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27/01/2006

Bairro do Recife recebe 3,1 mil armadilhas contra mosquito do dengue

Bruna Cruz


O Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco, em parceria com a Secretaria de Saúde do Recife, deu início, no final de 2005, à terceira fase do projeto que visa desenvolver um modelo intensivo de controle do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, sem a utilização de inseticidas químicos. Cerca de 3.120 ovitrampas, armadilhas especiais, foram instaladas na área sul do bairro do Engenho do Meio, no Recife.


Na segunda etapa do projeto, que ocorreu de novembro de 2004 a maio de 2005, dois milhões de ovos foram coletados no local e incinerados, reduzindo em 60% no número de mosquitos que se desenvolveriam no bairro. "Queremos ver se essa redução ocorre ao trabalharmos com a distribuição massiva e mais concentrada das armadilhas em uma parte do bairro. Precisamos comparar os resultados da área tratada (sul) com os da área não tratada (norte) diante das mesmas variáveis socioambientais. Só assim podemos avaliar a real contribuição desta estratégia para o controle do mosquito", explicou Alice Varjal, pesquisadora do Departamento de Entomologia do CPqAM e responsável pelas atividades de campo do projeto, coordenado por Leda Régis, do mesmo departamento.


Para instalar as armadilhas, o estudo contou com a participação de profissionais do Centro de Vigilância Ambiental (CVA) da Secretaria de Saúde do Recife e de 70 soldados de batalhões do Exército da Região Metropolitana, que receberam treinamento específico para a atividade. "Apesar de o trabalho ser simples, se a armadilha não for instalada corretamente, isso pode interferir no desempenho da coleta de ovos", comentou Alice.


Em média, duas ovitrampas foram instaladas ao abrigo do sol e da chuva nas casas escolhidas. As que ficam no limite entre a área norte e sul do Engenho do Meio receberam cinco armadilhas, para servir de bloqueio em relação à área sem a proteção. Já os imóveis de grande porte, como escolas e clubes, ganharam, em média, dez ovitrampas. As palhetas serão trocadas a cada dois meses e as armadilhas permanecerão instaladas até o fim de julho, ampliando em dois meses o período da terceira fase do projeto em relação ao da segunda.


De acordo com Alice, isso ocorrerá porque o período de inverno corresponde ao momento em que os ovos que foram postos no verão, e estavam em dormência, se rompem e dão origem a uma enorme população do mosquito. "Acreditamos que, se as armadilhas estiverem em campo até o fim deste período, vão competir com criadouros naturais e poderão coletar uma grande quantidade de ovos do vetor", explicou. Os resultados do trabalho serão encaminhados para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Ministério da Saúde, financiadores do projeto.




População aprova método para controle do Aedes aegypti


A população dos bairros do Engenho do Meio (EM) e de Casa Forte e Parnamirim (CFP) aprovaram o uso das ovitrampas em suas residências. É o que aponta a análise preliminar resultante do trabalho que o Departamento de Entomologia do CPqAM realizou nesses bairros entre dezembro de 2004 e fevereiro de 2005. Os dados mostram uma aceitação de mais de 90% pelos moradores das áreas estudadas.


Dos 1.668 imóveis visitados no Engenho do Meio, apenas em 3,8% deles houve recusa na instalação das armadilhas, enquanto em Casa Forte/Parnamirim esse valor foi de 9,6%, para os 759 imóveis visitados. Os resultados da avaliação revelaram, ainda, que em 94% das ovitrampas do EM e em 100% das de CFP foram encontrados ovos do mosquito.


Embora no momento da contagem muitos ovos presentes nas palhetas estivessem abertos, não foram encontradas larvas ou pupas vivas. "Isso revela que larvas eclodiram em campo e que o larvicida biológico foi capaz de eliminá-las", comentou Éllyda Silva, que desenvolve o trabalho para sua monografia de conclusão do curso de ciências biológicas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).


De acordo com Alice Varjal, que orienta Éllyda, o estudo mostra que as ovitrampas são uma ferramenta de alta sensibilidade e grande aceitabilidade da população. "Essas são características importantes para garantir a sustentabilidade de seu uso em programas de controle do vetor da dengue, complementando a ação de outros métodos mais utilizados, como o uso de larvicidas biológicos em reservatórios de água e a eliminação de recipientes sem serventia, como tonéis, pneus, pratos de vasos de planta e garrafas plásticas, na qual a participação da população é fundamental", ressaltou.


 

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