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09/04/2009

Artigo aponta que imigrantes coreanos sofrem de transtornos psiquiátricos em São Paulo

Renata Moehlecke


Um estudo inédito no Brasil analisou a frequência de transtornos psiquiátricos em uma comunidade de imigrantes coreanos em São Paulo, cidade que abriga 98% desta população no país. Realizada por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo e publicada na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, a pesquisa revelou uma alta frequência (41,9%) de apresentação de distúrbios mentais, sendo esta taxa maior do que a verificada pelos coreanos residentes na Coreia (32,6%) e semelhante a encontrada na população brasileira (45,9%).


 As mudanças vividas pelos imigrantes são experimentadas como estressantes, o que pode aumentar a vulnerabilidade a doenças mentais (Foto: Parlamento Europeu)

As mudanças vividas pelos imigrantes são experimentadas como estressantes, o que pode aumentar a vulnerabilidade a doenças mentais (Foto: Parlamento Europeu)


Para a pesquisa, foram entrevistados 324 coreanos, sendo o mesmo o número de homens e mulheres, todos com idade acima de 18 anos. A média de idade encontrada foi de 35 anos. A maioria dos entrevistados ingressou no Brasil quando ainda era jovem, com cerca de 20 anos de idade, e quase a metade (47,5%) vive no país a mais de 15 anos. A maior parte também apresentou rendar familiar (88,3%) e nível de educação (61,7%) altos.


Os principais diagnósticos encontrados foram: transtornos decorrentes de substâncias como tabaco, álcool e drogas (com frequência de 23,1%), transtornos de ansiedade (13%), de humor (8,6%), somatoformes (7,4%), dissociativos (4,9%), psicóticos (4,3%) e alimentares (0,6%). Quanto à busca de alguma assistência para seu problema, 22,5% dos coreanos participantes procuraram clínicos gerais, 3,4% emergências médicas e 1,9% profissionais especializados, como psiquiatras, psicólogos ou assistentes sociais.


“A explicação para essas baixas porcentagens de procura podem ser culturais, porque problemas mentais são vistos como fraqueza ou uma razão para ter vergonha”, afirmam os pesquisadores. “Isso também pode ocorrer devido a dificuldades de comunicação, porque não há serviços públicos disponíveis para populações culturalmente diversas. Estratégias devem ser desenvolvidas para trazer um tratamento adequado para essa população”.


Segundo os pesquisadores, as mudanças enfrentadas pelos imigrantes em contato com uma nova realidade são muitas: ambientais (lugares, tipos de residência, características populacionais), biológicas (comida, doenças locais), culturais (políticas, religiosas, lingüísticas) e psicológicas (identidade, valores, referências internas). “Essas mudanças são experimentadas como estressantes, o que pode aumentar a vulnerabilidade a doenças mentais”, esclarecem as estudiosas. “As autoridades de saúde mental devem promover uma integração mais saudável por meio de programas culturalmente sensíveis aos imigrantes coreanos”.


Os pesquisadores ainda acrescentam que a alta taxa de ansiedade encontrada (13%) pode ser explicada pelo número de casos de estresse pós-traumático. As entrevistas mostraram que 35% dos participantes já sofreram ataques físicos ou assaltos, 23% já se envolveram em acidentes com risco de vida, 20% já viram alguém morrer ou se machucar severamente e 16% já foram ameaçados com armas ou foram seqüestrados.


Atualmente há cerca de 50 mil coreanos no Brasil, que representam 20% do número total de imigrantes no país nos últimos 10 anos. A imigração coreana no Brasil começou em 1953, com a chegada de um pequeno grupo de indivíduos. A comunidade coreana cresceu ao longo das décadas com a chegada organizada de outros grupos pelo governo e devido a imigrações ilegais pelas fronteiras com países vizinhos, como Paraguai, Bolívia e Argentina.


Publicado em 9/4/2009.

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