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26/03/2013

Aves marinhas podem indicar contaminação ambiental

Isabela Schincariol


Utilizado como um indicador da saúde ambiental, uma ave marinha migratória que se alimenta de peixes e moluscos marinhos, como polvo e lula, foi o animal escolhido para a pesquisa de mestrado em saúde pública e meio ambiente O bobo-pequeno (Puffinus puffinus) como sentinela de saúde do Oceano Atlântico, apresentada na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). O trabalho, desenvolvido pela médica veterinária  Maíra Duarte Cardoso, buscou detectar diferentes tipos e níveis de contaminantes químicos e espécies de bactérias comuns em ambientes aquáticos a partir do bobo-pequeno. Segundo o estudo, o animal é um importante indicador do agravamento da contaminação ambiental e a consequente perda de sua qualidade.


 O bobo-pequeno (<EM>Puffinus puffinus</EM>)

O bobo-pequeno (Puffinus puffinus)





Em seu estudo, Maíra – que foi orientada pelo pesquisador Salvatore Siciliano – lembra que 60% da população humana mundial vive em áreas litorâneas e grande parte desta depende do mar para seu sustento. Ela ressaltou que o homem se encontra no topo da cadeia alimentar e tem a proteína de origem marinha como uma de suas fontes alimentares. Maíra comentou que, em virtude disso, “estamos cronicamente exposto a essas substâncias, uma das razões que justifica um estudo desse tipo para a saúde pública”.



Os Puffinus puffinus são aves marinhas migratórias de origem europeia. Elas vivem em uma região oceânica em que não dependem dos fundos marinhos, chamada zona pelágica. Suas colônias reprodutivas localizam-se no Atlântico Norte. É de lá que essas aves migram tanto para a América do Sul como para a África durante o inverno do Hemisfério Norte, sendo a costa brasileira um dos principais destinos.


De acordo com ela, a atual diminuição nas populações de bobos-pequenos determinou o início do estudo. “Esses animais podem ser indicadores importantes de mudanças climáticas e de saúde dos oceanos por atuarem em escala global. Aves migratórias, como um todo, em geral podem ser utilizadas para monitorar a abundância de peixes e a poluição. Portanto, “mudanças inesperadas em quantidade, na saúde e na reprodução desses animais, podem ser vistas como um guia de problemas relacionados à poluição ou ao suprimento de alimento. E como são predadoras, ocupando altos níveis da cadeia alimentar marinha, também são potenciais monitores de poluentes capazes de se acumular em diferentes níveis desta cadeia”, detalhou Maíra.


Metais acumulados em organismos aquáticos podem contaminar a cadeia alimentar


Maíra iniciou suas análises com os tecidos dos Puffinus puffinus. Com a pesquisa, a médica pôde detectar diferentes tipos de contaminantes químicos. A partir da coleta de amostras, explicou ela, foi possível isolar espécies de bactérias comuns em ambientes aquáticos. Além disso, em todos os espécimes analisados, foram detectados compostos organoclorados. “Com relação a estes pesticidas – que reconhecidamente causam impacto na saúde humana –, o grupo dos DDTs (substâncias neurotóxicas) foi o que apresentou os maiores níveis de contaminação. Já nas análises bacteriológicas, grande parte dos exemplares de bobo-pequeno apresentava contaminação por Vibrio spp. e Aeromonas spp. – espécies que podem provocar doenças”.


A médica veterinária explicou que “entre os agentes impactantes do meio ambiente, os metais se destacam atualmente em virtude de suas características serem persistentes no ambiente, perturbarem processos biológicos em função de sua acumulação e alta toxicidade a determinados processos metabólicos, e outros efeitos adversos que podem causar aos ecossistemas aquáticos”. Ela disse ainda que os metais tendem a se acumular em tecidos de organismos aquáticos, o que leva a grandes riscos de contaminação dentro da cadeia alimentar.


Publicado em 25/3/2013.

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