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15/06/2005

Biólogo sugere ação conjunta com Saúde da Família para combater o dengue

Catarina Chagas


"O desafio do controle do dengue está na estratégia de atuação". Essa é a opinião do biólogo e entomologista Eduardo Dias Wermelinger, do Laboratório de Vetores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp). Segundo o pesquisador, os atuais programas de combate ao Aedes aegypti - mosquito transmissor da doença que, a cada ano, atinge centenas de milhares de brasileiros - não alcançaram a eficácia desejada. Para tentar solucionar o problema, ele sugere um novo modelo de controle: uma ação conjunta com o Programa de Saúde da Família (PSF) do Ministério da Saúde.


"Os programas de controle do dengue normalmente apostam na mobilização popular para reduzir os focos dos mosquitos, já que estes se encontram principalmente nos domicílios", conta Wermelinger. "No entanto, as campanhas maciças só conseguem grandes mobilizações quando as epidemias já estão instaladas. Nesses períodos, o controle depende da utilização de inseticidas". Para o pesquisador, o método de controle mais eficaz seria um manejo ambiental preocupado não só em eliminar os criadouros do A. aegypti, mas empenhado na redução das situações de risco para o surgimento de criadouros no espaço urbano.


Como tal método só poderia ser executado com um acompanhamento permanente dos domicílios, hábitos e comportamentos da população, surgiu a idéia de contar com o PSF. O programa, criado em 1994, acompanha o cotidiano de favelas e comunidades carentes durante todo o ano e, portanto, tem uma penetração maior na sociedade, o que seria estrategicamente importante para o acesso aos focos do mosquito. "Assim, venceríamos a maior dificuldade para o controle do dengue, que é o controle dos criadouros do A. aegypti", aposta o entomologista.


Wermelinger propõe que as equipes do PSF, além de cuidar da saúde dos moradores, passem a preocupar-se com a qualidade do ambiente em que eles vivem. Para isso, seria necessário capacitar as equipes com a presença de profissionais especializados na vigilância do A. aegypti e no manejo ambiental. "Essa estratégia seria mais eficaz e compatível com as diferentes realidades urbanas brasileiras, além de ajustável ao controle de vários outros vetores, como barbeiros, roedores e baratas", opina.


A implantação do novo programa de combate ao A. aegypti, entretanto, ainda pode demorar. "Embora grande parte da comunidade científica esteja em consenso quanto à ineficiência dos métodos de controle atuais, existem muitas opiniões distintas sobre as estratégias alternativas a serem adotadas", explica o biólogo. Os pesquisadores da Ensp trabalham, agora, na implantação experimental do novo método em algumas regiões do estado do Rio de Janeiro. "Nosso objetivo inicial será reduzir o dengue a níveis aceitáveis por meio do manejo ambiental, utilizando inseticidas somente em alguns casos. No futuro, poderemos pensar até na erradicação da doença no Brasil".

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