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04/03/2011

Artigo avalia associação entre tabagismo e trabalho infantil em Pelotas

Renata Moehlecke


Existe uma preocupação de que o trabalho infantil possa gerar em crianças uma síndrome de pseudomaturidade, estimulando hábitos relacionados ao mundo adulto, inclusive o fumo. Com base no grande contingente de trabalhadores jovens no Brasil, pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas avaliaram a associação entre tabagismo e trabalho em 3269 crianças e adolescentes, de 10 a 17 anos, moradores da cidade do Rio Grande do Sul. A prevalência de trabalho infantil foi de 13,8% e de tabagismo de 6,3%, sendo o percentual ainda maior entre as crianças que relataram trabalhar (12,9%). Além disso, mais de um terço dos fumantes afirmaram consumir mais de 10 cigarros por dia.


 A prevalência do fumo foi alta entre crianças trabalhadoras, qualquer que seja o trabalho, quando comparada a das que não exercem nenhuma atividade remunerada

A prevalência do fumo foi alta entre crianças trabalhadoras, qualquer que seja o trabalho, quando comparada a das que não exercem nenhuma atividade remunerada


“Os achados desse estudo sugerem dois alertas de proteção à saúde nessa fase da vida: primeiro, o fumo é uma fonte potencial de danos a ser incluída nas consequências do trabalho infantil; segundo, o local de trabalho é espaço fundamental para prevenção e eliminação do vício do cigarro”, afirmam os pesquisadores em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. “A prevalência do fumo foi alta entre crianças trabalhadoras, qualquer que seja o trabalho, quando comparada a das que não exercem nenhuma atividade remunerada. No entanto, dentre as crianças que trabalham, nenhuma diferença nas prevalências de fumo foi observada de acordo com o tipo de trabalho”.


Segundo eles, o tabagismo também se manteve associado a características da família (menor escolaridade da dona de casa, ausência de seu companheiro, problemas com uso de álcool ou drogas, mãe solteira ou acidente grave) e da criança (idade menor de 16 anos, escolaridade inadequada pra idade e comportamento agressivo). A pesquisa ainda mostrou uma relação inversamente proporcional entre escolaridade e fumo. “Entre as crianças, estar em uma série inadequada com relação à idade e o alto número de faltas escolares apresentou forte associação com o fumo, aumentando as taxas de prevalência de seis a oito vezes, respectivamente”, comentam os pesquisadores.


Os estudiosos também apontam que o vício do cigarro em jovens é facilitado pelo fácil acesso e preços baixos, por pressões e necessidade de aprovação por parte de amigos, parentes ou semelhantes e pela noção de que o hábito traz popularidade. Nas meninas, somasse a esses fatores a ideia de que cigarro acarreta perda de peso. “Não houve associações entre gênero e fumo durante a infância na análise”, indicam os pesquisadores.


Publicado em 3/3/2011.

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