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08/09/2008

Artigo traça perfil de vítimas de acidentes de moto no Piauí

Renata Moehlecke


No Brasil, o número de acidentes envolvendo motocicletas tem aumentado drasticamente: em 1998, foram registrados cerca de 15 mil internações de motociclistas vítimas de acidentes com veículos de duas rodas e, em 2004, esse número subiu para pouco mais de 27 mil, constituindo uma elevação de 79,8%. Dados relativos ao Estado do Piauí evidenciaram que, no mesmo período, houve um aumento de 381,2% de casos com esse mesmo meio de transporte. Com base nesses números, pesquisadores da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí e da Universidade Federal do Piauí resolveram caracterizar as vítimas desse tipo de acidente a partir de 430 pessoas atendidas por esse trauma em um serviço público de emergência da localidade. O estudo foi publicado na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.


 O artigo sugere a integração entre as instituições de ensino superior, as empresas e os representantes das categorias profissionais para ampliar a discussão e definir estratégias específicas de intervenção

O artigo sugere a integração entre as instituições de ensino superior, as empresas e os representantes das categorias profissionais para ampliar a discussão e definir estratégias específicas de intervenção


Os resultados apontaram que 85,8% das vítimas são do sexo masculino e têm entre 15 e 24 anos, com ensino fundamental e médio incompletos. “É possível que muito desses acidentados sejam trabalhadores que utilizam o citado veículo nas propriedades rurais em que trabalham e, com estas motos não licenciadas, eles não passam por nenhum preparo nem são submetidos a qualquer tipo de controle pelos órgãos oficiais”, afirmam os pesquisadores. “Ressalta-se que o Piauí tem ainda um número significativo de pessoas com baixa escolaridade, que não conhecem perfeitamente as sinalizações de trânsito e utilizam bicicletas e motos em seus deslocamentos, sendo importante verificar a relação entre acidentes e a qualidade das vias de deslocamento, posto que, no estado, ocorre o agravante de existirem poucas ciclovias”.


Além disso, observou-se que 95% dos indivíduos examinados eram condutores de motocicleta, 72,9% eram passageiros e 59,3% tinham sido atropelados por moto. “Verificou-se que 76% das vítimas sofreram acidente de quinta-feira a domingo, 80% apresentaram seqüelas temporárias e 52% dos acidentes ocorreram no período noturno”, explicam os pesquisadores. Eles acrescentam que o crescimento do número de acidentes à noite pode estar relacionado com o aumento do consumo de bebidas alcoólicas. “Das 141 vítimas que afirmaram ter feito uso de álcool, embora sem comprovação legal, 57,4% delas o fizeram no turno da noite”, dizem. “Existem chances três vezes maiores de ocorrência de acidentes no final da semana entre os acidentados que tinham feito uso de álcool”.


A ingestão de álcool também apresentou diferenças significativas em relação ao uso de capacete: entre os acidentados que tomaram bebidas alcoólicas, 71,2% não utilizavam o utensílio, enquanto a proporção daqueles sem esse antecedente foi de 43%, ou seja, chances quatro vezes maiores de não utilização do equipamento de segurança entre os que ingeriram bebidas com álcool. “Observa-se também que 12 dos 13 que foram a óbito estavam sem capacete no momento do acidente, verificando-se que neste grupo a chance de morte foi de dez vezes maior do que entre aqueles que utilizavam o equipamento”, esclarecem os pesquisadores.


O estudo também apontou que entre os que não utilizavam capacete na hora do acidente, 23,7% sofreram traumatismo cranioencefálico, apresentando uma chance duas vezes maior de desenvolver lesão do que os que faziam uso do capacete. “Saliente-se que a maioria das vítimas possuía mais de uma área corporal lesada, encontrando-se vítimas com até cinco”, comentam os pesquisadores. “Essas lesões conduziram em 49,5% dos casos a ocorrência de seqüelas temporárias ou permanentes, sendo que as áreas com maior proporção foram: os membros inferiores (55%), a face (52,2%), os membros superiores (48,1%) e a cabeça (47,8%)”.


Os tipos de lesões mais encontradas correspondiam em 69,3% dos casos a ferimentos, em 51,4% a fraturas, em 27,4% a hematomas e em 20,7% a traumatismos cranioencefálicos. Os estudiosos ainda destacaram que o número de óbitos encontrado foi relativamente baixo, mas chamam atenção para o número de vítimas com traumatismo cranioencefálico que faleceram: 85,7% do total de óbitos. A pesquisa também identificou os tipos de procedimentos cirúrgicos a que as vítimas de acidente foram submetidas. Aqueles que apresentaram números mais significativos foram: redução de fratura, craniotomia, fixação de fratura, limpeza mecano-cirúrgica, tratamento cirúrgico de fratura e suturas simples.


“O trauma provocado por acidentes de moto merece atenção, especialmente em relação ao planejamento de ações preventivas, assim como o controle de sua ocorrência no Piauí”, alertam os pesquisadores. “Sugere-se a integração entre as instituições de ensino superior, as empresas que utilizam serviços de motocicletas e os representantes das categorias profissionais envolvidas com esse tipo de transporte, a fim de ampliar a discussão e definir estratégias mais específicas de intervenção”.


Publicado em 8/9/2008.

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