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24/01/2007

Assinado acordo para produção da vacina contra meningite AC

Flávia Lobato


Na semana em que começou o 2º Fórum Social Mundial de Saúde, que tem como tema África, o espelho do mundo, dois países em desenvolvimento uniram forças para atender a uma questão emergencial no continente mais pobre do planeta. A Organização Mundial de Saúde (OMS), o Instituto Finlay, de Cuba, e o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos) da Fiocruz acabam de assinar um contrato de desenvolvimento conjunto e transferência de informações técnicas para a produção da vacina meningocócica AC. A cooperação visa à produção emergencial da vacina para os países do chamado Cinturão da Meningite, na região do sub-Saara africano, devido ao cancelamento da produção do imunizante pelos laboratórios multinacionais. Com o objetivo de não descontinuar o fornecimento, a OMS solicitou a colaboração de Biomanguinhos e do Instituto Finlay. “É um acordo que visa um bem maior, que está sob a égide da solidariedade internacional”, disse o presidente interino da Fiocruz Paulo Gadelha. O Fórum Social Mundial de Saúde é um evento paralelo ao Fórum Social Mundial, que teve início neste sábado (20/01), em Nairóbi, no Quênia.


 A diretora do Instituto Finlay, Concepción Campa Huergo, o presidente interino da Fiocruz, Paulo Gadelha, e o presidente da Anvisa, Dirceu Raposo, na assinatura do acordo (Foto: Peter Ilicciev)

A diretora do Instituto Finlay, Concepción Campa Huergo, o presidente interino da Fiocruz, Paulo Gadelha, e o presidente da Anvisa, Dirceu Raposo, na assinatura do acordo (Foto: Peter Ilicciev)


Serão produzidas mais de 20 milhões de doses da vacina meningocócica AC para o período 2007/2008. A vacina será distribuída, segundo orientações da OMS, a países como Burkina Faso, Chade, Costa do Marfim, Mali, Niger, Nigéria e Sudão, em que a doença atinge índices elevados. Há possibilidade de uma demanda extra para fornecimento direto a esses países até o fim deste ano. o secretário nacional de Ciência & Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Moisés Goldbaum, destacou a importância da parceria: “O governo brasileiro tem empreendido esforços para desenvolver a competência científica e tecnológica nacional. Não se trata apenas de um intercâmbio latino-americano, mas de um evento marcante em que interesses políticos se sobrepõem aos econômicos”.


 Purificação de polissacarídeos, no Centro de Produção de Antígenos Bacterianos de Biomanguinhos 

Purificação de polissacarídeos, no Centro de Produção de Antígenos Bacterianos de Biomanguinhos 


O responsável pelo Estoque de Vacinas para Emergências da OMS, Alejandro Costa, apresentou um panorama da doença no sub-Saara, revelando nova tendência de crescimento. “Uma onda de meningite teria um grande impacto político na região, pois haveria muitas mortes num curto período e falta de antibióticos para combater uma epidemia”. No menos pior dos cenários traçados pela OMS, estima-se que 80 mil pessoas sejam afetadas no período 2007-2008, com cerca de 10% de casos fatais. As piores previsões indicam o dobro do número de casos da doença.


 Instalações de Biomanguinhos, no campus da Fiocruz (Foto: Ana Limp)

Instalações de Biomanguinhos, no campus da Fiocruz (Foto: Ana Limp)


Biomanguinhos e o Instituto Finlay dominam a tecnologia de produção de vacinas polissacarídicas contra os meningococos A e C. O acordo entre Brasil e Cuba viabilizará a produção em larga escala (a partir de março de 2007), possibilitando a distribuição de vacinas num curto espaço de tempo (até o fim deste ano) para combater o risco de uma epidemia de meningite AC. “Este acordo nos alça a um importante patamar tecnológico internacional. Os dois países têm condições de ter este espaço no cenário mundial”, afirmou o diretor de Biomanguinhos, Akira Homma. A diretora do Instituto Finlay, Concepción Campa Huergo,  lembrou a parceria de longa data entre Brasil e Cuba. “Este projeto (de combater o sofrimento na África) é um sonho romântico que mais uma vez compartilhamos juntos”, afirmou. “Trata-se de uma iniciativa importante e inovadora, em que dois países do Cone Sul se unem para atender uma demanda emergencial da OMS em nome da saúde pública de países pobres da África”.

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