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03/11/2015

Bio-Manguinhos/Fiocruz representa Brasil em conferência mundial sobre resistência antimicrobiana

Isabela Pimentel (Bio-Manguinhos/Fiocruz)


O crescente aumento da resistência antimicrobiana perante os tratamentos com antibióticos tem se tornado um dos temas emergentes na saúde pública mundial. Para debater o assunto, representantes da indústria, instituições de pesquisa, órgãos de fomento e especialistas se reuniram, nos dias 19 e 20 de outubro em Washington, Estados Unidos. Coordenando uma mesa-redonda sobre anticorpos monoclonais como alternativa ao uso de antibióticos, o pesquisador do Laboratório de Tecnologia Recombinante (Later) e do Programa de Biofármacos de Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), Jose Procopio Moreno Senna, esteve no encontro representando o Brasil. 

“Em um contexto de escassez das fontes de descoberta de novas substâncias e aumento da resistência aos antibióticos, terapias alternativas precisam ser desenvolvidas. Me orgulha muito representar a Fiocruz e ver como a unidade é reconhecida internacionalmente por seu trabalho em prol da saúde pública”, declarou. Procópio lidera duas linhas de pesquisas com anticorpos monoclonais em Bio-Manguinhos,uma focada em estafilococos multirresistentes e outra emAcinetobacter baumannii, principais causas de infecções no ambiente hospitalar. “Na mesa redonda, todos concordaram que um dos passos para driblar a inexistência de um produto para combate a estas bactérias superresistentes seria considerar tais medicamentos como drogas órfãs, o que poderia acelerar as etapas das pesquisas e obter resultados mais eficazes”, detalhou. O microbiologista afirma que as dificuldades nos investimentos para novas drogas residem nos altos custos, o que tem levado a indústria farmacêutica a preferir trabalhar com moléculas já descobertas”, revelou.

Outros desafios são as complexidades da escolha do alvo, os mecanismos de ação do anticorpo, reprodução dos resultados obtidos no modelo animal em humanos e o desenho dos ensaios clínicos. "Para ter maiores chances de sucesso, o anticorpo monoclonal precisa ter atividade neutralizante, ou seja, de eliminar o patógeno sem depender do sistema imune do hospedeiro, uma vez que grande parte dos pacientes infectados por bactérias multirresistentes em hospitais apresentam-se imunodeprimidos", ressaltou. 

Cenário mundial

Em maio de 2014, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou o primeiro relatório global sobre a resistência bacteriana - Global Strategy for Containment of Antimicrobial Resistance. Segundo conclusão da OMS a resistência a antibióticos é uma "ameaça global" à saúde pública.

A análise de dados de 114 países sinalizou a situação alarmante frente a resistência bacteriana em todas as regiões do mundo. “Estamos no rumo da ‘era pós-antibiótico’, em que pessoas morrem de infecções simples que são tratáveis há décadas”, concluiu Keiji Fukuda, diretor-geral assistente da OMS para Segurança da Saúde, na introdução do relatório. Bactérias normalmente sofrem mutações até se tornarem imunes a antibióticos, entretanto, o uso rotineiro de antibióticos na criação de animais e, principalmente, o mal uso desses medicamentos - como prescrição desnecessária por médicos ou suspensão de tratamento por pacientes - faz com que isso ocorra mais rápido, ressalva o relatório.

A resistência a antibióticos está colocando pacientes em risco tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, à medida que bactérias responsáveis por diversas infecções perigosas desenvolvem resistência às substâncias que costumavam combatê-las.

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