana de pós-operatório”. Segundo os cientistas, é provável que 21 dias de vigilância sejam suficientes, já que a maioria das infecções se manifestou no décimo primeiro dia do pós-operatório.


Além disso, os pesquisadores apontam que a apendicectomia (remoção do apêndice) foi o procedimento que mais resultou em infecções pós-cirúrgicas ocorridas no ambiente hospitalar e a hipospádia (correção de defeitos de nascimento na genitália masculina) foi o que mais acarretou no âmbito extra-hospitalar. “A Escherichia coli e o Staphylococcus aureus foram os principais patógenos das infecções de sítio cirúrgico de ambos os grupos”, destacam também os estudiosos.


“Nenhum método de vigilância das infecções de sítio cirúrgico após a alta hospitalar ainda foi validado de forma sistemática”, explicam os pesquisadores. “O exame direto da ferida operatória parece ser o mais confiável, mas é trabalhoso e de alto custo. Talvez o custo-benefício compense, pois o retorno dos dados de uma vigilância bem feita pode diminuir as taxas de infecção em até 35% e, conseqüentemente, os custos, considerando-se que cerca de 95% dos ganhos com prevenção de infecções de sítio cirúrgico beneficiam diretamente o hospital”.

Voltar ao topo Voltar