Início do conteúdo

17/08/2009

Biomanguinhos, produção e inovação em vacinas


Fundado em 1976, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos) é a unidade técnico-científica da Fiocruz destinada ao desenvolvimento e produção de imunobiológicos — vacinas, kits de reativos para diagnóstico e biofármacos. Com a missão de elevar os padrões da saúde pública, o Instituto atua na área de inovação em saúde e biotecnologia oferecendo produtos para prevenir, diagnosticar e tratar doenças. Com papel estratégico para o Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde (MS) e para a consolidação do Complexo Industrial da Saúde no país, a unidade é um dos principais produtores públicos de vacinas da América Latina.


Além de vacinas, atua na fabricação de reagentes para diagnóstico de doenças como Chagas, leishmaniose, leptospirose, Aids e agravos causados por helmintos, como a esquistossomose. Na área de biofármacos, são produzidos dois importantes produtos: alfaepoetina e alfainterferona 2b humana recombinante. O portifólio de produção inclui ainda anticorpos monoclonais (proteínas usadas para detectar ou combater antígenos específicos no organismo) e painéis sorológicos (destinados a programas de controle de qualidade de testes sorológicos), entre outros itens.


Os imunobiológicos são produtos de alto valor agregado. Ao fornecer estes insumos para o Ministério da Saúde e seus diversos programas, Biomanguinhos contribui diretamente para garantir o direito à saúde, de forma igualitária. Além disso, gera economia, reduz a incerteza do fornecimento frente às oscilações do mercado e a dependência tecnológica externa.


Vacinas: prevenção e proteção


Biomanguinhos é o maior produtor público de imunobiológicos (vacinas, biofármacos, reagentes para diagnóstico laboratorial) da América Latina e desempenha papel estratégico para o Programa Nacional de Imunizações (PNI), garantindo o suprimento de produtos de alta qualidade, a baixo custo. Entre 2004 e 2008, forneceu ao Ministério da Saúde mais de 418 milhões de doses de vacinas.


Vacinas produzidas por Biomanguinhos/Fiocruz:


• febre amarela

• poliomielite

• meningite A e C

• sarampo

• caxumba e rubéola (tríplice viral)

• rotavírus

• difteria, tétano, coqueluche

• Hib (contra a bactéria Haemophilus influenzae tipo b, importante causadora de meningite entre outras doenças infecciosas)


Em 2005, nacionalizou a produção da vacina Hib, contribuindo para reduzir a dependência tecnológica do país. Com o mesmo propósito, firmou acordos para produzir as vacinas tríplice viral e para rotavírus humano. O Instituto já forneceu mais de 96 milhões de doses das vacinas adsorvida difteria, tétano, pertussis e Haemophilus influenzae b conjugada, mais de 115 milhões de doses da tríplice viral e cerca de 12 milhões de doses da vacina para rotavírus.


Biomanguinhos atua no cenário mundial, com a exportação de sua produção excedente. Desde 2001, é pré-qualificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a vacina para febre amarela atenuada (apresentações 5 e 50 doses) e, em 2008, tornou-se fornecedor qualificado para a apresentação 10 doses. Cerca de 60 países já se beneficiaram deste imunizante. Em 2007, foi pré-qualificado para exportar a vacina meningite A e C (10 doses).



Em 2001, foi pré-qualificado pela OMS como fornecedor internacional da vacina de febre amarela na apresentação 5 e 50 doses. Em 2007, foi pré-qualificado para exportar a vacina meningite A e C na apresentação 10 doses. No ano seguinte, tornou-se fornecedor qualificado da vacina de febre amarela na apresentação de 10 doses.



Reativos: diagnóstico rápido, preciso e seguro


Os kits de reativos para diagnóstico de Biomanguinhos integram programas públicos de vigilância em saúde, controle de agravos e endemias, garantindo rapidez, segurança e precisão para diagnosticar doenças como Aids, Chagas, leishmanioses, leptospirose e esquistossomose. Mais de 17 milhões de testes foram entregues, nos últimos cinco anos, ao Ministério da Saúde. Os produtos dispensam infraestrutura laboratorial, ampliando o acesso da população a exames e contribuindo para a detecção precoce de doenças.


O resultado do teste rápido para diagnóstico de HIV 1 e 2, que sai em apenas dez minutos, permite prevenir a transmissão de mãe para filho na hora do parto. Nacionalizado em 2008, o produto integra as ações do Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids. No mesmo ano, o Instituto lançou o Helm Teste, recomendado pela OMS para exame parasitológico de fezes, principalmente na investigação de esquistossomose. Registrado na Anvisa, o kit possibilita melhor diagnóstico e controle de qualidade com as lâminas e preparo mais fácil que o exame parasitológico. O portifólio inclui anticorpos monoclonais e painéis sorológicos.



Biofármacos: acesso à saúde e alta tecnologia


Desde 2004, Biomanguinhos desenvolve e produz biofármacos, que fazem parte do Programa de Medicamentos Excepcionais, uma parceria com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. A distribuição de biofármacos garante à população acesso gratuito a produtos de alta tecnologia e reduz o impacto econômico destas doenças.


A alfaepoetina humana recombinante produzida pelo Instituto destina-se ao combate da anemia em portadores de insuficiência renal crônica, pacientes com Aids medicados com AZT e pacientes oncológicos em quimioterapia.


Para o tratamento de doenças graves como as hepatites crônicas causadas pelos vírus B e C, Biomanguinhos fabrica a alfainterferona 2b humana recombinante. Em 2008, forneceu 7,5 milhões de frascos desses produtos.



Novos espaços


O Instituto investe continuamente na modernização de suas instalações e no fortalecimento da infraestrutura laboratorial. Está erguendo um dos pilares do desenvolvimento tecnológico no Brasil: o Centro Integrado de Protótipos, Biofármacos e Reativos — compondo a mais moderna planta de protótipos do país, com cerca de 15 mil m² de novas instalações laboratoriais. Sua inauguração está prevista para 2011. Nesse espaço serão produzidos os biofármacos (alfaepoetina humana recombinante, o antiviral alfainterferona 2b humano recombinante e interferon peguilado) e reativos de diagnósticos. O novo centro terá papel estratégico no desenvolvimento destes e de outros imunobiológicos, como vacinas virais e bacterianas.


Em 2004, foi inaugurado o Centro de Produção de Antígenos Bacterianos (CPAB), o mais moderno laboratório de vacinas bacterianas da América Latina. Já as obras das novas instalações do Centro de Produção de Antígenos Virais (CPAV) foram concluídas em 2007.


Em janeiro de 2009 foi iniciada a construção da Planta de Rotavírus do Instituto. A Planta terá 3.500 m2 de instalações laboratoriais e faz parte da expansão do Departamento de Processamento Final (DEPFI). Sua conclusão está prevista para 2012. O espaço será a sede do processamento final da vacina para rotavírus, desenvolvida pela unidade em parceria com a GSK. Quando a obra for concluída, a unidade realizará formulação, envase, inspeção e embalagem secundária da vacina. Nos quatro pisos previstos haverá um laboratório de produção, um de embalagem secundária e espaços voltados para atividades técnicas.

 

Histórico da parceria tecnológica entre Biomanguinhos e GSK


Na década de 1970, as vacinas contra o sarampo e poliomielite da SmithKline & Beecham  já eram utilizadas no Brasil. Nos anos 80, Biomanguinhos inicia suas primeiras negociações de transferência de tecnologia com essa empresa, denominada depois GlaxoSmithKline (GSK). Naquela década, o Instituto incorporou a tecnologia de produção da vacina de vírus vivos atenuados oral trivalente contra a poliomielite, por força de um acordo de cooperação tecnológica com Instituto de Pesquisa de Poliomielite do Japão. No entanto, com a disponibilidade internacional de concentrado viral, de alta qualidade e baixo preço, decidiu-se que o concentrado viral seria adquirido da GSK e, em Biomanguinhos, seria realizado o processamento final da vacina, com etapas de formulação, envasamento, controle de qualidade e rotulagem, e empacotamento. Esta atividade foi fundamental para o desenvolvimento de uma nova formulação da vacina de poliomielite, que foi decisiva para eliminação dessa virose no país - erradicada há 15 anos.


Hib


O primeiro acordo de transferência de tecnologia formal entre o Biomanguinhos e a GSK ocorreu em 1999 e permitiu que Bio iniciasse a produção da vacina conjugada contra Haemophilus influenzae tipo b (Hib). A tecnologia, na época da negociação, era considerada de ponta e apenas dois laboratórios no mundo produziam essa vacina.  Atualmente, a Hib é produzida combinada com a vacina DTP (difteria, tétano e coqueluche) - fornecida pelo Instituto Butantan - em um volume de produção que alcança 14.448.180 doses.


Em 2005, completou-se a transferência de tecnologia, com a produção nacional de todo o ciclo da vacina, quando foram produzidos três lotes de consistência do produto, utilizados para os estudos clínicos de não inferioridade - demonstrando que a vacina produzida localmente era similar a da GSK.


Os ganhos tecnológicos obtidos com a transferência de tecnologia vão além do produto nacionalizado. Permitiu a formação de pessoal técnico altamente especializado, o fortalecimento dos laboratórios de controle de qualidade e de todas as atividades envolvidas em apoio operacional e administrativo, além de desdobramentos tecnológicos para diferentes projetos de Biomanguinhos. Outra vantagem foi a economia de divisas para o Brasil, que não necessita mais importar o imunizante. Este, hoje, compõe a vacina tetravalente (DTP+Hib) e deverá compor a vacina pentavalente, cujo estudo clínico está em andamento. 


Sarampo, rubéola e cachumba


O Ministério da Saúde (MS), no processo de nacionalização de produção da vacina tríplice viral, solicitou que Biomanguinhos utilizasse para o componente caxumba a cepa Jeryl Linn. Essa orientação foi feita porque foram constatadas numerosas  reações adversas com a utilização de outras cepas na imunização para a caxumba. Para atender ao pedido do MS, a unidade procurou os dois laboratórios detentores  da cepa Jeryl Linn: a Merck Sharp & Dohme, que recusou discutir qualquer possibilidade de transferência de tecnologia,  e a GlaxoSmithKline,  que aceitou conversar sobre possibilidade de transferência. 


Depois de longa negociação, em outubro de 2003, Biomanguinhos e a GSK assinaram um acordo de transferência de tecnologia da vacina combinada de rubéola, sarampo e caxumba (chamada tríplice viral), até então o único imunobiológico presente no calendário básico de vacinação ainda importado pelo MS. A partir de 2004, foi iniciada a assimilação da tecnologia e a produção da vacina. Esse produto atende aos requisitos da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a fabricação de substâncias biológicas.


A cepa de caxumba utilizada na vacina é a mais aperfeiçoada do mundo. É indicada pelo MS para utilização no Programa Nacional de Imunizações porque apresenta menor reatogenicidade (tem menos eventos adversos), imunogenicidade e segurança significativamente superiores. Em 2008, Bio-Manguinhos produziu 18.966.110 doses deste imunizante e a previsão para 2009 é de 26.495.800 doses.


O processo de nacionalização de todas as etapas de produção está em andamento, com estimativa de produção dos três lotes de consistência (prevista para o final de 2009) e a realização dos estudos clínicos de não inferioridade (previstos para o primeiro semestre de 2010).


Rotavírus


O Ministério da Saúde decidiu, em 2007, incorporar a vacina para rotavírus no calendário básico de imunização. Em 2008, o Instituto e a GSK assinaram contrato de transferência de tecnologia para produção da vacina de rotavírus. A previsão é de que cerca de 50 milhões de doses da vacina sejam produzidas nos próximos cinco anos. A produção atenderá integralmente à demanda do Programa Nacional de Imunizações (PNI). A imunização destina-se a crianças entre dois e quatro meses de idade e o esquema de vacinação é feito em duas doses. Com a introdução da vacina, a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) estima que tenha havido uma redução de 29% nas hospitalizações por diarréia aguda em crianças menores de um ano em 2007.


A produção dessa vacina, em 2008, foi de 7.524.710 doses e a previsão para este ano é de 13.909.770 doses. Neste momento, Biomanguinhos está modernizando e preparando as instalações para assumir as etapas finais do processo de produção da vacina. A nacionalização completa das etapas de produção está prevista para 2013. Estima-se uma economia de, pelo menos, US$ 100 milhões em um prazo de cinco anos com a incorporação definitiva da tecnologia.


Publicado em 17/08/2009.

Voltar ao topo Voltar