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09/05/2011

As doenças crônicas no Brasil: encargos e desafios atuais


O quarto artigo, elaborado pela professora Maria Inês Schmidt, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil, e colegas discute os progressos feitos pelo Brasil no combate a doenças crônicas/não-transmissíveis (DCNTs). Embora, como em todos os outros países, a proporção de óbitos a partir de DCNTs em relação ao total de óbitos no Brasil continua a subir (72% em 2007), o país tem implementado uma série de políticas em que se observam taxas de mortalidade padronizadas por idade cairem a 1,8% por ano desde 1996, o que está dentro da faixa de 1-3% observado de 1970 a 2000 em países com alta renda, tais como a Austrália, Canadá, Japão, Reino Unido e EUA. Melhor acesso aos cuidados primários e muito melhor controle do tabaco são creditados como sendo as principais causas desta melhoria, composta principalmente do declínio das taxas de doenças crônicas cardiovasculares e respiratórias. No entanto, este progresso é ameaçado pelo aumento da prevalência de fatores de risco tais como obesidade, hipertensão e diabetes.


Distúrbios neuropsiquiátricos são os maiores contribuidores para a incidência de doenças crônicas no Brasil, com a estimativa de 10 a 20% de pessoas tendo depressão em algum estágio. Pesquisa em dez países desenvolvidos e 8 países em desenvolvimento revelou a metropolitana São Paulo como a detentora dos maiores níveis de depressão de todas as localidades estudadas. Devido ao envelhecimento da população, a demência está se tornando um grave problema de saúde, com estimativas de prevalência semelhantes às de países em desenvolvimento (5-9%) entre os idosos a partir de 65 anos.


Cerca de um quarto dos homens brasileiros e uma em cada seis mulheres brasileiras com 20 anos ou mais sofrem de pressão alta, subindo para a metade dos homens e mais da metade das mulheres com idade a partir de 60 anos. Apesar da queda de 31% na mortalidade por doença cardiovascular de 1996 a 2007, a mortalidade cardiovascular no Brasil continua alta, com o Suriname e a Guiana sendo os únicos países da América do Sul com taxas mais elevadas. O aumento dos níveis de obesidade e de melhor diagnóstico provavelmente refletem grande parte do aumento da prevalência do diabetes em adultos, de 3% dos brasileiros em 1996 para 5% em 2007.


Nos homens, as taxas de mortalidade por câncer de pulmão, próstata e câncer colorretal estão aumentando, enquanto que a de câncer gástrico está diminuindo. Nas mulheres, as taxas de câncer de mama, pulmão e câncer colorretal têm aumentado, enquanto os de câncer de colo do útero e estômago diminuíram. Variações na taxa de fumantes podem explicar porque as taxas de câncer de pulmão em homens com menos de 60 anos está agora em declínio, mas as das mulheres mais jovens estão aumentando. A incidência do câncer do colo do útero no Brasil, embora em queda, ainda está entre as mais altas do mundo, provavelmente devido ao fato de que muitas mulheres de alto risco ainda estão sendo rastreadas inadequadamente. Taxas de sobrevida em 5 anos para o câncer como de mama e de próstata são baixos em comparação com países de alta renda, sugerindo dificuldades e desigualdades no acesso aos serviços.


Os autores dizem que para manter o progresso mais ação é necessária. Estratégias que envolvam a discussão intersetorial ampliada e o planejamento são necessários para implementar e ampliar intervenções de custo-benefício — por exemplo, aqueles que reduzem o teor de sal dos alimentos e restringem propaganda de alimentos pouco saudáveis para as crianças — que podem ajudar a produzir um ambiente propício a escolhas de estilo de vida saudáveis.


Outros desafios importantes também devem ser enfrentados: a resolução de longas listas de espera para pacientes em hospitais para a assistência hospitalar e serviços de diagnóstico, a transferência de mais cuidados para condições crônicas para a atenção primária à saúde através de um modelo de atenção crônica, e ampliando o acesso aos medicamentos de custo-benefício.


Os autores concluem: "As DCNTs estão rapidamente se tornando a principal prioridade da saúde pública no Brasil, e políticas para sua prevenção e controle tem sido implementadas. Embora a avaliação formal ainda seja insuficiente, o SUS tem conseguido grandes avanços, entre eles a implementação de intervenções muito custo-efetivas, tais como controle do tabaco e oferta generalizada de medicamentos para aqueles com alto risco de doenças cardiovasculares. No entanto, muito mais pode ser feito... Uma mudança concomitante dos recursos, em termos relativos, do hospital e de alta tecnologia de cuidados da fase final para a promoção da saúde e a prevenção é necessária para aumentar o apoio orçamentário e uma coordenação central para a prevenção de doenças crônicas e cuidados."



Para ler o artigo 4 em português, clique aqui.


Publicado em 9/5/2011.

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