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06/11/2007

Artigo discute as polêmicas da terapia de reposição hormonal

Fernanda Marques


Praticada em todo o mundo, apesar dos potenciais efeitos adversos, a terapia de reposição hormonal (TRH) – uso de hormônios para aliviar os sintomas relacionados à menopausa – “é um bom exemplo de como a evolução do conhecimento médico pode ser tortuosa”. É o que afirma um artigo publicado na edição de novembro da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. Assinado pelos pesquisadores Naidilton de Araújo Júnior, da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, e Daniel Athanazio, do Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz (CPqGM), unidade da Fiocruz na Bahia, o trabalho é uma revisão bibliográfica que descreve a trajetória do conhecimento científico sobre a relação entre a TRH e o câncer de endométrio (camada que reveste internamente o útero). O artigo discute também estudos recentes que associam a TRH com o câncer de mama e complicações cardiovasculares.


 Os resultados de um estudo feito no Reino Unido em 2005, com um milhão de mulheres, mostraram que a TRH combinada reduzia o risco de câncer de endométrio mas aumentava o de tumores malignos na mama

Os resultados de um estudo feito no Reino Unido em 2005, com um milhão de mulheres, mostraram que a TRH combinada reduzia o risco de câncer de endométrio mas aumentava o de tumores malignos na mama


Entre 1962 e 1973 o mercado farmacêutico americano quadruplicou as vendas de hormônios estrógenos usados na TRH. No mesmo período, houve um aumento da incidência de câncer de endométrio entre mulheres na pós-menopausa. Nesse contexto, o periódico científico New England Journal of Medicine publicou, em 1975, dois estudos feitos nos Estados Unidos que apontavam para a relação entre a doença e a terapia. Um deles mostrava que mulheres que faziam a reposição com estrógenos apresentavam um risco mais de sete vezes maior de receber o diagnóstico de câncer endometrial, se comparadas às que não tomavam os hormônios.


“No entanto, a relação causal entre o aumento da prescrição de estrógeno e o aumento na incidência de câncer endometrial não foi tão prontamente aceita pela comunidade científica”, pondera o artigo. Autores alegaram que os dados dos estudos poderiam ter sido interpretados equivocadamente. De qualquer forma, as dúvidas sobre a segurança da TRH chegaram à mídia, o que contribuiu para a redução das prescrições de estrógenos nos Estados Unidos e, paralelamente, houve uma queda no número de casos de câncer de endométrio no país.


Porém, ao longo dos anos 80 e 90, novos estudos apontaram que o uso de estrógenos combinados com outros hormônios, os progestínicos, minimizava o risco de câncer de endométrio entre mulheres que faziam reposição hormonal. Assim, “a TRH chegou ao ano 2000 com algumas certezas, que incluíam o efeito protetor da combinação com progestínicos sobre o endométrio”, diz o artigo. Porém, a esta certeza somavam-se várias dúvidas: pesquisas indicavam que a TRH combinada (estrógenos e progestínicos), embora diminuísse a possibilidade de câncer endometrial, aumentava o risco de câncer de mama e problemas cardiovasculares.


Na tentativa de esclarecer a questão, pesquisadores conduziram uma investigação com um milhão de mulheres no Reino Unido. Os resultados, publicados em 2005, reafirmaram que a TRH combinada reduzia o risco de câncer de endométrio, mas aumentava o de tumores malignos na mama. “Como o câncer de mama é muito mais comum que o endometrial, isso significa que a TRH combinada está associada a um risco total de câncer maior”, explica o artigo. Portanto, à luz dos conhecimentos mais recentes sobre TRH, a combinação de estrógenos com progestínicos, apesar de equacionar o problema do câncer de endométrio, não contrabalança ou mesmo exacerba outros efeitos adversos da terapia – tema que segue envolto em polêmicas.

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